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Matérias / Personagem

Do auge como cortesã ao fim melancólico: a libertinosa vida de Cora Pearl

Oriunda de uma família humilde da Inglaterra, Cora se tornou uma espécie de celebridade na Paris dos anos 1860, ditando as tendências da moda da época

Fabio Previdelli Publicado em 03/02/2021, às 16h13 - Atualizado em 04/02/2021, às 17h56

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A cortesã Cora Pearl - Wikimedia Commons
A cortesã Cora Pearl - Wikimedia Commons

Na Paris de 1860, o nome de Cora Pearl estava em voga. Uma das cortesãs mais cobiçadas da época, Cora viveu uma vida de extravagância repleta de fama, infâmia e prazeres.  

De acordo com o escritor francês Alfred Delvau, que escreveu sobre a cortesã em seu livro “Les Plaisirs de Paris” (ou, ‘Os Prazeres de Paris’, em tradução livre): “Você é hoje, Madame, a fama, a preocupação, o escândalo e o brinde de Paris. Em todos os lugares eles falam apenas de você”. 

Entretanto, apesar de toda sua vida de opulência e luxo, Cora Pearl teve um início de vida bem mais humilde e um fim ainda mais melancólico.  

De Emma a Cora 

Antes de se tornar “uma das prostitutas mais famosas de seu tempo”, ela nasceu como uma menina simples chamada Emma Elizabeth Crouch em Portsmouth, Inglaterra, em 1836. Em suas memórias, no entanto, afirmava ter nascido em 1842. 

A cortesã Cora Pearl/ Crédito: Wikimedia Commons

Emma foi criada em uma casa muito barulhenta, afinal, não era para menos, seus pais eram músicos e ela foi educada junto a 15 irmãos, muitos dos quais seguiram os dons artísticos da família. Por muito tempo, a garota se inspirou em seu pai, que era o famoso compositor Frederick Nicholls Crouch

Porém, ainda em sua infância, seu pai abandou sua família para fugir das dívidas. Já sua mãe, preocupada com o futuro de suas crias, se casou com um homem próspero, Emma o desprezava. Pouco depois da nova união, a jovem acabou sendo enviada para um internato na França. 

Quando voltou à Inglaterra, Emma passou a morar com sua avó, em Londres, onde começou a trabalhar como assistente de modista. Foi nessa fase, vivendo na capital inglesa, que um evento traumático e violento mudaria sua vida para sempre: ela foi estuprada, aos 15 anos, por um homem que tinha mais que o dobro de sua idade.  

Crouch havia sido atraída quando voltava sozinha da Igreja por um homem entre 35 e 40 anos, que havia lhe convidado para um bar próximo atrás de um mercado. Lá, ele a embebedou e a violou.

Após recuperar a consciência num quarto de hotel, a jovem sentiu que não poderia mais voltar para a casa de sua avó. Assim, alugou um quarto em Covent Garden com uma nova identidade: Cora Pearl

O All That Interesting relata que alguns historiadores, no entanto, acreditam que o abuso sobre o qual a cortesã escreveu, em seu livro de memórias, pode ter sido uma narrativa para mascarar o abuso sexual que ela sofreu pelo seu ex-padrasto. 

Extravagante vida 

O primeiro amante de Cora Pearl foi o dono de propriedades, Bill Blinkwell, embora muitos o identificassem como Robert Bignell, dono do clube de dança Argyll Rooms. Ele sempre levava Cora para viagens ao interior da Inglaterra. Após dois meses e meio de ‘namoro’, Blinkwell resolveu levá-la para a Cidade Luz.  

Pearl estava tão apaixonada pela rica cultura de Paris que detonou seu documento e se recusou a retornar a Londres. Com isso, começou a nova vida de Cora Pearl na capital francesa que, naquela época, tinha a prostituição como uma profissão liberada, com as profissionais do sexo apenas sendo obrigadas a se registrar e passar por inspeções de saúde de rotina. 

Cheia de charme e com um corpo escultural, Pearl logo atraiu os homens da cidade, o que incluía os chamados nascidos de ‘sangue azul’. Entre seus clientes reais estava o duque de Rivoli, Victor Masséna, que presenteou Cora com seu primeiro cavalo; o herdeiro do trono da Holanda, William, o Príncipe de Orange; o meio-irmão do rei, o duque de Morny; e o Príncipe Achille Murat, sobrinho-neto do anterior Rei Napoleão I

Cora Pearl e o príncipe Achille Murat / Crédito: Wikimedia Commons

Entretanto o amante mais leal de Cora Pearl era o príncipe Napoleão-Jérôme Bonaparte, também conhecido como príncipe Jérôme Bonaparte, primo do rei Napoleão III. O Head Stuff explica que eles se conheceram quando o príncipe tinha 42 anos e ela metade de sua idade, mas os dois tiveram um duradouro caso de nove anos juntos. 

Como todos seus amantes, Jérôme mimava demais a cortesã, lhe comprando várias casas senhoriais e, principalmente, um pequeno palácio conhecido como “Les Petites Tuileries”. Ele também lhe concedeu o direito de ter acesso ao Palácio Real, para que ela pudesse visitá-lo lá. 

Por uma noite com Cora Pearl, seus pretendentes chegavam a desembolsar a gorda quantia de 10.000 francos, muitos também financiavam seus vícios em jogos. Em 1860, Cora era o assunto mais comentado de Paris. 

A cortesã de alta classe era tão popular que se tornou uma espécie de celebridade, ditando as tendências da moda com seus vestidos ousados, maquiagem pesada e cabelos coloridos. 

Fim indigno 

No auge de sua fama, em 1860, Pearl tinha, ao menos, três casas, um estábulo com 60 cavalos, diversas empregadas domesticas e criados, além de joias e roupas de grife.  

Porém, tudo veio abaixo após a guerra franco-prussiana, na década seguinte. Com o fim do conflito, a sociedade passou a adotar uma cultura bem mais conservadora, assim, o estilo de vida da cortesã foi se dissolvendo.  

Com a ‘separação’ de seus amantes, Cora passou a ser apenas mais uma estrangeira inglesa que vivia em Paris. Com isso, não demorou muito até que ela fosse expulsa da França. A gota d’água foi quando um de seus amados, o jovem Alexandre Duval, deu um tiro em si mesmo dentro da casa da cortesã, após ela recusar seus repetidos pedidos de casamento.  

O incidente, apelidado de L'Affair Duval, segundo a mídia francesa, foi crucial para a expulsão de Pearl. Foi enviada para Monte Carlo, onde permaneceu no exílio por vários anos. 

Logo após a publicação de sua autobiografia, em 1886, onde cobrou dinheiro de seus ex-amantes para não revelar seus nomes, a cortesã adoeceu. Meses depois, em 8 de julho daquele ano, ela morreu vítima de um câncer intestinal. Seu corpo foi enterrado no cemitério de Batignolles.


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