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Matérias / Arte

A artista que ficou à mercê do público por seis horas — o resultado foi assustador

Ritmo 0, uma performance artística que ficou para a história por revelar o crueldade da natureza humana

Ingredi Brunato Publicado em 05/08/2020, às 19h15

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Marina Abramovic em sua performance artística Ritmo 0 - Divulgação/Youtube
Marina Abramovic em sua performance artística Ritmo 0 - Divulgação/Youtube

Marina Abramovic é uma artista performática que deixou sua marca na história. Hoje com 73 anos de idade, ela tem uma carreira repleta de performances tão marcantes quanto controversas. Frequentemente com trabalhos que levam o corpo humano ao limite, sendo esse corpo o dela mesma, Marina colocou muitas vezes sua arte acima de seu bem-estar. 

É o caso de Ritmo 0, sua performance mais famosa e mais polêmica. Nela, a artista ficou um total de seis horas exposta ao público, para que ele interagisse com seu corpo como bem entendesse. Durante o episódio, 72 itens foram disponibilizados, dentre esses alguns tipos de alimentos, perfumes, penas e flores... Mas também correntes, pregos, lâminas, uma barra de metal e o mais extremo de todos: uma arma carregada. 

Mesa com objetos que seriam usados na performance Ritmo 0. Crédito/ Flickr 

O espetáculo

Era o ano de 1974, e Marina tinha apenas 28 anos quando realizou essa performance em que levou o conceito do corpo como objeto artístico ao seu limite. Não havia qualquer restrição em relação para o uso dos outros objetos em si, nem mesmo para a arma. A artista contou em uma entrevista já em idade avançada que não queria morrer. Não era nisso que se interessava, e sim em descobrir os limites do corpo humano, física e mentalmente falando. 

“Até então, o trabalho do artista performático era considerado ridículo. Era considerado exibicionista, algo que só buscava por atenção. Eu estava realmente cansada desse tipo de crítica”, relembrou Marina Abramovic em entrevista. A artista prossegue explicando que queria descobrir até onde o público iria, uma vez colocado nessa situação. 

Da gentileza à violência 

A princípio, as pessoas reagiram de forma tímida. Os fotógrafos da galeria foram os únicos que se aproximaram. Quando as primeiras interações começaram, elas foram gentis - abraços, beijos, uma rosa sendo oferecida. No entanto, não demorou muito para o clima do ambiente mudar, e Marina Abramovic passar a ser torturada por seu público.

As mesmas lâminas que foram usadas para retalhar suas roupas, serviram depois de instrumentos para ferir a pele da artista, que permaneceu sem esboçar emoções, dedicada à continuar sua performance.

Palavras foram rabiscadas no seu corpo, correntes pesadas penduradas em seu pescoço, e líquidos derramados sobre sua cabeça. O ponto de máxima tensão chegou quando um membro da plateia colocou a arma carregada na mão de Marina, com o cano apontado para o próprio rosto, e o dedo posicionado sobre o gatilho. 

Nesse momento, um dos galeristas interferiu, retirando a arma do ambiente. Porém isso não finalizou os abusos, que prosseguiram até o momento que foi anunciado o fim da performance. Quando aquelas seis horas afinal terminaram, Marina Abramovic levantou-se da cadeira onde havia sido sentada, seminua e sangrando, e começou a caminhar na direção da plateia, que correu dela. 

Aprendizados para a arte performática 

Mais tarde, a artista comentaria que eles tiveram medo de um confronto real. Enquanto ela era um objeto, ninguém tinha problema em agredi-la, mas quando voltou a ocupar o status de pessoa, aquele comportamento já não era aceitável.

“O que eu aprendi foi que se você deixar para o público, eles podem matá-lo... Eu me senti realmente violada: eles cortaram minhas roupas, enfiaram espinhos de rosa no meu estômago, uma pessoa apontou a arma para minha cabeça e outra a levou embora. Criou-se uma atmosfera agressiva”, conclui Marina Abramovic.