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Matérias / Personagem

A melancólica saga da artista judia que escondeu suas obras dos nazistas antes de morrer

Gertrud Kauders deixou pinturas e rascunhos dentro da estrutura da casa de uma amiga

Paola Orlovas, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 09/10/2021, às 09h00

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Algumas das telas, que foram arrancadas de quadros para poderem ser escondidas - Divulgação / YouTube / RadioFreeEurope/RadioLiberty
Algumas das telas, que foram arrancadas de quadros para poderem ser escondidas - Divulgação / YouTube / RadioFreeEurope/RadioLiberty

Gertrud Kauders nasceu em Praga, na antiga Tchecoslováquia, no ano de 1883. Ao crescer dentro de uma família proeminente de judeus de origem alemã, foi capaz de conduzir seus estudos para o lado artístico e se tornar uma pintora nata.

Em vida, buscou fazer retratos de familiares e amigos próximos para executar o que aprendia dentro da Academia de Belas Artes de Praga como pupila do famoso pintor tcheco Otakar Nejedlý.

Na faculdade, conheceu Natalie Jahudkova,uma mulher russa que havia vindo de uma cidade pequena, próxima a Moscou, para estudar arte. Natalie foi até a Tchecoslováquia após conhecer e se apaixonar por um dos legionários do país que lutaram na Rússia durante a Primeira Guerra Mundial.

Assim como Kauders, Jahudkova teria se tornado uma pupila de Otakar Nejedlý, o que fez com que as duas se tornassem próximas, ao fazerem viagens para pintar paisagens italianas e francesas ao lado de seu mestre.

O avanço dos nazistas

Com o passar do tempo e os avanços do exército da Alemanha nazista sob o território europeu, a preocupação da família de Kauders aumentou. De início, Gertrud não acreditava que poderia ser levada pela SS para um campo de concentração, já que era de origem alemã, mesmo que judia, então ignorou os pedidos de sua família, que suplicava que ela fugisse da Tchecoslováquia.

Após perceber a real magnitude do esforço nazista para exterminar os judeus, a pintora recorreu a sua amiga russa para esconder sua arte. Foi assim que Natalie Jahudkova passou a buscar formas de não deixar que telas que haviam sido arrancadas de quadros, rascunhos e outras obras de Gertrud não fossem vistas.

As obras encontradas /Crédito: Divulgação / YouTube / RadioFreeEurope/RadioLiberty

Pensou, então, em colocar as artes na estrutura de sua casa, que ainda estava sendo construída, em Zbraslav, ao sul de Praga. Assim, as obras foram inseridas dentro de paredes e debaixo de pisos.

Em 1942, pouco tempo após dar a missão para Natalie, Kauders foi descoberta pelos nazistas que ocupavam o país. Depois de ser identificada, foi levada para o gueto de  Theresienstadt, perto de sua cidade natal, até ser transferida para o campo de extermínio Majdanek, em Lublin, na Polônia, onde morreu em maio do mesmo ano.

Divulgação / YouTube / RadioFreeEurope/RadioLiberty

Descoberta acidental

Quase 80 anos mais tarde, em 2018, a mídia tcheca anunciou o descobrimento acidental de trabalhos artísticos na estrutura de uma casa, após as obras caírem. 

De início, acreditou-se que essas pinturas eram as únicas que haviam sido escondidas, mas, ao final do processo de busca, foram encontrados 700 trabalhos no total.

Apesar de Kauders não ter tido filhos, a família da artista foi encontrada e notificada dos achados.

Divulgação / YouTube / RadioFreeEurope/RadioLiberty

A filha do sobrinho de Gertrud que fugiu para a Nova Zelândia, Miriam, ficou feliz em poder aprender mais sobre sua família por meio dos retratos da tia-avó e até foi capaz de identificar desenhos de seu pai e de seu avô, que nunca foi capaz de conhecer.

Os trabalhos, que passaram pelas mãos de Jakub Sedlacek, um neto de russos que Jahudkova adotou e criou como seu próprio filho, foi então oferecido para a família de Miriam, que decidiu doá-los para o Museu de Arte Judaica de Praga, que aceitou o acervo de braços abertos.