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Matérias / Personagem

De perdas a fuga para o Brasil: a emocionante saga de um sobrevivente do Genocídio Armênio

Os autores da obra 'Uma História Real do Genocídio Armênio: Os diários do meu avô', Marcelo Arakelian e Roberto Abdallah, revelaram ao site Aventuras na História, como o avô sobreviveu ao brutal episódio

Victória Gearini | @victoriagearini Publicado em 23/01/2021, às 10h34 - Atualizado em 27/05/2022, às 08h00

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Artin Arakelian, sobrevivente do  Genocídio Armênio - Divulgação / Editora 1915
Artin Arakelian, sobrevivente do Genocídio Armênio - Divulgação / Editora 1915

Há 106 anos, o mundo presenciou uma desenfreada matança, que mais tarde, ficou conhecida como Genocídio Armênio. O dia 24 de abril de 1915 foi eternizado na memória dos povos armênios, tornando-se uma data simbolica, regada de luta e resistência contra as atrocidades cometidas no passado pelos turcos. 

De acordo com dados coletados pelo Patriarcado Armênio, durante os insólitos anos deste genocídio, mais de 1,4 milhão de pessoas foram brutalmente assassinadas pelo governo otomano. Contudo, ainda hoje os turcos e outras potências internacionais não reconhecem como genocídio a matança contra os armênios.

Contexto histórico

Entre 1895 e 1922, diferentes regiões da Turquia enfrentaram perseguições e homicídios em massa. Contudo, foi durante a Primeira Guerra Mundial — e até mesmo após o conflito — que os índices de violência contra os armênios se intensificaram de maneira exponencial. 

Após o nacionalismo radical defendido pelos Jovens Turcos tomar o poder do então Império Otomano, que englobava a Turquia, Armênia, e partes do Líbano, Síria, Iraque e Palestina, a situação dos armênios piorou de forma exacerbada.

À frente do governo estava Mehmed Talaat Pasha, o ministro do Interior, que ordenou a prisão e a execução de 250 intelectuais e líderes armênios, iniciando no dia 24 de abril de 1915, o que mais tarde ficaria conhecido como o Holocausto Armênio.

Restos mortais das vítimas / Crédito: Wikimedia Commons

“Diferentemente do Holocausto Judeu, os turcos foram mais estratégicos no sentido de manter o sigilo e discrição dos planos de extermínio. Eles foram mais inteligentes que os nazistas, pois foram dissimulados nas informações dos fatos, e invertem o polo das histórias até os dias de hoje, através de ataques na internet, haters e rede de fake news”, explicaram Marcelo Arakelian e Roberto Abdallah, autores da obra 'Uma História Real do Genocídio Armênio: Os diários do meu avô'.

Em um primeiro momento, idosos, mulheres e crianças supostamente tinham o direito de ser transportados, no entanto, há relatos que diversos barcos foram afundados durante a travessia marítima.

Já nas aldeias remotas — onde o número de testemunhas era menor — mulheres eram estupradas, crianças crucificadas e até partos prematuros eram feitos pelo exército otomano.

Mais tarde, as comunidades armênias que surgiram ao redor do mundo, foram consequências da diáspora deste povo, que para sobreviver, buscou refúgio em diferentes lugares do globo. 

“O negacionismo é a principal razão pela qual o Genocídio Armênio é pouco divulgado. A posição estratégica da Turquia na geografia mundial, exerce pressão sobre as nações mundiais para que não toquem nessa 'ferida', consequentemente muitos países não reconhecem esse fato histórico”, complementaram os escritores.

Os relatos de um sobrevivente

Diante das barbáries cometidas pelo governo otomano, vítimas armênias traçaram uma longa e árdua jornada em busca de sobrevivência. Uma dessas pessoas foi Artin Sarkis Arakelian. Sua emocionante história foi contada na obra 'Uma História Real do Genocídio Armênio: Os diários do meu avô', escrita pelo próprio sobrevivente.

Organizada e traduzida pelos netos do autor, o cineasta Marcelo Arakelian e o produtor audiovisual Roberto Abdallah, esta obra reconstitui em detalhes a dolorosa saga enfrentada pelo sobrevivente ao lado de sua família.

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Uma História Real do Genocídio Armênio: Os diários do meu avô, de Marcelo Arakelian e Roberto Abdallah (2020) / Crédito: Divulgação / Editora 1915

Nos estágios iniciais da Primeira Guerra Mundial, o até então adolescente Artin Arakelian, foi obrigado a sair do vilarejo onde vivia, na cidade de Marash.

Ao lado do seu pai, Sarkis Arakelian, da sua mãe, Lucia Arakelian, e de seus sete irmãos, o rapaz enfrentou uma longa jornada em busca da sobrevivência. 

Durante os anos do genocídio, um irmão, uma irmã, três tios, o pai e vários outros parentes distantes e colegas foram mortos pelos turcos ou não conseguiram sobreviver as péssimas condições de vida. 

Para Roberto Abdallah, um dos momentos mais emblemáticos da obra foi a morte de Sarkis Arakelian, pai de Artin Arakelian. 

“Levantei-me e me aproximei, quando agachei para carregá-lo, senti que estava gelado e muito pálido, não queria acreditar, mas meu pai estava morto, já não estava mais respirando, estava todo machucado. Eu não podia falar com os soldados, senão eles me matariam também. Esperei por muito tempo e ninguém aparecia, então fui até o soldado, falei que meu pai estava morto, ele foi ver e disse para eu me livrar do corpo o mais rápido possível, senão eu iria ter problemas”, trecho retirado da página 103 do livro. 

Ao longo de dois anos, todos os dias Artin travou uma verdadeira batalha para sobreviver. Do Sol Nascente ao Sol Poente, o jovem de 15 anos enfrentou uma longa e perigosa jornada atravessando a Europa e o Oriente Médio. Entretanto, o mais difícil foi enfrentar a escuridão e o silêncio da noite, conforme ele revelou em seus escritos. 

Em todas as passagens da obra é inevitável não sentir a emoção transmitida através das palavras. Em um episódio, o autor revela que sua irmã pequena se perdeu na guerra e os demais membros da família que sobreviveram foram obrigados a partir. Tempos depois, a garota foi localizada e retornou ao lar. 

No entanto, segundo Marcelo Arakelian e Roberto Abdallah, a irmã de seu avô carregou o trauma para o resto de sua vida. De acordo com os netos de Artin, a sobrevivente desenvolveu problemas psicológicos, devido as cicatrizes do genocídio.

Um recomeço no Brasil

Ao retornarem para o seu vilarejo de origem, o autor passou a trabalhar nas plantações da chácara de um senhor turco, seus irmãos arrumaram empregos e dormiam no orfanato. Já sua mãe, trabalhava vendendo roupas. Sem um lar fixo, a família precisou se adequar a nova vida. 

"Em 1918, as coisas ficaram mais calmas, a guerra finalmente acabou. Para os armênios que sobreviveram, foi permitido retornarem para suas casas. Alguns conseguiram reaver as propriedades e começaram a carpir a terra para preparar as plantações", trecho retirado da página 118. 

Sob escolta dos franceses, diversos armênios foram transportados para os portos, onde puderam escolher para onde desajavam migrar. Com a ajuda da França, muitas vítimas encontraram a oportunidade de recomeçar, como foi o caso da família Arakelian.

Ao chegar no porto de Santos, Artin partiu em direção à São Paulo, onde a adaptação foi rápida, porém difícil. Logo se acostumou com o idioma. Como os armênios têm a tradição de serem ótimos negociantes, estabeleceu-se em uma área comercial da capital, onde sustentou uma base econômica para as próximas gerações.

No Novo Mundo, o refugiado casou-se e teve filhos, mas o fardo de sobreviver ao dia a dia de um genocídio o marcou até seus últimos anos de vida, como apontou Marcelo Arakelian e Roberto Abdallah.

O legado 

Ao longo de sua vida, Artin dedicou-se a escrever um diário. Através das páginas, relatou todos os horrores que presenciou durante a Primeira Guerra Mundial. O sobrevivente contou, ainda, seus sentimentos mais profundos sobre os anos que precederam o Holocausto Armênio. 

Os escritos originais foram entregues por Sarkis Arakelian, pai de Marcelo. “Entre umas e outras conversas ele me chamou de canto e entregou os caderninhos originais, abri na primeira página, li e fiquei em choque com as primeiras frases”, disse Roberto Abdallah.

Sobreviventes do Genocídio Armênio / Crédito: Getty Images

Segundo os tradutores, o avô faleceu quando ainda eram crianças, mas isso não foi um empecilho para que uma forte relação fosse estabelecida de alguma maneira mais tarde. “Através dos anos de transcrição, tradução e adaptação dos materiais dos diários, podemos estabelecer uma profunda conexão com ele”, revelou Roberto e Marcelo.

Durante três anos, os primos mapearam todas as regiões citadas no diário, e pesquisaram minuciosamente os fatos relatados na obra. Neste período, os autores passaram a se reunir todas as quartas-feiras e ao longo de 6 a 7 horas de trabalho, acendiam incensos e escutavam músicas armênias para ajudá-los no processo de criação do livro. 

“Foi um processo bastante chocante e emocionante ao mesmo tempo, tratando de um tema pesado e da nossa essência, só de imaginar que estamos aqui hoje por conta do nosso avô e sua resistência”, disse Roberto.

Atualmente, os autores estão otimistas quanto ao possível lançamento de um filme sobre o tema. “Com a conclusão do livro, boa aceitação dos leitores e da mídia, iniciamos conversas com algumas plataformas de streaming para a produção de um documentário que se passa nos locais das histórias contadas na obra”, anunciaram os promissores autores.


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