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Matérias / Emmett Till

Emmett Till: o jovem negro brutalmente assassinado após uma falsa acusação

Aos 14 anos de idade, Emmett foi acusado de assobiar para uma mulher branca — e acabou perdendo a vida

Redação Publicado em 18/04/2020, às 09h00 - Atualizado em 13/02/2023, às 10h39

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Emmett Louis Till em 1954 - Wikimedia Commons
Emmett Louis Till em 1954 - Wikimedia Commons

A imprensa norte-americana anunciou ontem, quinta-feira, 27, a morte de Carolyn Bryant Donham, uma mulher de 88 anos de idade que, no passado, esteve envolvida em um dos casos mais chocantes da história dos Estados Unidos: a morte de Emmett Till.

A idosa, que passava por cuidados paliativos em razão de um câncer, faleceu no último dia 25, em um asilo localizado em Westlake, no estado de Ohio. Porém, como declarou Malik Zulu Shabazz, ativista do grupo Black Lawyers for Justice, em um comunicado, o legado da americana "será de desonestidade e injustiça”.

A morte de Carolyn Bryant encerra um capítulo doloroso para a família Emmett Till e para os negros na América. A parte trágica da morte de Bryant é que ela nunca foi responsabilizada por seu papel na morte do jovem Emmett Till, que é o mártir do Movimento dos Direitos Civis”, diz o comunicado, conforme informações da IstoÉ.

A seguir confira detalhes acerca do caso brutal.

Férias em Money

No verão de 1955, o jovem Emmett Louis Till foi passar as férias com seu tio, na pacata cidade de Money, Mississípi. Antes de partir, sua mãe, Mamie Till Bradley, alertou o filho dizendo que Chicago (cidade onde eles moravam) e Mississípi eram dois mundos diferentes. Assim, a mulher pediu para que Till se comportasse na frente dos brancos no sul.

As estatísticas sobre linchamentos nos EUA começaram a ser coletadas em 1882. Desde então, mais de 500 afro-americanos foram mortos dessa maneira somente no Mississípi.

As tensões raciais aumentaram após a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos de acabar com a segregação na educação pública. Muitos brancos detestaram essa decisão e o clima nas cidades do sul estava cada vez mais pesado.

Emmett garantiu que havia entendido o recado da mãe. Mal sabia o garoto que, após uma ida ao mercado em Money, na companhia de seus amigos, na tarde de 24 de agosto daquele ano, sua vida seria brutalmente interrompida.

Fatídico encontro 

Em 24 de agosto, ele e o primo Curtis Jones fugiram da igreja onde o tio-avô, Mose Wright, estava pregando e se juntaram a alguns garotos locais para irem até mercado Bryant comprar doces.

A mercearia era do casal Roy Bryant, de 24 anos e de Carolyn Bryant, 21 anos. Carolyn, que estava sozinha na loja naquele dia, afirmou que Till havia assobiado para ela.

Carolyn Bryant contou para as pessoas da cidade sobre o acontecido na loja e os boatos se espalharam rapidamente. Tudo piorou quando isso chegou aos ouvidos de Roy Bryant, um homem violento e impaciente.

Aparentemente, as piadas do menino, engraçadas em Chicago, norte dos EUA, não tinham a mesma conotação no Mississípi, um lugar marcado pela segregação e preconceito racial

Brutalidade

O assassinato ocorreu no dia 28 de agosto, quando Bryant e seu irmão, JW Milam, pegaram o carro, ao lado de sua esposa Carolyn, com o intuito de ensinar uma lição ao menino. Quando Carolyn identificou Emmett, os homens o colocaram na parte traseira de uma caminhonete e o levaram para uma cidade vizinha, onde mataram o garoto friamente.

Após ser espancado, arrancaram-lhe um olho e em seguida atiraram. Em sequência, jogaram o corpo do garoto no rio em outra cidade ao norte de Money. Emmett foi dado como desaparecido, até que, três dias após o sequestro, seu corpo foi encontrado extremamente desfigurado no rio Tallahatchie.

Os irmãos Bryant alegaram que aquele não era o corpo de Emmett e que as acusações eram equivocadas, no entanto, o garoto usava um anel que tinha ganhado de sua mãe um dia antes da viagem. Assim seu corpo foi identificado. Roy e JW, acusados pelo desaparecimento do menino, foram presos no início de setembro. Mas a justiça não duraria muito tempo.

Em 23 de setembro, numa sessão de apenas uma hora, o júri absolveu os acusados. Essa decisão gerou revolta, deixando diversos cidadãos negros indignados, provocando o aumento significativo do Movimento pelos Direitos Civis, principalmente em jovens.

A verdade veio à tona

Sessenta anos depois do crime brutal, Carolyn Bryant apareceu na mídia dizendo que a história que ela tinha contado em 1955, era uma mentira. No livro 'O Sangue de Emmett Till', o autor Timothy Tyson, um estudioso da pesquisa da Universidade Duke, revela que em 2007, Carolyn, aos 72 anos, admitiu que ela havia inventado seu testemunho, e que Till nunca se insinuou para ela. Porém, convenientemente afirmou que não se lembrava de mais detalhes daquela tarde de agosto.

A história de Till se tornou símbolo de resistência e luta para o movimento americano. Seu nome está em marcos espalhados por vários locais do Mississípi, para que o povo americano nunca se esqueça de tamanha injustiça. A morte influenciou para sempre a história de luta do movimento negro.

Caso revisitado

Por conta do livro, o caso foi reaberto em 2017 pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Apesar do testemunho dado a Timothy Tyson, parentes de Carolyn Bryant foram consultados pelos investigadores do caso e negaram que ela tenha dado tais declarações ao autor.

Segundo o Departamento de Justiça, a conclusão é de que há "provas insuficientes para provar que ela alguma vez disse ao professor [Tyson] que qualquer parte de seu depoimento era falsa".

Lápide de Emmett Till nos Estados Unidos/ Crédito: Getty Images

O departamento acrescentou que, “embora o professor afirmasse que havia gravado duas entrevistas com ela, ele forneceu ao FBI apenas uma gravação, que não continha nenhuma retratação”. Desta forma, em agosto do ano passado, a Justiça decidiu não indiciá-la.

A decisão do júri foi tomada apesar de novas revelações no caso, feitas por um grupo que vasculhou o porão Tribunal do Condado de Leflore em junho, descobrindo um mandado de prisão não cumprido para Carolyn, o então marido Roy Bryant e o cunhado J.W Milam.

Eles estavam sendo acusados do sequestro de Till em 1955, mas nunca chegaram a ser levados sob custódia. Na época, outros homens responsáveis pelo linchamento foram julgados por um júri totalmente branco e absolvidos no Mississípi.

Além disso, em um livro de memórias não publicado, obtido pela AFP, a mulher escreveu que o marido e Milam sequestraram o jovem e trouxeram-no para que ela pudesse identificá-lo no meio da noite, mas que tentou ajudá-lo mentindo, dizendo que não era ele. No entanto, Till teria tido que era ele quem os homens estavam procurando.

O filme

A história de Emmet Till foi adaptada para o filme 'Till - A Busca por Justiça', que esteve em carta em cartaz em diversos cinemas pelo país no início deste ano. Segundo a sinopse: 

"Se algo acontece com um de nós, acontece com todos nós. Veja como 'Till -A Busca por Justiça', a verdadeira história de Emmett Till e a busca de sua mãe por justiça em seu nome se juntaram. 'Till- A Busca por Justiça' é um filme profundamente emocional e cinematográfico sobre a verdadeira história da busca implacável de Mamie Till Mobley por justiça para seu filho de 14 anos, Emmett Till, que, em 1955, foi linchado enquanto visitava seus primos no Mississípi. Na pungente jornada de luto de Mamie transformada em ação, vemos o poder universal da capacidade de uma mãe de mudar o mundo".