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Matérias / Brasil

Caos urbano e pânico: Há 116 anos, ocorria a Revolta da Vacina

Ao serem adicionadas duas xícaras de autoridades que abusavam da força às massas ignorantes que moravam no Rio de Janeiro em 1904, formou-se a receita ideal para uma revolta

Ingredi Brunato Publicado em 11/11/2020, às 09h47

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Representação clássica da Revolta da Vacina na época que ela estourou - Wikimedia Commons
Representação clássica da Revolta da Vacina na época que ela estourou - Wikimedia Commons

Quando Rodriguez Alves assumiu o cargo de presidente do Brasil em 1902, ele tinha grandes desafios à frente, sendo um deles a modernização do capital do país, na época a cidade do Rio de Janeiro

Após grande crescimento populacional, os moldes coloniais da capital já não eram suficientes para abrigar seus moradores, abrigados em cortiços. Além disso, a cidade passava por uma crise sanitária, que gerava a disseminação de diversas doenças mortais, como a peste bubônica, febre amarela e varíola

Naquele período, o porto do Rio era também o mais importante do país, e um dos mais movimentados, contudo, ainda assim faltava estrutura para realizar as trocas comerciais com eficiência. Não havia espaço para deixar as cargas durante os descarregamentos, e o transporte também era dificultado pelas ruas estreitas. 

Foi então que o presidente decidiu fazer uma série de reformas urbanas e sanitárias, principalmente inspirado em projetos franceses de planejamento arquitetônico, e os ensinamentos de médicos como Louis Pasteur. Porém, a execução do empreendimento deu errado de diversas maneiras diferentes, ocasionando, inclusive, a caótica Revolta da Vacina. 

Obrigatório! 

Não havia nada de gradual nos projetos de Rodriguez, o que começou a gerar certa tensão entre os cariocas da capital. A situação chegou ao limite após a aprovação, no dia 31 de outubro de 1904, da lei de vacinação obrigatória contra varíola, como parte da campanha de saneamento conduzida pelo médico Oswaldo Cruz

Fotografia de Oswaldo Cruz / Crédito: Wikimedia Commons

Anteriormente, o profissional havia sido capaz de acabar com o problema da Peste Bubônica ao adotar medidas como, a compra de ratos, estimulando a população a caçar os animais transmissores da doença. Já essa proposta de combate da varíola acabou se tornando muito mais controversa. 

Algo que é preciso entender para visualizar como a Revolta da Vacina surgiu é que não existia consenso. Naquele período, a vacina era realmente benéfica. Havia diversas crenças e boatos cercando a medida sanitária, tal como a ideia de que era a substância que deixava as pessoas doentes, ou que os vacinados ficavam com “feições bovinas”. 

O novo projeto de lei, que havia encontrado resistência mesmo dentro do governo, exigia comprovantes de vacinação como parte dos documentos necessários para a realização de  contratos empregatícios, casamentos, hospedagens e matrículas em escolas, além de determinar que aqueles que se recusassem a passar pela agulha seriam submetidos a multas.  

Para os moradores do Rio de Janeiro, foi à gota d’água: primeiro, o Governo decidira forçá-los a deixarem suas casas, para que os cortiços fossem destruídos e as ruas alargadas, e agora, queria colocar substâncias suspeitas dentro de seus corpos.

A ideia dos membros da brigada sanitária - ou em outras palavras, desconhecidos - serem autorizados a invadir a casa das pessoas e espetá-las nos braços acabou provocando um desconforto geral.  

A revolta 

Fotografia de bonde virado em meio à revolta / Crédito: Wikimedia Commons

A Revolta da Vacina não teve líderes, nem foi planejada. Apenas aconteceu que, no dia 10 de novembro, algumas pessoas protestaram na Praça Tiradentes. No dia 11, vieram mais. No dia 12, as ruas estavam tomadas. Já no dia 13, o protesto saiu do controle, se convertendo em caos urbano. 

“Houve de tudo ontem. Tiros, gritos, vaias, interrupção de trânsito, estabelecimentos e casas de espetáculos fechadas, bondes assaltados e bondes queimados, lampiões quebrados à pedrada, árvores derrubadas, edifícios públicos e particulares deteriorados”, relatou a edição de 14 de novembro de 1904 do jornal Gazeta de Notícias. 

A manifestação ainda prosseguiu até o dia 16, quando afinal terminou de ser reprimida, processo que se deu de forma violenta, como era costume. Resultou em 945 prisões, 461 deportados, 110 feridos e ainda 30 mortos. 

Reflexões posteriores 

“Todos saíram perdendo. Os revoltosos foram castigados pelo governo e pela varíola. A vacinação vinha crescendo e despencou, depois da tentativa de torná-la obrigatória. A ação do governo foi desastrada e desastrosa, porque interrompeu um movimento ascendente de adesão à vacina”, disse o historiador Jaime Benchimol, segundo apurado pela Agência Fiocruz de Notícias. 

Embora tenha acontecido de forma mais ou menos espontânea, em resposta não só às atitudes recentes do governo, mas também a suas faltas de longa data em relação às camadas mais pobres, também é possível dizer que existiram figuras de posição privilegiada instigando a insatisfação do povo como forma de ataque ao presidente Rodriguez Alves.

Uma última curiosidade irônica sobre o assunto é que em 1908, apenas quatro anos depois, o surto de varíola alcançou um estado crítico no Rio de Janeiro, registrando quase 10 mil casos, o que levou a população a ir se vacinar voluntariamente. 


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