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Matérias / Império Romano

Bar Kochba, o messias guerreiro que desafiou o Império Romano

Figura controversa, ele conduziu uma revolta judaica mal sucedida, que provocou a destruição de Jerusalém

Fábio Metzger Publicado em 16/11/2019, às 09h00

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Representação de Bar Kochba - Wikimedia Commons
Representação de Bar Kochba - Wikimedia Commons

Na história do judaísmo, poucos personagens são tão enigmáticos e polêmicos como Bar Kochba. Para alguns, ele foi um grande comandante militar que liderou os judeus contra a opressão do Império Romano no século 2º. Para outros, ele não passou de um indivíduo egocêntrico que, em função das circunstâncias da época, foi alçado à condição de messias, ou seja, de redentor de seu povo.

São poucas as informações escritas disponíveis sobre essa figura quase lendária. Seu nome original era Simão Bar Kosiva. O sobrenome Kosiva pode ter vindo de seu pai (Bar Kosiva significa filho de Kosiva) ou ser uma referência a uma vila rural onde ele teria sido criado como filho único.

Ao ser consagrado como líder dos judeus, teve seu nome alterado para Bar Kochba, que significa “filho de uma estrela”, em alusão a um versículo bíblico do livro Números. Essa estrela seria uma referência à vinda do messias – a profecia de que um descendente do rei David chegaria ao mundo para restaurar a nação de Israel e a paz na Terra.

Como líder militar, Bar Kochba revelou-se um chefe ao mesmo tempo talentoso e brutal. Dizia-se que ele costumava testar seus soldados exigindo que eles cortassem um dedo das mãos, como prova de bravura. De todo modo, por sua audácia, Bar Kochba logo se tornaria reconhecido como um grande guerreiro, principalmente entre os membros de sua seita, os zelotes.

De acordo com Andréia Cristina Lopes Frazão da Silva, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os zelotes eram um grupo religioso com forte caráter militarista. “Eles se recusavam a reconhecer o domínio romano. Respeitavam o Templo e a Lei. Opunham-se ao helenismo. Professavam um messianismo radical e só acreditavam em um governo teocrático, ocupado por judeus. Viam na luta armada o único caminho para enfrentar os inimigos e acelerar a instauração do Reino de Deus”, afirma Andréia Cristina em seu texto A Palestina no Século 1º d.C.

Roma versus Judeia

Estamos falando de uma época em que a Judeia era uma província romana. Povo monoteísta contrário à idolatria de imagens, os judeus viviam em conflito com a Roma politeísta, veneradora de ídolos.

Embora existissem membros da elite judaica interessados em manter uma boa relação com os romanos, havia também um crescente sentimento de insatisfação popular. É nesse ambiente que começaram a crescer as diversas ondas de messianismo entre judeus, incluindo a de Jesus Cristo.

Esse movimento gerou uma primeira grande revolta, nos anos 66 a 70, ferozmente esmagada pelo imperador Vespasiano, que ordenou a destruição do Templo de Herodes. As rebeliões populares contra Roma ressurgiram por volta do ano 115, já sob o governo de Trajano. O imperador romano reprimiu duramente esses movimentos, o que apenas tornou a situação ainda mais difícil para seu sucessor, Adriano, que assumiu o Império no ano 118.

No início, Adriano parecia simpático aos judeus, tanto que permitiu que eles retornassem a Jerusalém e reconstruíssem seu Templo Sagrado. No entanto, educado em Atenas, Adriano logo mostrou sua intenção de helenizar todo o Império, unificando-o não apenas politicamente, mas também do ponto de vista cultural.

Algumas de suas políticas adotadas em Jerusalém, como a abertura de escolas para o ensino de letras gregas, escandalizou os judeus da velha cidade. Outra medida que enfureceu os judeus foi a publicação, em 127, de uma lei proibindo a circuncisão dos recém-nascidos.

É nesse contexto que, a partir de 131, começou a ganhar forma uma nova revolta dos judeus. Na clandestinidade, os zelotes foram se organizando, formando milícias, preparando passagens secretas subterrâneas e dando consistência a seu plano de retomar Jerusalém.

Moeda do templo de Bar Kochba, o líder da revolta judaica contra Roma / Crédito: Wikimedia Commons

Foi aí que se destacou Bar Kochba, um homem comum que, de repente, tornou-se um importante líder e foi considerado até mesmo um messias, graças ao decisivo apoio do rabino Akiva, a maior liderança espiritual da Judeia. Bar Kochba logo demonstrou seu talento militar.

Ciente das limitações de seus comandados, ele evitou o combate aberto com as forças romanas, claramente superiores, recorrendo a táticas de guerrilha. Organizou pequenos grupos regulares de combate e, pouco a pouco, conseguiu expulsar as tropas romanas de suas posições. Cerca de três anos após o início da revolta, Bar Kochba conduziu seus soldados até Jerusalém, reconquistando a cidade e proclamando o restabelecimento da independência do Estado Judeu.

Nomeado nasi (príncipe), Bar Kochba obteve amplos poderes e estabeleceu um Estado teocrático. Nos anos que governou, ele ficou conhecido por seu estilo centralizador e pragmático, adaptando as formas de administração romanas às novas condições.

Suas preocupações mais urgentes foram organizar um novo Exército nacional, controlar pontos estratégicos para evitar a reação romana e redistribuir terras ao maior número possível de agricultores a fim de garantir suprimentos em casos de emergência.

A resistência em Betar

Após os primeiros reveses, porém, a poderosa Roma reestruturou suas forças para contra-atacar, enviando para a região mais soldados e seus melhores generais. Os romanos começaram a construir estradas desde os portos no Mediterrâneo até os centros das rebeliões.

Com isso, foram derrubando posições importantes, menos ocupadas, mas que eram fundamentais para o avanço militar. Já a partir de 133, Roma devastou regiões como as de Beit Govrin (área de cultivo agrícola) e assentamentos das chamadas montanhas reais.

O objetivo era derrubar as posições, uma a uma, de forma que elas não pudessem retornar às mãos dos judeus, isolando-os em Jerusalém e em outros pontos afastados. Assim, Roma foi deixando os judeus sem suprimento de alimentos e outros itens essenciais para a manutenção da estrutura do Reino de Israel.

Na primeira investida, que foi até 134, os judeus ainda resistiram. Mas já na primavera do mesmo ano, os romanos atacaram de novo, cercando Jerusalém e isolando a cidade. Os líderes da revolta, incluindo Bar Kochba, escaparam com suas tropas e refugiaram-se em Betar, cidade próxima a Jerusalém.

Ali resistiram até agosto de 135, quando finalmente a fortaleza de Betar ruiu. Bar Kochba foi preso pelos soldados romanos e condenado à morte. Decapitado, teve sua cabeça levada ao imperador Adriano como troféu.

Para os romanos, não bastou. A reação espalhou-se por toda a Judeia, onde cerca de 5 mil fortificações foram destruídas, quase mil aldeias foram arrasadas e mais de 500 mil pessoas foram mortas. Dezenas de milhares de judeus, homens e mulheres, foram capturados e vendidos como escravos.

Foi a tragédia definitiva que arrasou Jerusalém. Os judeus foram proibidos de pôr os pés na Terra Santa. Banidos do Império, no evento conhecido historicamente como diáspora, milhares deles espalharam-se mundo afora. Depois disso, Jerusalém seria reconstruída pelos romanos, mas o imperador Adriano ordenou a mudança do nome para Aelia Capitolina, para evitar qualquer associação com a cidade sagrada que ele acabara de destruir.

A revolta liderada por Bar Kochba até hoje divide os historiadores. Alguns descrevem esse episódio histórico como resultado de uma ação estúpida e desnecessária, que causou sofrimento a um grande número de judeus. Outros consideram a rebelião como um exemplo épico do heroísmo desse povo na luta contra a opressão dos romanos.


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