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Matérias / Personagem

Ateu, homossexual e pai da computação: Há 66 anos, morria Alan Turing

Conheça o homem que decifrou os códigos secretos do Terceiro Reich e lançou as bases para os computadores atuais, mas morreu odiado pelo governo britânico

Bárbara Axt Publicado em 07/06/2020, às 00h00

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Alan Turing - Getty Images
Alan Turing - Getty Images

Ele era franzino, tímido e meio excêntrico. Nunca empunhou uma arma, mas foi um dos personagens mais importantes da Segunda Guerra. Atrás de uma escrivaninha, Alan Turing, considerado o pai da computação, encontrou a chave para decifrar os códigos usados em mensagens nazistas — e, graças a seu trabalho, os aliados desvendaram cada passo dado pelos inimigos, onde encontrar seus submarinos e até como deveria ser a reação alemã durante o Dia D

A comemoração tem gosto amargo. Turing era homossexual, condição considerada criminosa na Grã-Bretanha até 1967. Condenado, recebeu injeções de hormônios femininos, o que se conhece como castração química.

Tinha 41 anos em 7 de junho de 1954, quando, transtornado com as alterações em seu corpo e pela realidade homofóbica e autoritária em que vivia, deu cabo da vida comendo uma maçã envenenada, tal como Branca de Neve, de quem era fã.

Réplica da bomba de Turing, exposta no Museu Nacional da Computação, em Bletchley Park / Crédito: Wikimedia Commons

Como é possível que tanta gente nunca tenha ouvido falar de Alan Turing? Uma resposta: o trabalho que o tornou famoso era tão secreto que, por décadas, nem mesmo os familiares dos envolvidos no projeto sabiam o que eles faziam. Outra: ele morreu cedo. A verdade sobre o cientista começou a vir à luz em 1983 com o lançamento de Alan Turing: The Enigma, de Andrew Hodges. A obra inspirou o filme O Jogo da Imitação, lançado em 2015.

"Ele estava lá, no começo da computação, da inteligência artificial e fez um trabalho importantíssimo na Segunda Guerra", diz John Graham Cummings, especialista em computadores, responsável por um abaixo-assinado que resultou no pedido oficial de perdão do primeiro-ministro Gordon Brown, da Grã-Bretanha, em 2009. Brown reconheceu a importância do trabalho de Turing durante a guerra e definiu o tratamento a que ele foi submetido de "terrível e desumano".

Desde pequeno, Turing chamava a atenção pelo talento para a matemática. Logo depois de formar-se em matemática na Universidade de Cambridge, ele criou a máquina Turing, uma proposta teórica capaz de realizar funções desde que apresentadas por meio de um logaritmo. Já viu isso em algum lugar? Pois é, está na base do seu computador. Turing tinha apenas 24 anos.

Nos anos 1950, o cientista passou a trabalhar com inteligência artificial e desenvolveu o Teste de Turing para identificar computadores inteligentes. No teste, um examinador conversa por meio de mensagens de texto, simultaneamente, com um computador e uma pessoa.

Depois de certo tempo, se não fosse capaz de apontar qual dos dois era humano, a máquina teria passado no teste. (Nos primórdios da internet, o software Eliza usava a mesma base lógica).

Estátua e foto de Turing, em Bletchley Park / Crédito: Wikimedia Commons

Durante a Segunda Guerra, Turing trabalhou em Bletchley Park, nos arredores de Londres, onde milhares de pessoas estavam empenhadas no projeto Ultra, cujo objetivo era quebrar os códigos secretos de mensagens criptografadas nazistas. Lá, ganhou fama de excêntrico: ia ao trabalho de bicicleta usando máscara contra gases.

A explicação: na primavera, o ar se enche de partículas de pólen, o que poderia causar alergia. Também gostava de tomar chá, sempre na mesma caneca. E a prendia a uma corrente na calefação do escritório para que ninguém a pegasse. Turing era um fundista. Em algumas ocasiões, ia a Londres, a 64 km de distância, correndo.

Um dos desafios do projeto Ultra era decodificar as mensagens da máquina alemã Enigma. Era uma máquina de escrever com rotores. À medida que o texto era digitado, os rotores embaralhavam as letras de modo que o conteúdo ficasse incompreensível. A encriptação de mensagens funcionava de maneira similar ao que se usa hoje para transmitir dados bancários pela internet.

A única maneira de entender a mensagem recebida é usando a mesma chave da encriptação original. Os rotores permitiam milhões de combinações, e as chaves eram trocadas mensalmente. Turing descobriu o segredo usando uma técnica eletromecânica chamada bomba. As tais bombas permitiam várias análises dos textos, em velocidade muito parecida à dos humanos. Outra contribuição do cientista foi o desenvolvimento do Colossus, um precursor dos computadores.

Benedict Cumberbatch como Alan Turing em O Jogo da Imitação / Crédito: The Weinstein Company

Em 1942, os ingleses já conseguiam ler 50 mil mensagens por mês, uma por minuto. Foi assim que ficaram sabendo de informações cruciais sobre os ataques planejados pelos alemães, principalmente no Atlântico Norte. Quando a guerra acabou, Turing foi trabalhar no Laboratório Nacional de Física. Ninguém ficou sabendo da importância da sua participação na quebra dos códigos da Enigma.

A carreira de Turing sofreu um abalo quando, em 1952, foi condenado por manter relações sexuais com outro homem, crime de "indecência pesada" na época. Entre as opções de punição, cadeia ou castração química, escolheu a segunda, que supostamente acabaria com sua libido.

Como criminoso fichado, Turing não podia mais trabalhar em projetos do governo. Além disso, as injeções o deixaram tão perturbado que ele não viu outra opção além do suicídio. A campanha pelo pedido de desculpas reuniu 32 mil assinaturas.


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