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Matérias / Guerra Fria

MK Ultra: Quando a CIA usou LSD para controle mental

Realizando experiências com drogas em seres humanos, programa clandestino teve consequências devastadoras

Redação Publicado em 25/09/2019, às 12h00

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Uma péssima viagem - Shutterstock
Uma péssima viagem - Shutterstock

Sentado no banheiro, um policial com um martíni na mão observava através do espelho unilateral prostitutas e seus clientes tomando LSD num apartamento em San Francisco. Essa cena fazia parte de uma das pesquisas da CIA, em que o oficial George White, da divisão de narcóticos, pesquisava a ação de drogas psicodélicas para o governo americano.

A operação, com o nome sugestivo de Clímax da Meia-Noite, começou em 1960 e foi apenas mais uma das tentativas de a inteligência americana pesquisar o uso de drogas capazes de alterar o comportamento de pessoas.

Em seu apartamento, que ele alugou com o nome falso de Morgan Hall, George White avaliava o efeito de drogas como o LSD em indivíduos que não tinham a menor ideia de estarem sendo drogados, colocando a substância em bebida alcoólica, e também testava equipamentos de espionagem, como os espelhos unilaterais – que permitem que a pessoa por trás deles veja o que acontece.

George White / Crédito: Reprodução

O LSD, uma droga alucinógena que também provoca euforia, deixou as cobaias de White bem alteradas – riam muito, falavam sem parar, diziam ver objetos crescendo de tamanho e as cores mais fortes. Alguns deles ficaram tão perturbados que começaram a chorar de aflição, com medo de que a viagem não terminasse. White concluiu que os testes com drogas poderiam ser aplicados em interrogatórios e sugeriu o método à CIA.

Mas essa não foi a primeira vez em que o serviço de inteligência do EUA testou drogas em seres humanos. Em 13 de Abril de 1953, foi criado o Projeto MK Ultra, chefiado pelo químico Sidney Gottlieb. A CIA acreditava que os soviéticos estavam desenvolvendo pesquisas similares com drogas e técnicas de manipulação, e essa paranoia foi um pretexto para o uso de cobaias humanas nas pesquisas.

Começaram, então, a testar e observar viciados em drogas, prostitutas e criminosos. Como essas pessoas tinham problemas com a polícia, não procuravam as autoridades para denunciar os abusos sofridos.

Sidney Gottlieb, líder do projeto MK Ultra /
Crédito: Reprodução

Algumas delas eram os viciados em droga internados no Hospital Lexington, em Kentucky. Os pacientes se apresentavam como voluntários em troca de um pagamento em drogas de sua escolha – de uma qualidade raramente encontrada nas ruas, já que a CIA as comprava diretamente de laboratórios que sintetizavam LSD.

O diretor do Hospital Lexington na época, Harris Isbell, testava os limites dos voluntários, chegando a ponto de deixá-los sob o efeito de LSD por 77 dias consecutivos – isso mesmo, 77 dias de LSD! –, o que levava alguns pacientes a ter sintomas de paranoia e psicose.

Documento oficializando o projeto / Crédito: Reprodução

Os planos de intoxicar pessoas com drogas teria sido levado ao extremo com a ideia de envenenar chefes de governo inimigos dos Estados Unidos. Segundo uma reportagem do jornal inglês The Guardian, edição de 14 de agosto de 2001, a CIA queria intoxicar Fidel Castro, colocando sais de tálio – uma substância para matar ratos – na bebida do ditador cubano. A ideia, delirante, era infiltrar um agente no governo cubano e tentar pôr em prática a estratégia.

De acordo com o Guardian, isso foi planejado no fim do mandato de Dwight David Eisenhower, presidente entre 1953 e 1961. O contato com a substância causaria uma intoxicação que faria cair todos os pelos do corpo de Fidel, inclusive a famigerada barba. Isso, imaginavam os agentes, prejudicaria seu carisma. O departamento americano não levou esse plano adiante.

A CIA passou a usar o LSD em interrogatórios secretos na década de 1960. Mas em 1961 vazou o caso de um interrogatório na França. James Thornwell, um ex-soldado negro americano acusado de traidor por roubar documentos secretos, foi preso em Paris. Levado a um apartamento, James, então com 22 anos, foi confinado e torturado num quarto por seis semanas.

Como não revelava por que roubara os papéis, agentes deram a ele LSD em uma dosagem forte. O soldado ficou paranoico e teve um ataque de histeria. Nada falou e os agentes acabaram soltando-o. Em 1971, quando o LSD entrou na lista das substâncias proibidas pela ONU, a CIA deixou de usá-lo em experiências.

Anos depois, em 1977, o escritor John Marks, na época preparando seu livro sobre o MKULTRA (The Manchurian Candidate) solicitou uma pesquisa nos arquivos da CIA e a consequente liberação dos documentos porventura achados sobre o programa. Foram descobertas, então, seis caixas de documentos do MKULTRA no arquivo morto da CIA em Washington.

Somente nessas seis caixas havia referência a 149 projetos, inclusive um “manual de truques” para orientar os que administravam LSD e outras drogas a pessoas inocentes. Como disse um dos denunciadores do MKULTRA, Mark Zepezauer, apesar de isso ser somente uma pequena parte em relação ao que foi destruído, “a história que sobreviveu já é demasiado sórdida”.