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Matérias / Chico Xavier

André Luiz: O espírito por trás das cartas psicografadas de Chico Xavier

Ninguém sabe quem o médico André Luiz foi em sua última encarnação, mas há hipóteses

Tiago Cordeiro, Arquivo Aventuras na História Publicado em 24/08/2022, às 16h51

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Chico Xavier durante entrevista - Chico Xavier durante entrevista / Crédito: Divulgação / YouTube / Vídeo
Chico Xavier durante entrevista - Chico Xavier durante entrevista / Crédito: Divulgação / YouTube / Vídeo

Em 1943, Chico Xavier vivia em Pedro Leopoldo (MG), sua cidade natal, quando foi contatado por um espírito que havia desencarnado no Rio de Janeiro. A entidade – imaterial e consciente de si, como todo espírito deve ser segundo as leis do espiritismo
– disse ao médium que “ditaria” alguns livros.

Chico perguntou quem ele era. E a resposta veio com outra pergunta: “Como é o nome do rapazinho que dorme aí no quarto ao lado?”. Era uma referência ao sobrinho do médium, que se chamava André Luiz. “Então, doravante, será esse meu nome”. Começava ali uma longa parceria entre Chico Xavier e André Luiz.

No decorrer dos 24 anos seguintes, entre 1944 e 1968, o médium mineiro psicografaria 16 obras cujo conteúdo lhe seria revelado por esse espírito. A primeira delas, Nosso Lar
(FEB), hoje é um clássico – o livro espírita de maior sucesso no Brasil, com quase 2 milhões de exemplares vendidos.

De tão popular, acabou virando até fonte de inspiração para telenovelas e será para sempre considerado uma referência na literatura espírita brasileira. Nosso Lar é um romance autobiográfico em que André Luiz narra seus primeiros anos de vida após a morte. A história se passa numa espécie de colônia espiritual, lugar onde os espíritos se reúnem para aprender e trabalhar entre uma encarnação e outra.

A obra discute questões cruciais para a doutrina espírita, como o sentido dignificante do trabalho e a Lei de Causa e Efeito, a que todos, segundo o espiritismo, estariam submetidos. André Luiz, que nunca existiu com esse nome, conta a experiência de se perceber fora do corpo, sentir-se preso a uma ecoregião de dor e escuridão – o chamado umbral – e entender, lenta e progressivamente, que a alma desencarnada tem funções
importantes a cumprir.

Para os espíritas, a obra é uma revelação: uma das mensagens de consolação prometidas por Jesus à humanidade. “Essas mensagens divinas, que de tempos em tempos descem do céu para a Terra, modificando amplamente o cenário social e moral do mundo, são verdades aguardadas ansiosamente pelo coração humano”, diz Lori Marli
dos Santos, então coordenadora do Instituto de Divulgação Espírita André Luiz, em Curitiba (PR).

Foi só depois de oito anos no umbral que André Luiz encontrou a comunidade descrita em Nosso Lar. Ali, descobriu que sua mãe e uma de suas irmãs estavam num plano mais elevado, enquanto o pai e as outras duas irmãs permaneciam em ciclos inferiores. Ficou sabendo também que sua esposa havia se casado novamente, com um homem que estava adoecido.

Como tinha sido médico em sua última encarnação, reaprendeu a exercer o antigo ofício.
E tornou-se um espírito luminoso, capaz de atuar como doutor espiritual. Especulações Mas, afinal, quem teria sido André Luiz em vidas passadas? O espírito não fornece informações sobre encarnações anteriores, exceção feita à última.

Sobre essa, ele revela apenas alguns detalhes em Nosso Lar. Os motivos para tanto mistério teriam sido dois: poupar seus herdeiros da exposição e evitar que essa discussão sobrepujasse a mensagem espiritual que ele tinha a apresentar.

Chico Xavier durante entrevista / Crédito: Divulgação / YouTube / Vídeo

Descontadas especulações sem qualquer fundamento, admite-se que André Luiz tenha sido um médico sanitarista, que viveu no Rio de Janeiro entre o final do século 19 e o começo do século 20. Teria morrido jovem, provavelmente nas décadas de 1920 ou 1930, com idade na faixa dos 40 anos.

Filho de pais talvez excessivamente generosos, conquistara meus títulos universitários sem maior sacrifício, compartilhara os vícios da mocidade do meu tempo, organizara o lar, conseguira filhos, perseguira situações estáveis que garantissem a tranquilidade ecoregião nômica do meu grupo familiar”, descreve o espírito na obra psicografada por Chico Xavier.

“Mas, examinando atentamente a mim mesmo, algo me fazia experimentar a noção do
tempo perdido, com a silenciosa acusação da consciência”.

Alma rubro-negra

Com base nessas informações, três hipóteses são as mais cogitadas. A primeira delas sugere que André Luiz pode ter sido em sua última encarnação o médico sanitarista Carlos Chagas (1879-1934), famoso por ter descoberto o protozoário Trypanosoma cruzi – agente causador da doença de Chagas.

Para alguns especialistas no assunto, entretanto, a personalidade de um não combina com a do outro. Chagas era um sujeito ocupado demais com suas pesquisas, que vivia
alheio aos problemas da vida cotidiana. André Luiz, por outro lado, parece ter sido um homem essencialmente prático.

A segunda hipótese aponta para outro sanitarista histórico: Osvaldo Cruz (1872-1917), pioneiro no estudo de doenças tropicais. Mas, de novo, os estudiosos identificam discrepâncias de personalidade. Embora fosse um homem da ciência, Cruz era religioso,
enquanto André Luiz admite em Nosso Lar que tratava religião como mero compromisso
social.

Para muitos espíritas, a terceira hipótese é a mais plausível de todas: André Luiz teria sido o neurologista Faustino Esposel (1888-1931). Oriundo de uma tradicional família
carioca, ele deu aulas de neurologia e psiquiatria na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Presidiu o Clube de Regatas do Flamengo três vezes, entre 1920 e 1928. E seu temperamento, dizem os defensores da tese, coincidia com o do médico cujo espírito foi
parceiro de Chico Xavier.

“A conduta vibrante, a jovialidade, a inteligência, a perspicácia... Faustino Esposel e André Luiz tinham todas essas características em comum”, afirma Lori. A coordenadora do instituto espírita acredita que dificilmente saberemos quem realmente foi André Luiz.

Mas as comparações com o ex-presidente do Flamengo, pelo menos, rendem histórias bem-humoradas entre os seguidores do espiritismo. “Em nosso mural de recados na
internet, certa vez nos deparamos com uma mensagem posta por um jovem que dizia assim: se André Luiz fosse vascaíno, não teria passado tantos anos no umbral”.