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Matérias / Arqueologia

A impressionante reconstrução facial do Homem de Perak, o fóssil mais antigo da Malásia

O designer Cícero Moraes, que já deu rosto a figuras como Jesus Cristo e D. Pedro I, contou detalhes do novo projeto à Aventuras na História

Isabela Barreiros, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 03/03/2021, às 18h00 - Atualizado em 15/07/2022, às 18h00

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A reconstrução facial do Homem de Perak - Cícero Moraes
A reconstrução facial do Homem de Perak - Cícero Moraes

Dar rosto a pessoas que viveram há milhares de anos é humanizar indivíduos do passado. A partir do desenvolvimento de uma reconstrução facial, é possível observar as expressões de um período histórico diferente, não apenas ossos e fósseis que, embora interessantes, não revelam essa parte importante de um indivíduo antigo.

É isso que explica o designer especializado em reconstrução facial forense, Cícero Moraes, em conversa com a Aventuras na História. Para ele, “a importância [da reconstrução facial] está mais atrelada a dar um rosto, uma identidade que permita uma empatia maior em relação a esse ser humano pré-histórico”.

“É muito interessante para o público ver os ossos sobre a mesa, mas no momento em que uma face é oferecida aos observadores, certamente o processo fica mais humanizado e isso pode causar um maior interesse inicial que se inclinará para aspectos mais técnicos da pesquisa”, explica.

Crédito: Cícero Moraes

Responsável por dar rosto a figuras como Jesus Cristo, Senhor de Sipán, um guerreiro germânico, D. Pedro I, e muitos outros, Moraes recentemente participou de um novo projeto. No final de fevereiro, o Malaysian Journal of Medical Science apresentou a reconstrução facial do Homem de Perak, o fóssil humano mais antigo da Malásia.

O designer conta que recebeu um e-mail do representante da Universiti Sains Malaysia (USM), Dr. Johari Yap, com uma “proposta de publicação envolvendo a reconstrução facial do Homem de Perak”. “Apreciei grandemente a abordagem da equipe e aceitei trabalhar com eles nesse projeto”, diz.

Conforme explicado no editorial publicado na revista científica, foi a partir do fóssil do Homem de Perak que os pesquisadores puderam trabalhar no projeto. No entanto, como o crânio é muito antigo, com estimativas em mais de 10 mil anos, ele se encontrava muito frágil. 

Moraes explica que, para o desenvolvimento da reconstrução facial, foram necessárias duas etapas. “Uma relacionada à reconstrução estrutural do crânio que se encontrava fragmentado, onde além de remontá-lo, também aproximamos o volume cerebral. A outra era relacionada à parte forense, onde ‘devolvemos’ o rosto do indivíduo em vida”, conta.

O fóssil mais antigo da Malásia

Crédito: Cícero Moraes

Em 1990, escavações realizadas no sítio arqueológico de Lenggong Valley, em Perak, na Malásia, revelaram o túmulo do esqueleto que viria a ficar conhecido como Homem de Perak, em homenagem ao lugar onde ele foi descoberto. 

Enterrado em posição fetal, ele foi logo considerado o mais completo esqueleto de um período histórico muito antigo, entre 10 mil e 11 mil anos atrás. Já na Malásia especificamente, pesquisadores afirmam que ele é, de fato, o mais antigo fóssil de um ser humano já encontrado no país. 

Ele tinha 1,54m de altura e morreu entre os seus 40 a 45 anos, o que indica que o indivíduo morreu em idade avançada em comparação àquele período. Segundo Moraes, informações como sexo, ancestralidade e faixa etária são “imprescindíveis para a reconstrução facial”, o que também ocorreu nesse projeto.

Além do esqueleto, na época, os pesquisadores também descobriram artefatos funerários dentro da tumba do homem, que foi a única pessoa a ser enterrada no centro da caverna mais alta do sítio arqueológico. Essas duas particularidades indicam que ele provavelmente foi uma pessoa importante na região em que vivia. 

Crédito: Cícero Moraes

O fóssil mais antigo da Malásia também era de uma pessoa respeitável na região há mais de 10 mil anos. Sua reconstrução facial, portanto, é um projeto de importância, afinal, a partir dela é possível observar como era seu rosto. Mas quando pensamos na exatidão das reconstruções faciais, o quanto essa, de fato, se parece com o real Homem de Perak?

O designer explica que existe uma compatibilidade entre 80 e 92% em relação à estrutura volumétrica do rosto e do esqueleto. “No entanto, uma face ‘se faz’ nos detalhes e a reconstrução facial forense é mais uma aproximação do que uma reconstrução propriamente dita”, afirma. Ainda assim, Moraes afirma que esse é um rosto que lembra o indivíduo, mesmo que não seja “100% parecido com ele”. 

“Para se ter uma ideia, é comum que uma pessoa se espante mesmo quando vê alguém que conhece com uma pequena alteração no rosto, como uma espinha inflamada por exemplo, ou seja, qualquer mínimo detalhe diferente liga um alerta, isso porque somos especialistas em face, então dizer que a reconstrução é totalmente parecida com o indivíduo revivido está mais atrelado à pretensão do que à realidade”, diz.


Saiba mais sobre o trabalho de Cícero Moraes por meio de seu site.