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Matérias / Personagem

41 tiros fatais: Amadou Diallo, o imigrante negro que foi morto por policiais americanos

Indefeso e desarmado, o assassinato de Amadou gerou uma onda de protestos no Bronx. A resolução do caso, no entanto, só causou ainda mais indignação na população negra dos Estados Unidos

Fabio Previdelli Publicado em 07/07/2020, às 16h30 - Atualizado às 17h00

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Foto do estudante africano Amadou Diallo - Wikimedia Commons
Foto do estudante africano Amadou Diallo - Wikimedia Commons

Nas primeiras horas de 4 de fevereiro de 1999, um jovem imigrante africano chamado Amadou Diallo foi morto a tiros por quatro policiais do Departamento de Polícia de Nova York que estavam à paisana: Sean Carroll, Richard Murphy, Edward McMellon e Kenneth Boss.

Na ocasião, os quatro policias, todos brancos, dispararam um total combinado de 41 tiros, do quais 19 alvejaram o estudante nascido na Libéria. Por estar desarmado, indefeso e na porta de sua casa, o fato gerou uma onda de protestos sobre a extrema violência policial em regiões periféricas e contra negros no país. Apesar disso tudo, a resolução desse caso só serviu para gerar mais indignação.

Quem era Amadou Diallo?

Amadou Bailo Diallo nasceu na Libéria em 2 de setembro de 1975. Ele era o filho mais velho do casal Kadiatou Diallo e Amadou Saikou Diallo, que tinha outros três frutos: Laouratou Diallo, Ibrahim e Abdoul Diallo.

Amadou Diallo (direita fundo) junto com seus irmãos / Crédito: Divulgação/ AmadouDiallo.com

Nascido em uma família humilde, o menino era descrito como uma criança bem-educada, que adorava ler e que tinha cada vez mais o desejo de fazer uma faculdade, afinal, acreditava que a educação era fundamental para a realização de seus sonhos. Com isso, sempre incentivava seus irmãos mais novos a seguir o mesmo caminho.

Antes de partir para os Estados Unidos, Amadou viajou para muitos países diferentes com sua família e também por conta própria. Além da Guiné, Libéria, Togo e Tailândia, ele visitou França, Ásia e Japão; frequentou a Escola Internacional na Tailândia e depois o Instituto de Computação em Cingapura (afiliado da Universidade de Cambridge, da Inglaterra).

Amadou durante uma viagem / Crédito: Divulgação/ AmadouDiallo.com

Dedicado e esforçado, falava cinco idiomas: além da fluência em Fulani (o idioma nativo da Guiné), também se comunicava em inglês, francês, espanhol e tailandês.

A ida para os Estados Unidos

Em setembro de 1996, Amadou partiu para a América buscando a oportunidade de frequentar uma faculdade, deixando para trás somente um bilhete manuscrito para sua mãe com os dizeres: "A solução são os EUA. Não deixe meus irmãos e irmãs aqui".

O jovem africano acreditava piamente no sonho americano de que sua vida iria mudar completamente. Fã de Bruce Springsteen, fazia de Born in the USA seu lema de vida, mas uma reviravolta trágica fez com que outra canção do cantor descrevesse sua trajetória: American Skin (41 shots).

Amadou junto com sua mãe (esq.) e outra familiar / Crédito: Divulgação/ AmadouDiallo.com

Uma vez em Nova York, recusou ser ajudado por seus pais e parentes, pois queria deixá-los orgulhosos por alcançar seu sucesso por conta própria. Seu objetivo em imediato era se formar em ciência da computação, até que tudo mudou.

A morte de Amadou

Diallo vivia na 1157 Wheeler Avenue, no Bronx, junto com três colegas de quarto que também eram de Guiné. Na madrugada de 4 de fevereiro de 1999, estava no vestíbulo de seu prédio quando quatro policiais à paisana o abordaram, saíram do carro e atiraram nele 41 vezes. Dezenove balas o atingiram, matando-o instantaneamente.

Pessoas protestando no Bronx  após a morte de Amadou Diallo / Crédito: Wikimedia Commons

Os jornais informaram que os policiais patrulhavam as ruas à procura de um suspeito em uma série de estupros no Bronx, mas na verdade o último estupro havia ocorrido nove meses antes. Os vigilantes relataram que Amadou estava "agindo de forma suspeita" e que eles pensaram que ele havia puxado uma arma. Mas, na verdade, o jovem só carregava uma carteira e um pager, e procurava pelas chaves de seu apartamento.

O contraditório julgamento

Uma testemunha ocular relatou que os policiais atiraram no jovem negro sem nenhum aviso prévio, essa informação fez com que os protestos pela morte do estudante se tornassem mais intensos e necessários. Assim, em 25 de março de 1999, um grande júri do Bronx indiciou os quatro policias sob acusação de assassinato em segundo grau e perigo imprudente.

Entretanto, os advogados de defesa entraram com um pedido de desaforamento — transferir um processo de um foro para outro —, afirmando que os jurados do Bronx tendiam a ter preconceito contra os policias e que a publicidade excessiva em torno do caso comprometeria a opinião popular, o que, na visão deles, seria injusta contra os réus.

Com o pedido acatado, o que gerou uma série de controvérsias, o julgamento deixou a cidade de Nova York e foi remarcada para Albany, a 140 quilômetros de distância de onde o crime aconteceu. Em termos comparativos, o julgamento deixou o Bronx com uma população branca de apenas 19% para uma nova cidade onde a branquitude batia os 89%. Com isso, em 25 de fevereiro de 2000, após dois dias de deliberação, o júri absolveu os policiais de todas as acusações.

Uma placa de protesto pedindo justiça pela morte de Amadou Diallo / Crédito: Wikimedia Commons

Em abril de 2000, a mãe e o pai de Diallo entraram com uma ação de 61 milhões de dólares contra a cidade e os policiais, acusando-os de negligência grave, morte injusta, perfil racial e outras violações dos direitos civis de Diallo. A questão só foi resolvida quatro anos depois, quando seus familiares entraram em acordo com a cidade de Nova York e receberam o valor de 3 milhões de dólares.

Com parte desse dinheiro, sua mãe criou a Fundação Amadou Diallo, que oferece bolsas de estudo nos Estados Unidos para estudantes de ascendência africana. Segundo a página da instituição, os beneficiados do projeto são “um exemplo de que, apesar do país de origem ou da cor de sua pele, eles serão o futuro e servirão de modelos positivos para outros jovens das comunidades do país seguirem e que também podem seguir carreiras e ajudar a fortalecer suas comunidades como membros produtivos delas”.


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