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Matérias / Carnaval

Il Carnevale: A festa em Veneza

Conheça a tradição do Carnaval na cidade italiana de Veneza

Claudia Castro Lima Publicado em 05/03/2019, às 09h00

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Acervo AH
Acervo AH

Em 1680, Veneza não é mais a mesma. A cidade que durante séculos foi - ao lado de Gênova e Florença - a principal porta de entrada (e saída) da Europa, vem perdendo espaço para portos como Lisboa e Roterdã. Mas, uma vez por ano, a cidade famosa por seus canais, às margens do mar Adriático, ainda recebe gente do mundo todo, como antigamente recebia os grandes navios das rotas de seda e especiarias que cruzavam o Mediterrâneo.

É o Carnaval, uma tradição meio pagã, meio cristã que em Veneza ganhou uma expressão particular. A festa começa no dia 26 de dezembro e segue até a quarta-feira que marca exatos 40 dias antes do domingo de Páscoa. Misturando pessoas de diferentes classes, credos, culturas e nações, é uma festa em que todo mundo é igual e na qual tudo (tudo mesmo) é permitido.

Em Veneza, o uso de máscaras não era exclusivo dos períodos de Carnaval. No entanto, leis do século 14 proibiram o uso delas à noite, em conventos e igrejas. A desobediência dava até dois anos de cadeia e multa, mas pouca gente cumpria a lei à risca. Em 1608, as máscaras foram liberadas, mas apenas durante os dias de festa. As máscaras são inspiradas na commedia dell"arte, manifestação de teatro popular que imortalizou personagens como Arlequim, Pierrô e Colombina

Durante o Carnaval, ninguém é de ninguém. E a única proteção exigida é uma máscara. Elas garantem anonimato aos casais recém-formados que transam nos becos e ruas mal iluminados: não se sabe se quem está por trás delas é uma dama da corte, um nobre, um comerciante ou uma camponesa

Na praça São Marcos ocorre o desfile de fantasias, chamado de liston. A bauta (meia-máscara usada com capa e chapéu) e a roupa de Pantaleão (outro personagem da commedia dell"arte) são comuns ao lado de pierrôs e colombinas. Homens se vestem de mulher e mulheres de homem. Há fantasias de padre, diabo, bobo e animais selvagens, como ursos e lobos

Toda essa festa é movida a muita comida e bebida. Bebem-se cerca de 18 mil litros de vinho, consomem-se carnes, panquecas e massas demais. As refeições terminam com o frittelle, um bolinho doce frito. Como a quaresma se aproxima, a idéia é abusar de tudo para compensar os desejos futuros

Além da bebedeira, da música e do sexo liberado, durante o Carnaval ocorre uma série de eventos, tradicionais em feiras e festas religiosas. São competições, demonstrações de força e exposições de animais. No número conhecido como "Vôo do Turco", por exemplo, um homem atravessa a praça São Marcos em uma corda esticada a 20 metros de altura. No local, acontecem corridas de cavalos e de touros, batalhas de cavaleiros, peças de teatro e guerra de ovos

A população de Veneza, de quase 200 mil pessoas, duplica nessa época do ano. Os turistas chegam ao porto de Veneza e se hospedam em pequenos hotéis ou, simplesmente, dormem nas ruas. Tantos visitantes atraem comerciantes, mascates e todo tipo de gente. A cidade, já tradicionalmente habitada por povos diferentes, recebe gente de toda a Europa, árabes, turcos e africanos, que ajudam a espalhar a fama da festa pelo mundo

As músicas renascentistas ainda são as preferidas. São umas quadrinhas fáceis de guardar, nas quais o final de cada verso é repetido no seguinte. Mas o pessoal se diverte também ao som de operetas, cantatas e fugas tocadas em alaúdes, cravos e espinetas. Esse ano, a novidade é o rommelpot holandês, um instrumento feito com uma bexiga de porco esticada sobre uma botija com um pouco de água. Tocado com uma vara de junco, ele emite um som parecido com o esganiçar de um porco, ou uma cuíca

Durante a festa, há batalhas de ovos, frutas e outros objetos. Tudo isso, junto aos restos de comida e bebida, se acumula às toneladas nasruas da cidade, principalmente na praça São Marcos. O Carnaval também é um período de violência. Reúna muita bebida, brincadeiras (que nem sempre agradam), os insultos públicos (que fazem parte da tradição) e as máscaras, que impedem o reconhecimento, e o resultado é que, em 1680, 17 pessoas foram mortas e centenas ficaram feridas