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Matérias / Yves Klein

Arte invisível: Yves Klein, o artista que vendia o 'nada'

Recentemente, uma curiosa peça criada pelo francês foi vendida por um valor equivalente a mais de 8 milhões de reais

Ingredi Brunato, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 09/04/2022, às 08h00

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Yves Klein durante exposição - Divulgação/ Youtube/ Christie's
Yves Klein durante exposição - Divulgação/ Youtube/ Christie's

Yves Klein foi um artista francês de exposições incomuns e estilo único, cujos influentes trabalhos são por vezes avaliados como precursores da própria arte moderna. 

Alguns de seus feitos incluem uma exposição em que modelos nuas eram usadas como "pinceis humanos", uma sinfonia musical que consistia de uma nota só, e o patenteamento de uma nova cor — batizada de International Klein Blue, se trata de uma tonalidade de azul que é obtida através de uma mistura específica de pigmentos. 

Fotografia de exposição de obras de Klein que usam seu tom de azul (à direita, inclusive, está um dos quadros pintados com a ajuda das mulheres nuas) / Crédito: Getty Images

O 'nada' e a arte

Um tema que se repete através das criações do francês, por sua vez, é o vazio. Ele está presente em sua famosa fotografia conhecida como "Leap into the Void", ou "Salte para o vazio", uma frase que evoca o conceito de mergulhar no desconhecido.

A imagem mostrava Klein no ar, em uma aparente queda livre que tinha como destino um doloroso impacto com o chão. Essa captura, vale explicitar, é uma montagem: seus amigos seguravam uma lona embaixo dele para amortecer a queda, conforme relembrado pelo site Arteref. 

Yves, porém, foi muito mais longe que isso em seu compromisso com transformar o "nada" em arte: em sua exposição "Zonas Imateriais de Sensibilidade Pictórica", ele colocou uma galeria vazia em exibição, e um total de por volta de 2.500 pessoas vieram para observar a ausência de objetos artísticos. 

Mais tarde, o artista francês ainda fez outro trabalho semelhante, em que vendeu recibos que, quando comprados, confirmavam que seu proprietário era dono de... um espaço imaginário.

O encarecimento do vazio

Os documentos, que foram confeccionados de forma a lembrarem cheques bancários, permitiam que uma "zona imaterial de sensibilidade pictórica" fosse comprada a um peso de ouro. 

De forma curiosa, Klein não apenas encontrou pessoas dispostas a adquirirem seus recibos de lugares vazios no período em que os criou, em 1959, como eles também foram se valorizando ao longo do tempo.

Conforme informações repercutidas pela CNN, no último 23 de março de 2022, exatamente 60 anos após a morte do artista, um desses documentos foi a leilão em Paris.

Recibo citado / Crédito: Divulgação/ Sotheby's

O papel, que conta com a assinatura de Yves, foi vendido por um quantia equivalente a mais de 8 milhões de reais, mostrando que "o nada" passou por uma verdadeira alta inflacionária desde a época do francês. 

O site da Sotheby's, casa de leilões parisiense que comercializou o item, apontou que o que Klein estava fazendo lá atrás não é tão diferente de um exemplo de mercadoria imaterial que é famosa atualmente:  

Alguns compararam a transferência de uma "Zona de Sensibilidade" e a invenção de recibos como um ancestral do NFT, que permite a troca de obras imateriais. Se acrescentarmos que Klein manteve um registro dos sucessivos proprietários das 'zonas', é possível encontrar outro conceito revolucionário, 'blockchain'", disse o estabelecimento.  

Os NFT's são obras criptodigitais, isso é, elas apenas existem dentro do ambiente virtual. Populares entre celebridades, essas mercadorias intangíveis são por vezes vendidas a dezenas de milhões de dólares. O "blockchain", por sua vez, é o registro de quem é dono do quê.