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Matérias / Estados Unidos

Anarcha Westcott, a mulher negra que foi cobaia de 30 procedimentos cirúrgicos — sem anestesia

Durante o século 19, James Marion Sims submeteu Westcott e outras mulheres como cobaia em procedimentos dolorosos

Vanessa Centamori Publicado em 29/08/2020, às 08h00

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Ilustração por Robert Thom retrata James Marion Sims com Anarcha Westcott - Domínio Público
Ilustração por Robert Thom retrata James Marion Sims com Anarcha Westcott - Domínio Público

Anarcha Westcott era uma adolescente grávida de 17 anos e vivia no estado do Albama, no século 19. Ela era escravizada por um proprietário de terras e sofria de raquitismo, doença causada por falta de vitamina D ou desnutrição. Por isso, sua pélvis era desfigurada, o que dificultava o parto. 

Então, em 1849, ela permaneceu durante três dias em um doloroso trabalho de parto. Foi aí que entrou em cena o médico James Marion Sims, que parecia querer ajudá-la. Entretanto, o doutor mantinha uma crença equivocada de que negros sentiam "menos dor" do que brancos. Desse modo, realizou na jovem quatro operações experimentais — sem anestesia. 

Apesar da inacreditável crueldade, Sims sabia bem o que estava fazendo com a mãe desesperada: tratou Anarcha como cobaia. Sua técnica deu certo, e mesmo causando dor alucinante, a jovem teve a criança.

Porém, ela não escapou tão cedo das mãos do médico: o procedimento rendeu não só muitas lágrimas, como houve também no pós-operatório forte dor e sangramento na vagina e no reto. A resposta do médico foi voltar a torturar a mulher com mais cirurgias — somando cerca de 30, no total.

O resultado foi ainda mais sofrimento para a jovem negra, cuja dor é pouco citada nos livros. Só que, por outro lado, Sims ganhou fama e reconhecimento, sendo até hoje considerado o "pai da ginecologia moderna". 

O médico James Marion Sims, que criou o método cirúrgico do reparo da fístula vesicovaginal / Crédito: Wikimedia Commons 

Tortura generalizada

Entre 1845 e 1849, James Marion Sims operou dezenas de escravos em seu hospital. Especialmente mulheres morreram em suas mãos. Antes de ser torturada nos experimentos, Anarcha e outras 75 moças trabalhavam na plantação de Wescott. O sobrenome da jovem, inclusive, foi dado por seus senhores, em alusão ao nome do local de trabalho.

Ela não foi a única escrava, portanto, que esteve no consultório de Sims. Também estiveram lá Betsy e Lucy. A última tinha 18 anos e, após dar à luz, não conseguia controlar a bexiga. Então, ela foi submetida à uma cirurgia de uma hora, gritando e chorando de dor, enquanto quase 12 médicos observavam. 

Após a utilização do uso de uma esponja para drenar a urina da bexiga, a jovem Lucy contraiu uma infecção. Ela demorou dois ou três meses para se recuperar e quase alcançou o leito de morte. 

Local onde era o consultório de James Marion Sims, no Alabama, Estados Unidos / Crédito: Wikimedia Commons 

Consentimento

Não é certo se os experimentos de Sims eram autorizados, mas tudo indica que não. Segundo o The Washington Post, o médico afirmou que a paciente Betsy “consentiu voluntariamente” com um exame. Mesmo assim, só depois outros experimentos inesperados começaram. 

Experiência de quase morte

O Dr. Sims expressou preocupação em seus registros afirmando que ele pensava que Anarcha e as outras mulheres poderiam morrer, mas elas não morreram. Pouco se sabe sobre a vida pessoal da jovem depois que ela sobreviveu à cirurgia, mas é provável que tenha voltado a trabalhar na plantação de Wescott até seus últimos dias. 

Desenho do espéculo vaginal, segundo modelo de Sims / Crédito; Wikimedia Commons 

O caso de Anarcha foi o que ganhou mais destaque, pois, as torturas sofridas pela adolescente serviram para que o doutor "aperfeiçoasse" seu método bem-sucedido para a cura da fístula vesicovaginal. Apesar da eficácia técnica, foi alto o custo ético do procedimento, que teve como base teorias pseudocientíficas. 

Depois, o médico começou a praticar em mulheres brancas — usando, só dessa vez, anestesia. Ao longo do tempo, a sua base foi deixada de lado e o doutor foi louvado por suas descobertas científicas, que foram aprimoradas e são utilizadas até hoje nos consultórios.

James Marion Sims ganhou até uma estátua sua no Central Park, em Nova York. Mas, em 2018, a Mayor’s Advisory Commission decidiu remover o monumento. No local, foi colocada uma placa sobre a origem dos controversos experimentos e os nomes e as histórias de Lucy, Betsey e claro, Anarcha. 


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