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Matérias / Crimes

Caçado pelo povo: a insana jornada de Marshall Ratliff, o Papai Noel assaltante

Em 23 dezembro de 1927, Ratliff colocou em prática um ousado plano: assaltar um banco vestido de bom velhinho. Apesar da audácia, no final das contas, uma multidão em fúria passou a perseguir a figura natalina

Fabio Previdelli Publicado em 31/10/2020, às 10h00 - Atualizado em 12/11/2021, às 11h00

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Cena do filme Natal Sangrento (2012) - Divulgação
Cena do filme Natal Sangrento (2012) - Divulgação

O fim de ano se aproxima, o Natal já está aí, batendo na porta. Nessa época do ano o chamado “Espírito Natalino” aquece os corações. O clima de paz e tranquilidade exala no ar. Uma data religiosa, uma figura querida. Nem mesmo o Grinch parece impedir a alegria pela chegada do bom velhinho.  

Era assim que as coisas caminhavam em dezembro de 1927 para Woodrow “Woody” Harris. Bom, pelo menos era assim que ele pensava estar vivendo. Mas tudo mudou no dia 23. Dirigindo o Oldsmobile da família, apesar de seus 14 anos, ele e seus parentes estavam ocupados finalizando as compras de Natal.

Quando parou em um semáforo, notou algo inusitado, um tanto quanto divertido, mas que logo causaria medo: um Papai Noel correndo na rua em sua direção.  

Um Oldsmobile 1927/ Crédito: Wikimedia Commons

Antes que pudesse entender o que estava acontecendo, o Bom Velhinho sacou uma arma, e os dois ajudantes - digo... homens que estavam com ele - também. Sua família foi expulsa. Seu carro foi tomado. Logo, o automóvel estava lotado com um saco gigante vermelho cheio de itens.

O Papai Noel também tirou da parte traseira de outro veículo, um homem que gemia e sangrava de dor. Ele logo foi alocado no Oldsmobile junto a duas crianças que não pareciam acompanhar o grupo por vontade própria. Um show de horror.

Ao horizonte, uma horda de pessoas ensandecidas rumava em direção ao criminoso. Todos raivosos e armados até os dentes. O que havia acontecido com o Papai Noel? Qual o motivo dele chegar ali naquelas condições? Qual o motivo dele estar armado? 

Os antecedentes criminais de Noel 

O homem fantasiado era Marshall Ratliff, um texano de 24 anos que não tinha o espírito natalino. Criador de problemas nato, preferia viver de pequenos crimes a ter um emprego estável. Ratliff já tinha um histórico de assalto a banco, chegando, inclusive, a ser preso junto com seu irmão Lee Ratliff.  

Perdoado por uma juíza, logo planejaram o próximo crime. Assim, decidiram encarar outro assalto a banco, desta vez em Cisco, no Texas, em uma pequena cidade no condado de Eastland, que tinha, na época, uma população de 7 mil habitantes.  

O plano era simples: pegar uma fantasia de Papai Noel, se disfarçar, passar um tempo em Cisco e, quando todos deixassem de desconfiar de sua presença, Marshall entraria no First National Bank com Lee e seus cúmplices e pegaria o dinheiro. 

Marshall Ratliff / Crédito: Dominio Público

Para isso, Marshall recrutou dois homens que ele conhecia: Henry Helms, 31, e Robert Hill, 21, que estavam dispostos a cometer assaltos à mão armada. Ratliff também alistou um arrombador de cofres, mas o homem adoeceu. Para piorar, seu irmão não pôde vir — depois de cometer outro roubo, ele foi detido e preso. 

Mas isso não o impediu. Para completar o bando, recrutou Louis Davis, parente de Helms. Um pai de família de 22 anos, sem antecedentes criminais, mas que estava desesperado por dinheiro, entretanto, impunha apenas uma condição: que não tivesse tiroteio. Como se pode imaginar, o pedido não foi atendido.  

Crime natalino 

O bando chegou à cidade no final da manhã de 23 de dezembro. Como planejado, Ratliff vestiu sua roupa de Noel e foi deixado a poucos passos do banco. Já Hill dirigiu o Buick até a porta perto de um beco nos fundos do banco e estacionou.  

Enquanto o Papai Noel caminhava, uma menina de seis anos, Frances Blassengame, puxou sua mãe pela mão para observar a figura natalina. Apesar do disfarce eficaz, Ratliff percebeu que ele se tornara um imã de crianças, que observavam detalhadamente seus passos.  

Pouco depois, o grupo entrou no banco, onde havia 16 pessoas, entre funcionários e clientes. Apesar de ser saudado com alegria, o cérebro do crime não manteve o personagem e logo ordenou: “Mãos ao alto”, ao mostrar uma arma.  

O First National Bank no centro de Cisco, Texas, foi o local do roubo/ Crédito: Divulgação/ Fort Worth Weekly

Rapidamente os empregados do banco começaram a colocar o dinheiro do caixa em sacos. Cerca de 12 mil dólares foram tomados. Outra quantia maior, 150 mil, foi recolhida com inúmeros cheques, títulos e objetos de valor.  

Enquanto o crime rolava dentro da agência, a pequena Frances entrou na instituição com sua mãe. Instantaneamente, elas foram impedidas de sair pela porta da frente, todavia, ignoraram os pedidos para ficarem paradas e escaparam pela porta dos fundos. As duas, inclusive, foram até o delegado informar o episódio. 

A caça de Papai Noel e seus ajudantes 

Ao saírem do local, no entanto, a dupla também chamou a atenção do público que rondava o local. Assim, logo uma multidão armada começou a se reunir em volta do banco. A prática se deu devido aos assaltos ocorridos na região, com o Texas Bankers Association oferecendo 5 mil pelo corpo de futuros assaltantes, "e nenhum centavo por pessoas vivas". Sim, esse protocolo estilo Velho Oeste não pagaria por nenhum bandido vivo. 

Se o bando sabia disso ou não, fato é que logo um tiroteio se iniciou pelas janelas do banco. Depois, uma perícia constatou mais de 200 marcas de disparo dentro do prédio. Mais de 100 pessoas com espingardas esperavam do lado de fora em busca do sangue de Papai Noel. 

Para chegar até o Buick, o grupo teria que sair pela porta dos fundos. Para isso, reuniu os 16 reféns em uma fileira, uma espécie de escudo humano. Mas isso não impediu os tiros vindos da multidão, que acertaram gravemente Davis. Ratliff também foi baleado na perna e na mandíbula. Pelo menos seis reféns também foram atingidos.  

Entrando no Buick com HillHelms, e Davis ferido, Marshall agarrou duas meninas, uma de 12 e outra de 10 anos, e as usou como proteção. Se as coisas já pareciam ruins, elas pioraram. Além de uma bala furar o pneu do carro, o veículo estava ficando sem gasolina. Foi nessa hora que Harris entrou em cena.  

Depois de forçá-lo a sair do veículo, o dinheiro, as reféns e os comparsas foram jogadas no banco de trás. Mas quando um dos homens ameaçou dar partida, eles perceberam que o agora falecido Woody Harris não havia entendido sua exigência: ele havia entregado o carro, mas as chaves não estavam lá.  

Recorte de jornal sobre o crime / Crédito: Divulgação

A população começou a se aproximar, Hill acabou sendo baleado no braço. O bando fugiu. Naquele momento, sua maior recompensa seria deixar a cena do crime com vida. Além do dinheiro e das meninas, Davis também foi deixado para trás. Ele acabou sucumbindo naquela noite.  

Em fuga e sem carro, Ratliff descartou a roupa de Papai Noel fugindo junto a seus comparsas. Os três ladrões tinham escapado temporariamente, mas foram perseguidos floresta adentro por caçadores sedentos pela recompensa. A busca envolveu civis, um avião, policiais e cães farejadores.  

A rendição e a recompensa 

Dias depois, eles foram encurralados. Ratliff trocou tiros com os perseguidores, mas acabou sendo preso depois de ser alvejado. Os outros dois criminosos escaparam, mas foram encontrados depois de 72 horas.  

Todos os três homens foram julgados por seus crimes, que resultaram em vários civis feridos e dois policiais mortos. Helms foi condenado à pena de morte, sendo executado em 6 de setembro de 1929, apesar de fingir insanidade. 

Hill se declarou culpado de roubo à mão armada, implorou por misericórdia e recebeu uma sentença de 99 anos. Ele escapou da prisão duas vezes antes de ser solto em liberdade condicional, em meados da década de 1940. 

O destino de Ratliff, o Papai Noel malévolo da gangue, foi singular. Acusado de roubo e rapto, foi condenado em 27 de janeiro de 1928 a 99 anos de prisão. Ele também foi acusado da morte de um policial em um julgamento separado, em 30 de março de 1928. Apesar de ninguém ter sido capaz de identificá-lo como o atirador, ele foi condenado à morte. 

Alegando insanidade, deixou de comer e falar. Aguardando uma decisão sobre seu recurso na prisão, um dia os carcereiros Tom Jones e “Pack” Kilborn decidiram ajudá-lo a comer.

Depois de servir uma refeição para ele uma noite, os dois acidentalmente deixaram sua cela destrancada. Longe de ser catatônico, ele entrou em ação, agarrando uma pistola de uma mesa próxima e atirando em Jones várias vezes antes que Kilborn conseguisse impedi-lo. 

Essa multidão trouxe seu próprio tipo de justiça para Marshall Ratliff/ Crédito: Divulgação/ Fort Worth Weekly

Mas o povo do condado não deu outra chance. Enquanto Jones estava sendo atendido em um hospital — onde morreu devido aos ferimentos — a multidão manteve vigília ao redor da prisão, crescendo de 1.000 para 2.000 pessoas que estavam se tornando mais e mais teimosas a cada hora. 

 À noite, eles decidiram que a justiça havia demorado muito. Assim, invadiram a prisão e prenderam Kilborn no chão, agarrando as chaves de sua cela. Eles libertaram Ratliff, então amarraram suas mãos e pés e o arrastaram para fora, perto de um poste. Usando um pedaço de corda, eles o amarraram pelo pescoço. 

A primeira corda se rompeu. A segunda não. Marshall foi encontrado morto na noite de 19 de novembro de 1929. As autoridades ordenaram que ele fosse abatido do mastro. Para torná-lo ainda mais um exemplo público, o antigo cadáver do Papai Noel foi exibido em uma loja de móveis no dia seguinte. Ninguém foi acusado de ligação com o linchamento.


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