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Matérias / Ditadura Militar

Aurora do Nascimento Furtado, a jovem guerrilheira que foi torturada e morta pela ditadura militar

A militante era estudante de psicologia e membro da Ação Libertadora Nacional antes de ver sua vida acabar nas mãos dos militares brasileiros

Gabriel Fagundes Publicado em 31/03/2020, às 15h00

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Aurora do Nascimento Furtado - Wikimedia Commons
Aurora do Nascimento Furtado - Wikimedia Commons

Ela utilizava o codinome Lola, mas seu nome de registo era Aurora Maria Nascimento Furtado. Uma mulher que ficou marcada na história brasileira por ser uma das inúmeras vítimas da tortura do período do ditadura militar. Para o governo da época, ela foi considerada uma subversiva da ordem.

Aurora nasceu em 17 de junho de 1946, em São Paulo, filha de Mauro Albuquerque Furtado e Maria Lady Nascimento Furtado. Estudava psicologia na Universidade de São Paulo (USP), e colaborava com a imprensa da União Nacional dos Estudantes (UNE).

Foi devido à participação nos movimentos estudantis que ganhou o codinome, além de ter conhecido aquele que se tornaria seu namorado: José Roberto Arantes de Almeida, integrante do movimento que também foi preso e torturado e, que acabou morrendo no dia 4 de novembro de 1971.

Fachada do prédio da ANL / Crédito: Divulgação 


Quando jovem ela ainda trabalhou no Banco do Brasil, numa agência do Brás, em São Paulo. Decidiu ser uma militante do PCB, e na ocasião em foi decretado o AI-5, ela se viu obrigada a atuar de forma secreta para não ser presa. Em 1970, Lola mudou-se para o Rio de Janeiro e passou a fazer parte da Ação Libertadora Nacional (ALN). Ali, publicava o jornal do grupo chamado Ação.

Prisão

Porém, os exercícios de suas atividades não duraram muito. Isso porque acabou sendo presa em 9 de novembro de 1972, durante uma batida policial que fora realizada no bairro de Parada de Lucas, no Rio de Janeiro. Houve tiroteio que acabou matando um policial. Aurora até tentou se salvar se refugiando em um ônibus, mas foi capturada pelas autoridades.  

O pau-de-arara que era utilizado na ditadura / Crédito: Divulgação


No próprio local foi torturada no momento de sua tomada. Várias pessoas se juntaram para ver o ocorrido. Depois, a moça acabou sendo levada para a Invernada de Olaria, espaço onde foi persistida sua flagelação pelos policiais do DOI-CODI/RJ e integrantes do Esquadrão da Morte.

Nas sessões de tortura foram utilizados pau-de-arara, sessões de choques elétricos, espancamentos, afogamentos, queimaduras e a “coroa de Cristo” — uma fita de aço que vai sendo pouco a pouco apertada para esmagar o crânio da vítima.

Morte

Como consequência dos maus-tratos recebidos, em 10 de novembro de 1972 Lola acabou falecendo. Seu corpo, perfurado de balas, foi jogado na esquina das ruas Adriano com Magalhães Couto, no bairro do Méier, no Rio de Janeiro. Era uma desconhecida assim que chegou ao IML/RJ. Somente depois seu reconhecimento foi efetivado por sua família, e seu caixão teve ordens para ser lacrado quando retornasse para São Paulo.

O jornal O Estado de S. Paulo, naquele ano, descreveu o seu óbito:

“Na madrugada de ontem, Aurora Maria Nascimento Furtado, que fora presa às 9h40min de 9 de novembro, conduzia agentes da polícia carioca a um local do Méier, na Guanabara, onde estaria localizado um “aparelho” (local de encontro) da organização terrorista Aliança [sic] Libertadora Nacional, informa o documento distribuído ontem pelas autoridades de segurança da Guanabara. Chegando à esquina da rua Magalhães Couto e Adriano, Aurora pediu para descer. Disse que preferia, por motivos de segurança, dirigir-se sozinha, a pé, até o “aparelho”, próximo dali. Ao descer, Aurora saiu correndo e gritando em direção a um Volkswagen que estava nas proximidades. Nesse momento, começou um intenso tiroteio entre os agentes da polícia e os ocupantes do carro. Ao terminar o tiroteio, Aurora, baleada, estava morrendo, caída na rua. Preocupados em socorrer Aurora Maria, os agentes procuraram atendê-la. Com isso não alcançaram o grupo do Volkswagen, que arrancou em alta velocidade.”

Mas essa versão acabou sendo desmentida pela necrópsia realizada pelo IML. Os legistas Elias Freitas e Salim Raphael Balassiano confirmaram a falsa versão policial da morte no instante do tiroteio, eles assinalaram como a causa mortis os “[…] ferimentos penetrantes na cabeça com dilaceração cerebral”. Descreveram ainda as 29 perfurações por projétil de arma de fogo, embora não foi possível delimitar as entradas e as saídas dos tiros.

O laudo descreveu que tanto o tórax quanto o abdômen foram transfixados pelas balas de fogo, entretanto “[…] as cavidades pleurais não contêm sangue; a cavidade abdominal não contém sangue; na região glútea direita há três orifícios sem reação vital”. Ou seja, alguns dos tiros foram feitos quando Aurora já não estava mais viva, isso atesta que o tiroteio que foi falado, de fato, não ocorreu.

Além do que já foi exposto, em 10 de abril de 2013 a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo fez a 30ª audiência pública sobre o caso em questão. E depois do período da ditadura, duas ruas foram batizadas com o nome de Aurora, uma no bairro de Bangu, no Rio de Janeiro e outra no distrito de Jaçanã, na cidade de São Paulo.


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