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Matérias / Personagem

Amor sublime e carnal: os opostos sentimentos de Sócrates e Alcibíades

Nos diálogos descritos por Platão em O Banquete, Alcibíades aparece bêbado, apaixonado pelo filósofo e disposto a tecer os mais longos elogios ao seu amado

Isabela Barreiros Publicado em 11/04/2020, às 08h00

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"Sócrates ao encontro de Alcibíades na Casa de Aspasia", 1861 - Wikimedia Commons
"Sócrates ao encontro de Alcibíades na Casa de Aspasia", 1861 - Wikimedia Commons

Sócrates, ainda hoje, permanece uma das mais misteriosas figuras da Grécia Antiga. Responsável por muitos dos questionamentos que moldaram a filosofia ocidental, o ateniense teve seus pensamentos retratados principalmente em períodos posteriores, em obras de seus estudantes, principalmente Platão. Um desses diálogos, O banquete, se tornou um texto importante para a análise do amor.

O livro é composto por discursos filosóficos sobre a natureza e, essencialmente, o sentimento do amor, que é dessecado e interpretado de diferentes maneiras ao longo das páginas escritas por Platão.  Durante esse banquete, inúmeros filósofos levantam teses para entender a complexa e visceral emoção. A maioria permanecia no campo intelectual, mas quando Alcibíades chega ao local, visivelmente bêbado, muda-se completamente a perspectiva.

General e político de Atenas, o homem afirmava ter sido salvo por Sócrates durante a Batalha de Potidaea, em 432 a.C., e novamente na Batalha de Delium, em 424 a.C. Alcibíades começou a ser um entusiasta do pensamento socrático e, assim, os dois se tornaram amigos — cada vez mais próximos. De acordo com Plutarco, Alcibíades "temia e reverenciava Sócrates sozinho e desprezava o resto de seus amantes". Mais jovem, o general transformou-se em um dos aprendizes do grande filósofo.

Crédito: Getty Images

No entanto, a visão dos dois sobre o amor era diferente, podendo ser consideradas até mesmo opostas. Enquanto filósofos discutiam na casa de Agatão, poeta trágico ateniense, Sócrates fazia sua defesa sobre o que pensava ser o sentimento. Nesse momento, Alcibíades chegou ao local e ficou surpreso ao perceber a presença de seu amado.

Segundo Guilherme Gutman, psicanalista e doutor em Saúde Coletiva pela UERJ, no artigo Amor celeste e amor terrestre: o encontro de Alcibíades e Sócrates em O banquete, de Platão, “Alcibíades surpreendeu-se genuinamente quando descobriu que Sócrates estava lá; ao lado de Agatão. Seu desconcerto é secundado por Sócrates com uma reação que caberia definir como verdadeiro pavor, supostamente em função da paixão violenta, possessiva e do comportamento agressivo de Alcibíades em relação a ele”.

No próprio livro O banquete, Platão narra: “E Sócrates: Agatão, vê se me defendes! Que o amor deste homem se me tornou um não pequeno problema. Desde aquele tempo, com efeito, em que o amei, não mais me é permitido dirigir nem o olhar nem a palavra a nenhum belo jovem, senão este homem, enciumado e invejoso, faz coisas extraordinárias, insulta-me e mal retém suas mãos da violência”.

A partir disso, percebemos que a situação está prestes a mudar. O fato de “não ser permitido” a Sócrates que fale com jovens possivelmente faz referência aos julgamentos aos quais estava sendo colocado. Ao final de sua vida, foi acusado de “corromper jovens com suas ideias”, “não acreditar nos costumes e nos deuses gregos” e, ainda, “unir-se a deuses malignos que gostam de destruir as cidades”.

Sócrates é condenado à morte / Crédito: Domínio Público

Nesse momento, Alcibíades propõe que se mude o tema das discussões, sugerindo que elogios fossem feitos. Ele, então, inicia um discurso que tem como intuito consagrar o filósofo alvo de sua paixão. O comandante afirma que Sócrates “vence em argumentos todos os homens, não só ontem como tu [Agatão], mas sempre”, e continua exaltando o homem por longos parágrafos ao final do texto.   

Gutman completa: “o pletórico Alcibíades contrapõe ao discurso temperado de Sócrates, não exatamente mais um discurso sobre o amor, mas um relato de suas experiências amorosas com Sócrates”. Com isso, o psicanalista afirma ainda que “temos ‘dois discursos incomensuráveis’, já que posicionados em degraus diferentes: o da descrição idealística do amor e o do discurso implicado do sujeito em suas próprias experiências e desejo”.

Essa possível contradição provavelmente impede que o relacionamento dos dois se concretize no nível físico — o desejado por Alcibíades. Para Sócrates, o amor era celestial, algo perfeito e fora do mundo carnal. Alcebíades fez de tudo para conquistar o amor de Sócrates. Só que nem o jogo de sedução nem presentes ou escapadas furtivas para a cama do mestre fizeram o filósofo entregar o coração ao aprendiz.

Alcibíades / Crédito: Wikimedia Commons

Esse elogio, ainda, pode ser interpretado de outra maneira, talvez como uma tentativa de defender o filósofo das acusações que vinha sofrendo e que levaram a sua morte. No artigo O elogio de Sócrates por Alcibíades, o doutor em Filosofia pela Universidade de São, Paulo Roberto Bolzani Filho, discorre sobre essa hipótese. Segundo ele, o que viria a seguir, o elogio feito por Alcibíades ao seu amado, poderia ser “uma forma de retomada da defesa socrática contra as acusações que finalmente o levaram à morte”.

Bolzani Filho sustenta que, ao final da obra, “Platão retoma a injusta condenação de seu mestre, e sabemos que a tese central da acusação, junto com a suspeita de que Sócrates negara os deuses da cidade, afirma que ele teria, com seu lógos, corrompido os jovens atenienses”.


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