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Matérias / Civilizações

9 genocídios generalizados praticados por governos autoritários

Desde o século 19, potências na Europa, na América e até na Ásia praticaram atrocidades contra povos tidos como inferiores

Redação Publicado em 24/07/2019, às 14h00

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Crédito: Reprodução
Crédito: Reprodução

Conheça 10 casos sangrentos de destruição de um povo ou uma etnia por parte de outro, com o intuito de aniquilação total de um grupo.

1. Genocídio filipino (1899-1913)

Em 1898, os EUA entraram em guerra com a Espanha e, ao vencerem, receberam Cuba, Guam e Filipinas. A ocupação desses territórios foi distinta e o caso das Filipinas, país do Sudeste Asiático, apesar de pouco conhecido, é um dos mais sangrentos processos neocoloniais do início do século 20.

A ocupação do arquipélago pelo exército americano desencadeou uma guerra conhecida como Guerra Filipino-americana e os estadunidenses utilizaram como estratégia bélica principal o holocausto étnico. Isso quer dizer que o exército invasor entrou em sua nova colônia com uma primeira missão de exterminar a maior parte da população original, múltipla em etnias, porém tratadas como bloco inferior ao WASP americano.

Vala para mortos / Crédito: Wikimedia Commons

Pelo comando do gal. Jacob Smith, ao exército foi indicado que ocupassem o máximo do território asiático enquanto se atirasse em qualquer filipino maior de 10 anos de idade. Calcula-se que cerca de 16.000 filipinos ligados ao exército ou à resistência foram mortos em batalha com os americanos, mas mais de 1 milhão de civis do país foram mortos pelas tropas de limpeza racial, reduzindo 1/9 da população das ilhas.

É importante entender que esse é o caso do uso do genocídio como tática de guerra contra populações coloniais. Os EUA, ao assumirem a guerra contra a Espanha, se colocaram na posição de supostamente ajuda aos filipinos para atingirem a independência. Porém, um ano depois da vitória contra o país europeu, o processo de extermínio já teria se iniciado nas Filipinas.

Com o decorrer da ocupação americana, é iniciada também uma estratégia (que depois será usada na URSS e na Guerra do Vietnam) que consiste em deslocar grandes populações para terrenos ermos sem capacidade de produção de alimentos, sentenciando milhares de famílias a morrer de fome.

 2. Colonização belga (1885-1962)

A colonização feita pela Bélgica na África Central foi marcada pela brutalidade das práticas e o uso empresarial da tortura e de extermínio como forma de manutenção de domínio. A princípio trata-se de três territórios centrais: Congo, Ruanda e Burundi. Inicialmente, as administrações coloniais belgas eram ligeiramente diferentes, mas todas são marcadas pelo trato da violência contra os habitantes.

Depósito de marfim coletado por escravizados / Crédito: Reprodução

Ruanda será marcada por um regime de segregação desenvolvido para beneficiar uma etnia minoritária tutsi e dominar o território, levando ao acirramento de um conflito étnico interno. Um das consequências deste processo será o massacre contra os tutsis que ocorrerá no país nos anos 1990.

Já o Congo Belga será marcado pela violência direta da ocupação europeia. O território foi, inicialmente, declarado propriedade de terra privada e cuja posse era de Leopoldo II, rei do país. Diante desta situação, mesmo com certas represálias da comunidade internacional, Leopoldo incitará um regime de exploração máxima, mutilação e tortura da população congolesa em nome da produção e extração de produtos naturais africanos que serão exportadas para a Europa.

Algumas das marcas das leis de Leopoldo foram a redução ao mínimo do pagamento e do alimento dos trabalhadores, o castigo pela mutilação de membros nos casos de não se atingir as cotas máximas de produção, a colheita das mãos, quando jovens tinham suas mãos cortadas e exibidas como troféus, o uso do castigo físico e da escravidão e, claro, execuções sumárias.

É muito difícil calcular o déficit humano causado pelo genocídio, mas é possível afirmar que passam dos 2 milhões de congoleses e que o processo deixa marcas econômicas e demográficas até hoje no país. É tido que todas as guerras internas que o Congo passa hoje são resultado das políticas coloniais que ocorreram até os anos 1960. Desde 1998, mais de 4 milhões morreram nesses conflitos.

3. Genocídios indígenas coloniais (principalmente século XIX)

Este processo é comum em diversas realidades no continente americano. Dos países envolvidos, se destacam o Brasil, a Argentina e os EUA. Trata-se do processo de ocupação do interior dos países, já independentes (colonização do território), o que desencadeará no massacre das diversas comunidades originárias americanas que não foram atingidas durante a colonização ibérica.

É o caso, por exemplo, da ocupação da Patagônia (Campanhas do Deserto), a invasão do Oeste Paulista contra os guarani ou a Marcha para o Oeste nos EUA, que levaram à morte de milhões de indígenas, além na aniquilação irreversível de diversas culturas.

Calcula-se que mais de 25 milhões de indígenas foram mortos só com as campanhas genocidas no interior dos EUA, abrangendo mais de 2 mil línguas e milhares de culturas independentes. 5.500 mortos só nas campanhas de 1834 na Argentina. Milhões anualmente ainda morrem na expansão agrícola no Brasil.

As Guerras indígenas nos EUA / Crédito: Reprodução

É importante compreender que esse processo, como foi no Brasil e na Argentina, foi impulsionado e patrocinado pelos governos dos países, associados a interesses ligados à indústria agrícola, a produção pecuária, mercado petrolífero e às campanhas de expansão das linhas ferroviárias.

O processo do genocídio vai envolver, principalmente nos EUA, a morte sumária de líderes, a violência pelo racismo, a mutilação, a escravidão, os campos de concentração e as marchas da morte (sentença para derrotados de guerra em que os mesmo têm que caminhar pelo deserto, levando-os à desidratação e à fadiga, além do esforço para matar, brutalizar, enfraquecer ou desmoralizar índios em todo esse processo) além das consequências da marginalização dessas pessoas, com a desestruturação familiar e o alcoolismo. Os Cheyenne, os Sioux e os Apaches, entre os mais atingidos pelas campanhas, foram levados à quase extinção pelo governo americano.

4. Holocaustos hererós e namaquas (1904-1907)

Este é considerado o primeiro genocídio do século 20, inaugurando toda uma época marcada por holocaustos raciais de proporções únicas. Trata-se do processo de ocupação do território chamado Sudoeste Africano Alemão, atual Namíbia, pela Alemanha Imperial.

Enforcados na Namíbia após batalha / Crédito: Wikimedia Commons

Os alemães, assim como os belgas, eram marcados entre as potências europeias pela sua brutalidade no trato colonial. As políticas genocidas dos alemães atingiram principalmente dois povos que protagonizavam a ocupação do sudoeste africano na época: os hererós, grupo bantu que chega à Angola, e os namaquas, do Sul da região.

O genocídio mescla táticas de guerra e de ocupação. Primeiro, foram confrontados os hererós, derrotados pelas tropas de von Trotha e levadas a caminhar sem rumo no deserto de Omaheke. Nesse processo levará à morte da maioria desse grupo por sede e inanição. Depois, os namaquas tentarão pegar em armas para resistir à ocupação alemã, mas será derrotada militarmente e levadas à outras marchas da morte.

Ao mesmo tempo, os alemães incitavam a morte de diversos africanos por infecções e problemas de imunidade causados pela contaminação de poços e fontes d’água como forma de eliminação maciça e facilitada das populações. Calcula-se que cerca de 60.000 foram mortos entre os hererós (equivalente a 70% de sua população) e 10.000 entre os namaquas (50%).

5. Genocídio armênio (1914-1923):

Armênia fazia parte do antigo Império Otomano, rede multicultural centralizado pela Turquia. Graças às características dessa potência central, de identidade muçulmana, os armênios, cristãos ortodoxos e não turcos, eram marginalizados e não participavam dos circuitos culturais e indenitários capitaneados pelos turcos.

Porém, a religião armênia os colocava em uma aproximação muito maior com a Rússia, potência regional declaradamente ortodoxa, porém com outra identidade étnica (eslava). A proximidade artificial existente entre armênios e russos colocava os primeiros ainda mais em uma situação de marginalidade e repúdio por parte da capital do império. Quando a Primeira Guerra começa e os Otomanos declaram guerra à Rússia, essa relação de conflito vai se acirrar.

Onda de armênios sendo levada aos campos de trabalho / Crédito: Wikimedia Commons

Se utilizando da desculpa do perigo sobre a segurança nacional, colocando a ameaça eslava como associada à presença turca no império, o governo turco inicia campanhas de repressão, expulsão, perseguição, deportação, tortura e assassinato de membros da cultura armênia, em um claro esforço de genocídio étnico.

Os grupos de extermínio eram associados a Behaeddin Shakir, comandando das tropas extraoficiais lançadas para a campanha, e Zia Gokalp, um dos líderes dessas campanhas, era adepto à proposta do pan-turquismo, uma ideologia que visava a criação de um Império Otomano composto só de turcos e com essa coesão cultural e étnica que exigia o extermínio das outros grupos que compunham o território imperial.

Por mais que as autoridades turcas hoje tentem reduzir o número, se calcula que um contingente de mais de 1 milhão e meio de armênios civis foram mortos durante as campanhas turcas. Porém, os eventos de extermínios ocorridos entre 1920 e 1923, após a Guerra, não foram bem contabilizados e podem aumentar este número.

6. Holodomor (1932-1933)

O caso do Holodomor, ou Grande Fome Ucraniana, envolve os anos de expurgo e coletivização forçada da terra durante o governo de Joseph Stálin na URSS. Trata-se de um processo intencional de criação de fome e miséria na Ucrânia realizada pela potência central russa nos primeiros anos de deskulakização da população, somada a um possível argumento racial envolvendo o processo de russificação da União Soviética.

O processo, portanto, envolve a campanha stalinista de implementação forçada da planificação econômica no campo, criando uma disputa quase bélica entre os esforções moscovitas e os kulaks ou pequenos proprietários de terra do interior.

Diante do fervor revolucionário, a política stalinista era a de unificar e fechar a URSS em um único governo, para o desenvolvimento do socialismo real e da industrialização.

Para tanto, Stalin criou uma rede de policiamento com o intuito de reduzir ao máximo qualquer tipo de oposição e disciplinar a população para a nova era coletiva. Ao mesmo tempo, Stalin inicia uma campanha pela unidade entre os soviéticos a partir da identidade russa, o que vai criar um grande atrito entre os ucranianos, que se compreendem etnicamente distintos dos russos.

Crianças ucranianas desnutridas / Crédito: Wikimedia Commons

Porém, esse genocídio não partiu de táticas de guerra. Como a Rússia comandava a circulação de produtos e alimentos na rede soviética, o plano envolveu justamente o fluxo de grãos para alimentação de regiões mais periféricas (a Ucrânia foi a mais afetada, mas o Holodomor foi uma campanha aplicada a 6 regiões da URSS).

A Rússia, basicamente, vai cortar o fluxo de pães e grãos que eram encaminhados para a Ucrânia, de modo intencional como método de extermínio, gerando crises extensivas de fome e desnutrição no país. O cálculo de mortos é bastante difícil, assim como o acesso aos arquivos do governo Stalin, e muitas vezes, por se tratar de uma experiência socialista, os dados são exagerados por motivos ideológicos. Mas, em geral, estima-se que mais de 2,4 milhões de pessoas morreram nas crises de fome que foram criadas no território soviético.

7. Holocausto nazista (1933-1945)

Este deve ser o mais famoso. Trata-se do processo oficial do Estado Alemão de limpeza étnica e criação de campos de trabalho forçado durante o governo do Partido Nazista entre os anos 1930 e 40. Houve, no processo, um enfoque ideológico no extermínio aos judeus. Porém, o holocausto nazista levou à morte de diversos grupos de oposição ao regime hitlerista, como ciganos, negros, comunistas, anarquistas, árabes, homossexuais e até testemunhas de Jeová.

O antissemitismo alemão, longe de ser uma invenção nazista, era uma ideologia antiga na Europa. O nazismo, porém, foi responsável pelo desenvolvimento oficial e estruturado a nível industrial de uma campanha pela morte desses grupos, levando à animalização de grupos étnicos e a celebração de uma hegemonia da raça ariana superior, ideologias que vão ter aval institucional com as leis de Nuremberg em 1935.

Judeus alojados em campo de concentração / Crédito: Reprodução

Hitler ascende ao poder em 1933 e inicia já sua campanha pelo extermínio racial. Como a Alemanha era um país estratégico e o nazismo combatia o avanço comunista na Europa, pouco se fez para conter o genocídio na Alemanha até a Segunda Guerra. Com o desencadeamento da guerra e a invasão da Polônia (onde cerca de 75% da população judia foi exterminada), a rede articulada de propagação e atuação do holocausto vai se expandir, chegando ao Leste europeu (região cheia de judeus e eslavos, considerados inferiores), à França e à África.

Com o desenvolvimento da Guerra, os campos de concentração e trabalho e os guetos urbanos assumem papel central no movimento pelo holocausto judaico. Porém, é em 1942 que há um ponto de virada no holocausto: devido ao esforço de guerra, o enfoque articulado com a eliminação das raças inferiores se fazia desnecessário. É neste ano, em Wanssee, que é pensado a ideia de Solução Final, movimento pela eliminação industrial dos inimigos de raça, delineando os assassinatos em massa dos territórios ocupados pelo Reich sob o comando de Adolf Eichmann.

O holocausto (ou Shoá, na narrativa hebraica) vai durar até 1945, quando a ocupação da Alemanha pelos soviéticos e aliados vai iniciar a campanha de liberação dos campos de extermínio. Cerca de 6 milhões de judeus foram mortos no processo, além de mais de 3 milhões de ativistas ligados à esquerda, 2 milhões de poloneses, 12 milhões de eslavos, 1,5 milhão de ciganos, 3 milhões de soviéticos e 10.000 homossexuais. Os dados não envolvem mortes em batalha, somente o extermínio intencional nas redes de assassinato.

8. Fomes na Índia (1958-1949)

A ocupação britânica na Índia foi mais um dos clássicos domínios ultramarinos na era do neocolonialismo. Entre o século 19 e o 20, o Império Britânico era o maior dominador de territórios pelo Terceiro Mundo, se estendendo por todo o globo. Uma das principais posses do Reino Unido foi o Raj Britânico, domínio da Índia, em que foi comum passarem por crises estendidas de fome que levaram a morte de milhões.

Mãe e filho desnutridos em Bengala / Crédito: Wikimedia Commons

Muitas das fomes generalizadas no Oeste indiano envolveram uma soma entre implicações naturais e negligência administrativa. A Índia, nessa época, vai passar por uma série de secas prolongadas que levarão a uma crise produtiva de alimentos.

Porém, esse processo não seria suficiente para uma crise de fome, se não houver a negligência de se ignorar essas problemáticas e impedir o desenvolvimento infraestrutural para distribuição de alimentos e água, como fez a Inglaterra. Desde o início da ocupação, os hindus e muçulmanos da Índia eram tratados pelos colonizadores como seres inferiores que não valiam o esforço nacional.

Porém, esse processo vai se agravar durante a Segunda Guerra Mundial, quando Winston Churchill, no governo do Parlamento, vai iniciar um processo de retirada da comida do território colonial e encaminhamento dos grãos para suprir as tropas britânicas que combatiam os alemães.

De modo intencional, Churchill acabará com todo o suprimento alimentar dos indianos (seres que sequer mereciam a vida devido sua inferioridade, segundo o primeiro-ministro) e induzirá, só no ano de 1943, a morte de mais de 3 milhões de indianos.

Esse tipo de problema só será resolvido com a independência e a formação de um governo autônomo na Índia. Pensando na dependência territorial indiana ao Reino Unido, cerca de 18 milhões de indianos morreram por razões relacionadas às crises de fome e insalubridade fomentadas pelo colonialismo.

9. Massacre contra os curdos (1986-1989)

Conhecida como Operação Anfal, este genocídio foi incitado pelo governo do Iraque contra as populações curdas, grupo social e étnico que ocupa desde a Síria até o Irã e que, em grande maioria, se opunha ao governo e apoiava os iranianos durante a guerra Irã-Iraque. A campanha de extermínio desse grupo parte do governo do então ditador baathista Saddam Hussein que indicou o primo Hassan al-Majid como comandante militar da Operação.

Desde a Revolução ocorrida em 1979 no Iraque, o país é governado por Saddam, membro do partido laico e nacionalista Ba’ath. O líder, que fechará os poderes em torno de si mesmo, iniciará um processo em busca da aliança entre os países árabes e a “arabização” das noções, em conjunto à Síria, o Egito e os Emirados.

Porém, o Iraque é um país de diversas identidades étnicas e uma delas é a curda, cujos integrantes fundam o Curdistão que, por mais que não seja autônomo, é um ponto fulcral de resistência contra a ditadura de Hussein e o Estado árabe iraquiano.

Mãe e filha mortas por armas químicas em Halabja / Crédito: Reprodução

Em 1986, al-Majid incia a campanha militar de ocupação e extermínio do Curdistão iraquiano. As campanhas de al-Majid vão fomentar uma série de bombardeios, batalhas, destruição de povoados, incêndios clandestinos, deportações em massa, fuzilamentos em massa e guerras químicas contra a população curda. Um dos casos mais famosos foi o Massacre de Halabja, onde o uso de armas químicas pelo governo iraquiano levou à morte de mais de 5.000 civis curdos.

Em plena guerra, o extermínio dos curdos foi um movimento intencional e genocida, implicando um crime de guerra contra a humanidade. As iniciativas militares e os campos de refugiados criados para conter as populações em oposição à Operação levarão à morte estimada de  mais de 15.000 pessoas, 17.000 desaparecidos e um número inestimável de afetados pelas campanhas da ditadura.

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