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Matérias / Curiosidades

Da rainha Elizabeth I a Michelangelo: conheça a História da fofoca

Considerada um dos hábitos mais antigos da humanidade, a fofoca foi responsável por impactar diretamente o rumo histórico

Érica Montenegro e Cláudia de Castro Lima Publicado em 26/08/2017, às 18h00 - Atualizado em 27/05/2021, às 18h35

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Rainha Elizabeth I e Michelangelo, respectivamente - Domínio Público, via Wikimedia Commons
Rainha Elizabeth I e Michelangelo, respectivamente - Domínio Público, via Wikimedia Commons

Ao longo da História, a fofoca fez parte do cotidiano de diversas pessoas ao redor do mundo. Se engana quem acredita que tal fato é um costume recente da sociedade pós moderna. 

Grandes nomes históricos, como a Elizabeth I, o renomado artista Michelangelo e o alemão Johannes Brahms foram vítimas de intensos boatos que colocaram seus nomes em evidência. 

“A rainha inglesa Elizabeth I, por exemplo, foi intenso alvo de fofocas entre 1560 e 1570”, afirma o historiador Bernard Capp, da Universidade de Warwick, no Reino Unido. “Ela tem um caso? Está grávida? Teve um filho ilegítimo? Boatos assim eram muito comuns entre os ingleses.”

Michelangelo foi apontado como assassino. Na época, surgiu o boato de que o pintor renascentista, teria matado uma pessoa para analisar a anatomia do corpo humano. Johannes Brahms, por sua vez, foi apontado como assassino de gatos, uma vez que, acreditavam que estrangulava os felinos para reproduzir seus gritos em trechos de sinfonia.

Fato é: quase ninguém escapou de uma fofoca. Famoso ou anônimo, já foi vítima de algum boato ao longo da vida. Contudo, algumas fofocas foram responsáveis por impactar diretamente a história da humanidade. 

Hábito antigo

Falar da vida alheia é um hábito do tempo das cavernas. Segundo Frank McAndrew, especialista em fofoca da universidade norte americana Knox College, ela ajudou na evolução humana.

Pintura 'A morte de Cleópatra', de Juan Luna (1881) / Crédito: Juan Luna, via Wikimedia Commons

“Para obter sucesso nos grupos sociais, os homens pré-históricos tinham de saber sobre a vida das outras pessoas e o que elas sabiam fazer”, afirma. Para ele, quem tinha mais informação conhecia as fraquezas dos adversários — e sabia tirar vantagem disso.

Se espalhar boatos sobre os outros é hábito antigo, foi só há cerca de 39 anos que especialistas como historiadores e antropólogos resolveram estudar o que pode haver por trás da fofoca. Para muitos deles, histórias inventadas ou meias verdades dizem bastante sobre os medos, desejos e preconceitos de quem os espalha. Outros defendem que as histórias difamadoras funcionam como uma força conservadora, esclarecendo que tipo de estrutura social e que normas de conduta devem ser seguidos para não cair na boca do povo.

Mas os boatos também interferiram na história e tiveram papel político em várias ocasiões. No século 1, por exemplo, um deles foi fundamental para o destino da rainha egípcia Cleópatra e seu amante romano Marco Antônio. A própria rainha, acuada pelo Senado romano, que declarara guerra a ela e a Antônio (que devolvia terras sob domínio de Roma para a amada), fez circular a fofoca de que tinha se matado. Antônio acreditou e enfiou uma faca na própria barriga. Cleópatra, mais tarde, acabou realmente se matando. 

Séculos depois, na Europa medieval, a fofoca adquiriu caráter de válvula de escape. “Na Idade Média, a fofoca sobre gente importante, como senhorios e reis, era vista como uma forma de resistência escondida”, diz Bernard Capp. “Não era permitido protestar abertamente contra essas pessoas, mas, por trás delas, contavam-se histórias sobre suas vidas, ria-se de suas caras, diminuía-se sua importância.”

No século 18, surgiu o bisavô das revistas de fofoca de hoje, o La Chronique Scandaleuse. Impressas em território suíço e contrabandeadas para a França, as crônicas reproduziam histórias picantes sobre o cotidiano da corte. Numa época bem anterior a assessores de imagem, contratos publicitários milionários e processos judiciais por danos morais, os textos pegavam pesado na maledicência.

Sexo e monarquia

Histórias picantes sobre a vida amorosa de reis e rainhas já prejudicaram muito a imagem da monarquia. Às vésperas da Revolução Francesa, corriam boatos de que a rainha Maria Antonieta, da França, por exemplo, deitava-se com outros homens, como o cardeal Edouard e o soldado e diplomata sueco Axel Fender.

Pintura oficial de Maria Antonieta / Crédito: Domínio Público, via Wikimedia Commons

A fofoca ia além: o marido traído, o rei Luís XVI, seria impotente, teria levado anos para consumar o casamento e não era o pai verdadeiro do príncipe herdeiro. As histórias, aos olhos da população, comprovavam a decadência da monarquia. E foi a luta pelo fim dela um dos motivos da revolução que eclodiu na época — e que acabou com o rei e a rainha guilhotinados. 

O mesmo aconteceu mais de um século depois, quando os russos começaram a ouvir boatos sobre a vida sexual do czar Nicolau II e de sua esposa Alexandra. A versão mais maliciosa insinuava orgias entre o czar, a esposa, sua dama de companhia e seu conselheiro Rasputin. Mesmo sem ter a veracidade comprovada, as fofocas ajudaram a desmoralizar os monarcas, que seriam destituídos do poder em fevereiro de 1917. Oito meses depois, estouraria a Revolução Bolchevique — e a Rússia nunca mais teria czares.

Fofocas sobre quem está no poder sempre foram populares. “É uma maneira de ver os poderosos despidos”, diz José Ângelo Gaiarsa, autor de Tratado Geral sobre a Fofoca. “A fofoca é um importante veículo de controle social, por isso não pode ser desprezada”, afirma.

Mentiras não desmentidas

A história mostra que são comuns também os casos de mentiras que não são desmentidas — ao contrário, são muitas vezes reforçadas — por motivos políticos. Na Itália de Mussolini, por exemplo, simpatizantes e adversários do ditador concordavam pelo menos em uma coisa: ele havia recuperado o sistema de transporte ferroviário do país.

O líder fascista Benito Mussolini / Crédito: Getty Images

Além de símbolo da eficácia do fascismo, a pontualidade dos trens virou orgulho nacional. Só que, na verdade, os trens começaram a ser recuperados antes de Mussolini chegar ao poder, em 1922. E ele pegou carona em uma realização que não era dele.

O nascimento do colunismo social nos moldes atuais pode ser entendido como uma espécie de institucionalização da fofoca, a aceitação (e escancaração) dela pela sociedade. Isso ocorreu em meados dos anos 20. A antiga revolucionária coluna do jornalista americano Walter Winchell no The New York Times revelava segredos de pessoas que “pulavam a cerca”, namoros até então escondidos, nomes de quem estava em dificuldades financeiras.

Como as histórias de Winchell eram publicadas em vários outros jornais, 50 milhões de pessoas tinham acesso a elas. Hoje, as colunas de jornais não contam apenas fofocas de festas e bastidores. Elas trazem também furos de reportagem e informações exclusivas, inclusive políticas. 

Telefone sem fio

Durante a Primeira Guerra, um exemplo de "quem conta um conto aumenta um ponto", típico das fofocas, ficou famoso. O antigo jornal alemão Kolnische Zeitung noticiou a derrota da cidade belga de Anvers para a Alemanha: “Depois do anúncio da queda de Anvers, tocaram-se os sinos”.

O jornal se referia aos sinos germânicos que comemoraram o feito. O francês Le Matin deu: “De acordo com o Kolnische Zeitung, o clero de Anvers foi obrigado a tocar os sinos quando a fortaleza foi tomada”.

O The Times, de Londres, acrescentou: “Segundo o Le Matin, os padres belgas que se recusaram a tocar os sinos por ocasião da derrota de Anvers foram destituídos de suas funções”.

O italiano Corriere della Sera aumentou: “Segundo o Times, os infortunados padres que se recusaram a tocar os sinos por ocasião da queda de Anvers foram condenados a trabalhos forçados”.

No Le Matin, nova versão: “Segundo o Corriere della Sera, está confirmado que os bárbaros conquistadores de Anvers puniram os infelizes padres que se recusaram a tocar os sinos dependurando-os de cabeça para baixo, como badalos vivos”.

Artistas envolvidos em polêmicas

Há boatos que nunca foram confirmados que para produzir uma escultura de Cristo no século 16, Michelangelo teria matado a facadas um rapaz que lhe servia de modelo. O suposto crime teria sido cometido para que o artista pudesse dissecar o cadáver e estudar os músculos.

Retrato de Michelangelo / Crédito: Domínio Público, via Wikimedia Commons

Embora, os biógrafos de Michelangelo afirmatem que o artista tinha gênio difícil e era egocêntrico, contudo, não são características suficientes para motivar um crime — mas há quem acredite nisso.

Durante o século 19 circulou a história de que Brahms, um dos músicos mais importantes do romantismo europeu, estrangulava gatos para usar seus gritos em sinfonias. Essa história circulou por mais de um século, até que um pesquisador desmentiu a fama de assassino de felinos, em 2001. Depois de ler mais de 20 biografias, ele concluiu que o boato nasceu do rival Richard Wagner.

Após a morte prematuramente de Mozart, em 1791, circulou na Europa a fofoca de que o compositor italiano Antonio Salieri, com inveja da fama de Mozart, teria envenenado o músico prodígio. O povo logo espalhou que Salieri, que havia dado aulas para Beethoven, Schubert e Liszt, tinha feito isso. O italiano, com raiva, alimentou o boato ao assinar uma confissão falsa. Mozart, na verdade, sucumbiu a uma febre reumática, portanto, Salieri não teve nada a ver com isso.


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