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Matérias / Egito Antigo

Arqueólogos erraram ao abrir sarcófagos no Egito? Historiador responde

Na última semana, a revelação de 59 sarcófagos de 2.500 anos gerou um debate na Internet. Pensando nisso, conversamos com o professor de História Fernando Costa

Fabio Previdelli Publicado em 11/10/2020, às 09h00

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Um dos sarcófagos encontrados - Divulgação/Facebook/Ministério de Antiguidades do Egito
Um dos sarcófagos encontrados - Divulgação/Facebook/Ministério de Antiguidades do Egito

Descobertas arqueológicas milenares sempre impressionam, pois, além de revelar objetos inestimáveis, elas também, de certa forma, nos ensinam sobre como tal sociedade estudada se desenvolveu e se consolidou ao longo da história. 

Sem dúvida nenhuma, uma das que mais chamam a atenção ainda hoje é a dos egípcios antigos. Permeados por crendices em supostas maldições e pela completa admiração em grandes figuras como Cleópatra e Tutancâmon, o Egito gera curiosidade por ser berço de uma das civilizações que foram uma das bases da história humana e, principalmente, pelos diversos achados de pesquisadores e arqueólogos nas últimas décadas.  

Um dos sarcófagos de perto / Crédito: Divulgação/Facebook/Ministério de Antiguidades do Egito

A última delas, inclusive, aconteceu no início desse mês, em 3 de outubro, quando o Ministério de Antiguidades do Egito anunciou a descoberta de 59 sarcófagos de possíveis sacerdotes que faziam parte da 26ª dinastia, totalizando 2.500 anos selados. 

A missão que buscava por vestígios dos povos antigos daquela região foi iniciada em 2018. Posteriormente, uma tumba com animais mumificados e o lugar de descanso de Wahtye, um sacerdote que englobou a quinta dinastia, foram encontrados, além, é claro, das 59 tumbas — que foram localizadas em agosto após a exploração em três poços de 12 metros acompanhados por 28 estatuetas do deus Seker, relevante figura no ritual de morte. 

Após o anúncio, o Ministério de Antiguidades divulgou um vídeo sobre a abertura dos sarcófagos. O estado de preservação das múmias impressionou a todos, mas outro ponto que chamou a atenção de internautas foi o modo como eles foram abertos: com diversas pessoas observando o processo. O fato foi criticado, ainda mais, por gerar uma aglomeração desnecessária em meio a uma pandemia.

Além disso, diversos usuários das redes sociais se mostraram com um pé atrás por um objeto tão antigo assim ser aberto ao ar livre, afinal, alguma doença ou praga antiga poderia estar perambulando dentro do sarcófago, isso sem contar todo receio que uma possível maldição possa assombrar aqueles que ousam perturbar os mortos. 

Mas o que pensam pessoas área? O trabalho dos arqueólogos foi mesmo desrespeitoso? Há alguma preocupação quanto a doenças relacionas aos sarcófagos? 

“Uma lição importante para todos nós é a de pesquisar e analisar, e não simplesmente concluir. Com a expansão de páginas e usos da internet, surgem diariamente comentários e análises não embasadas cientificamente a respeito de novos achados arqueológicos”, diz o professor de História, Sociologia, Filosofia e Atualidades Fernando Costa,que leciona cursos on-line e oferece conteúdo gratuito para alunos no Youtube.

Uma das múmias encontradas / Crédito: Divulgação/Facebook/Ministério de Antiguidades do Egito

“Para a humanidade, a arqueologia é considerada a base para a compreensão do passado e dos rastros históricos da humanidade no tempo. A egiptologia, por exemplo, é um forte indicativo de área que nos traz incríveis informações através de suas pesquisas. Observar objetos, vestígios ósseos, pigmentos, questões alimentares e arquitetônicas que são analisadas meticulosamente diariamente por pesquisadores e pesquisadoras nos ensinam sobre como aquela sociedade, que é uma das bases da história humana, se consolidou e desenvolveu por milênios”, explica. 

Para Fernando, as escavações também são uma oportunidade direta para, justamente, derrubar mitos e quebrar falsas percepções que cada vez mais se alastram pelas redes sociais. “[Há] a ideia de que objetos antigos são perigosos ou devem ser isolados hermeticamente, e até casos de Fake News citando falsos casos de mortes anos após a abertura de tumbas e objetos”. 

Um dos mais recentes, relembra Costa, foi sobre um vaso de 2 mil anos encontrado na China que guardava um líquido desconhecido em seu recipiente — o caso foi divulgado em maio pelo site da AH.

“Surgiram imediatamente as hipóteses de que aquilo não deveria ser aberto, pois poderia conter mais uma doença ou germes que afetariam e poderiam agravar ainda mais a vida humana em meio à pandemia. Tal qual analisado por especialistas, tratava-se apenas de uma ânfora de vinho medicinal, cujo formato de cisne ajudou a preservar o líquido sem que evaporasse", explica o historiador. 

Foto do pote de bronze e detalhe do cisne esculpido / Crédito: Divulgação

Já sobre a abertura das tumbas, Fernando relembra que elas foram autorizadas pelo Khaled El Anani, atual ministro de turismo e antiguidades, que além do cargo importante que ocupa, também é especialista nessa área e teve o apoio de diversos arqueólogos e cientistas para tomar tal decisão.  

“Os supostos perigos acabam ganhando a mente de pessoas leigas ou que entram na moda do anti-iluminismo e anticientificismo”, explica. “Alguns vídeos e até um documentário narram lendas de pesquisadores que supostamente morreram meses depois a abertura de uma tumba em 1922. Os pesquisadores teriam tido pesadelos e calafrios, e seriam vítimas de alguma doença oculta ou até maldição”.  

“Nada disso corrobora ou colabora com a arqueologia. Todo o trato para a abertura das tumbas e das aéreas de sítios arqueológicos foram cuidadas e analisadas para que ocorresse a abertura das tumbas”, diz.  

Porém, de todos os pontos criticados, Fernando Costa acaba concordando com um deles: “Há um maior perigo de doenças na reabertura ao turismo no Egito, mesmo em meio à pandemia. Ali sim, há uma chance real e mais grave de que um vírus ainda sem cura cause um dano maior na sociedade e nos pesquisadores que se aglomeraram em meio à imprensa para exibir as novas descobertas”.  

Por fim, o historiador diz que “não se deve renegar ou ocultar a ideia de que os especialistas na área sempre são instruídos e cobrados à tomarem as medidas reais e meticulosas sobre o uso e manuseio de qualquer objeto arqueológico, devido à sua fragilidade e possibilidade de dano irreparável”.

Veja o vídeo da grande descoberta anunciada pelo Egito abaixo.


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