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Matérias / Hollywood

Fora da Terra do Nunca: a dura vida de Bobby Driscoll, o Peter Pan

Famoso como ator mirim, Driscoll teve na infância uma carreira de sucesso, que terminou com uma perturbadora vida adulta

Vanessa Centamori Publicado em 10/05/2020, às 09h00 - Atualizado em 03/12/2022, às 13h00

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O ator Bobby Driscoll - Divulgação
O ator Bobby Driscoll - Divulgação

O ator Bobby Driscoll teve uma trajetória precoce, que começou aos 5 anos de idade, enquanto ele estava em uma barbearia, aparando as madeixas, na companhia de seu pai. "Ele [o barbeiro] nos convidou para ir a sua casa e seu filho estava lá", lembrou o astro, em uma entrevista de rádio na década de 1940. “Descobrimos que o filho estava no cinema e ele me marcou uma consulta com o agente dele". 

Aquele encontro do acaso iniciou a carreira de Driscoll, que brilharia nos grandes filmes enquanto ainda era uma criança. Por meio do agente ao qual foi apresentado, ele ganhou um pequeno papel de estreia no filme Lost Angel, de 1943, ao lado da atriz Margaret O'Brien.

A partir daí foram um total de nove filmes em um período de apenas três anos. O garotinho sardento tornou-se o primeiro ator mirim a ter contrato exclusivo com os Estúdios Disney

Bobby Driscoll na infância / Crédito: Wikimedia Commons

Em Song of the South (no Brasil, A Canção do Sul), de 1946, viveu Johnny, um garoto de 7 anos, que vai até a fazenda do avô. Também esteve em Treasure Island (A Ilha do Tesouro), em 1950. Foi a fase de ouro da carreira do garoto que no mesmo ano ganhou um Oscar Juvenil, uma miniatura do prêmio homônimo, concedida a astros mirins. 

Diante do sucesso, Walt Disney resolveu renovar o contrato do menino. Conforme alcançava a puberdade, dividiu o trabalho do rapaz para o pequeno estúdio Horizon, onde ele atuou em papéis menos importantes, como When I Grow Up (1950). 

Algum tempo depois, passou pelas produções da Columbia, onde esteve em O Amor, Sempre Amor (1952), enquanto também encenava alguns personagens na televisão. Em 1953, a Disney resolveu resgatar Driscoll para um papel emblemático: Peter Pan. 

O jovem não apenas dublou o personagem, como também serviu de modelo para o desenho animado. Na época, foi usada a rotoscopia, técnica que permite filmar atores reais para depois copiar seus movimentos no plano bidimensional. 

Depois que Driscoll foi filmado, suas ações serviram de base para os desenhistas, que copiaram os movimentos quadro a quadro. Os traços da aparência do ator também inspiraram a animação. 

Fora da Terra do Nunca

Aos 16 anos e afetado pela acne, três anos antes de seu contrato vencer, o astro foi chutado da Disney. Em entrevista à Ew News, o biógrafo de Hollywood, Marc Eliot, contou que o rompimento com o império de desenhos animados foi bem grosseiro.

O ator em A Ilha do Tesouro, 1950 / Crédito: Divulgação 

“Quando Howard Hughes comprou a RKO, ele se tornou o proprietário do estúdio da Disney”, afirmou Eliot. “Ele controlava o dinheiro e odiava Bobby Driscoll. Detestava crianças de Hollywood. Achava que eram precoces, não eram reais e eram incrivelmente irritantes."

Após esse rompimento com a grande companhia, Driscoll deixou a casa de seus pais aos 16 anos e viajou para Nova York com o objetivo de estudar teatro. Acabou, no entanto, desistindo da universidade e esteve em programas de TV, como em Rawhide (1959). 

Fora da lei

Bobby Driscoll conheceu Marilyn Jean Rush, de 19 anos, com quem se casou mais tarde e teve duas filhas. Foi para o México cinco meses após conhecer a moça. "Tornei-me um beatnik e um vagabundo", disse o ator, em um artigo na década de 1960. “Eu não tinha residência. Minhas roupas estavam na casa dos meus pais, mas eu não morava em lugar nenhum. Minha personalidade sofreu durante o meu casamento e eu estava tentando recuperá-la”. 

Driscoll em A Canção do Sul, de 1946 / Crédito: Divulgação 

Várias vezes, Driscoll abusou de drogas e foi preso por posse de entorpecentes, assalto e roubo. Foi finalmente internado para a reabilitação na Prisão dos Homens de Chino. Deixou seus filhos para trás e se mudou para Nova York em 1965, ano em que fez parte de Dirt, filme do cineasta experimental Piero Helicze.

Driscoll, então com 31 anos, passou seus últimos dias na cidade de Nova York. Não se sabe até hoje como ocorreu exatamente, mas ele veio à óbito num apartamento abandonado. Seu cadáver foi encontrado em março de 1968, por crianças que brincavam no edifício vazio de Greenwich Village.

O ator falecido estava em uma cama, cercado por garrafas de cerveja e folhetos religiosos. Ele não tinha nada que pudesse identificá-lo. As autoridades noticiaram que o homem havia morrido após endurecimento das artérias - provavelmente, algo causado por abuso de heroína de longa data. 

O fim de Driscoll não foi feliz como os dos contos de fada da Disney. Foi enterrado como indigente na Ilha Hart do Bronx. No final de 1969, cerca de 19 meses após sua morte, a mãe do astro, sem saber que ele havia morrido, procurou ajuda dos especialistas de animação para contatá-lo para uma reunião com seu pai, que estava prestes a morrer.

Acabou que a mãe foi informada sobre o falecimento do filho. Houve correspondência entre as impressões digitais do cadáver do indigente com o DNA do ator, segundo o Departamento de Polícia de Nova York.

Bobby Driscoll morrera sem ninguém ao seu lado, encontrado por meninos, e em um lugar isolado. O Peter Pan afinal crescera - a vida adulta não fora nada justa, mas muito irônica.