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Matérias / Crimes

Caso Eloá Cristina: o sequestro seguido de morte que abolou o país

Tema do primeiro episódio do 'Linha Direta', Caso Eloá Cristina chamou a atenção de todo o país em 2008

Redação Publicado em 18/10/2020, às 17h14 - Atualizado em 05/05/2023, às 01h04

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Eloá na janela de seu apartamento durante o sequestro - Reprodução/Vídeo/YouTube
Eloá na janela de seu apartamento durante o sequestro - Reprodução/Vídeo/YouTube

Às 23h desta quinta-feira, 4, estreia na TV Globo a nova edição do 'Linha Direta', um emblemático programa da televisão brasileira que se popularizou originalmente no final da década de 1990, apresentando um conteúdo investigativo sobre casos policiais famosos no Brasil, tanto solucionados quanto inconcluídos.

E para o primeiro episódio da nova edição, que será apresentada pelo jornalista Pedro Bial, o crime que será lembrado será o hoje conhecido como Caso Eloá Cristina, uma adolescente de somente 15 anos que, no dia 13 de outubro de 2008, foi alvo da atenção de todo o país por 4 dias, sendo mantida como refém pelo ex-namorado, Lindemberg, e cruelmente assassinada no final.

Pedro Bial, novo apresentador do 'Linha Direta'
Pedro Bial, novo apresentador do 'Linha Direta' / Crédito: Reprodução/Vídeo/YouTube

Caso Eloá Cristina

Em uma tarde tranquila, Eloá Cristina Pimentel, de 15 anos, fazia um trabalho da escola com mais três colegas, em um apartamento em Santo André, no ABC Paulista. Acompanhada por uma de suas melhores amigas, Nayara Rodrigues da Silva, a menina não poderia imaginar o terror que enfrentaria nas 100 horas que se seguiriam.

No dia 13 de outubro de 2008, enquanto os jovens se preocupavam com o trabalho curricular, Lindemberg Fernandes Alves, de 22 anos, ex-namorado de Eloá, traçava outros planos. E essas três pessoas, Eloá, Lindemberg e Nayara, se tornaram as alvo do que ficou conhecido como o mais longo sequestro em cárcere privado de São Paulo.

Tudo começou quando Lindemberg invadiu o apartamento da ex-namorada, motivado pelo fim do relacionamento, conforme divulgado pelos veículos jornalísticos na época. O ato “passional”, como foi descrito, logo escalou para algo muito mais preocupante: inicialmente, dois dos amigos de Eloá foram liberados, enquanto a jovem e Nayara foram mantidas em cativeiro.

A polícia foi chamada e, com ela, os moradores ouviram helicópteros e vans de veículos jornalísticos e diversas redes de televisão. Rapidamente, canais tinham câmeras apontadas para a janela do apartamento de Eloá. Lindemberg, durante picos de adrenalina, mantinha as meninas na sala da residência e via sua imagem passando na televisão.

Eloá Pimentel, de 15 anos / Crédito: Reprodução/Facebook

Os oficiais responsáveis pelo caso tentaram negociar com o sequestrador e finalmente liberar as vítimas, mas pouca coisa era retirada do rapaz. Em meio a toda confusão incessante, envolvendo tentativas frustradas de negociações em um caso difícil para a polícia, um dia se passou. Já no dia 14 de outubro, às 22h50, Nayara foi solta e pôde ir para casa. Os jornalistas cobriram sua libertação e filmaram seu rosto assustado, enquanto ela saía do apartamento, pensando na amiga que seguia presa.

Eloá, ocasionalmente, saía na janela, mostrava que estava viva e bem, apesar das condições, e pedia por calma. As coisas, no entanto, saíram do controle quando, no dia 15, Nayara voltou ao local do cárcere.

Plano equivocado

A ideia era que a jovem conseguisse negociar pessoalmente com Lindemberg. O resultado, como podemos imaginar, não foi o esperado: Nayara voltou a ser uma das sequestradas.

“A volta da Nayara não foi planejada, foi um excesso de confiança na Nayara porque o Lindemberg tinha dito que se entregaria na presença dela e do irmão mais novo de Eloá”, disse Adriano Giovanini, policial do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) em 2012. Ele explicou que a volta da jovem ao cativeiro não foi planejada, segundo repercutido pelo portal de notícias UOL na época.

Com os nervos à flor da pele, as negociações frias e muita pressão popular — proveniente da cobertura incessante dos jornalistas —, os policiais do Grupo de Ações Táticas Especiais e da Tropa de Choque da Polícia Militar disseram ter ouvido um disparo de arma de fogo vindo do interior do apartamento. Então não pensaram duas vezes: explodiram a porta.

Lá dentro, os oficiais entraram em luta corporal com o sequestrador. Em resposta à atitude da polícia, Lindembergatirou na direção das duas reféns, acertando-as: Nayara levou um tiro no rosto e Eloá foi baleada na cabeça e na virilha.

No final, Nayara deixou o apartamento andando, Eloá foi carregada até o Centro Hospitalar de Santo André e Lindemberg, por fim, saiu algemado. Tudo, o tempo todo, acompanhado pelas câmeras das redes televisivas.

Às 23h30 do dia 18 de outubro, um sábado, Eloá foi dada como morta por morte cerebral, em decorrência dos dois tiros que levou. Assim, a vida da garota de 15 foi tirada por um crime que abalou o Brasil.

O sequestrador foi preso e, em janeiro de 2009, o juiz José Carlos de França Carvalho Neto, da Vara do Júri e Execuções Criminais de Santo André, determinou que Lindemberg iria a júri popular. Anos mais tarde, o julgamento durou 4 dias — de 13 a 16 de fevereiro de 2012.

Lindemberg foi considerado culpado pelos 12 crimes dos quais foi acusado, sendo eles: um homicídio, duas tentativas de homicídio, cinco cárceres privados e quatro disparos de arma de fogo. Sua pena inicial foi de 98 anos e 10 meses, sentenciada pela juíza Milena Dias — sentença esta que, posteriormente, foi reduzida para 39 anos.

Em 2021, Lindemberg teve uma progressão em sua pena, que passou a ser de regime semi-aberto, o que lhe possibilitava algumas saídas do presídio no ano. No entanto, pouco menos de 4 meses depois da decisão, foi revogada sob o argumento de que um teste de personalidade do homem apontava "traços narcísicos e antissociais, além de contar com impulsividade elevada e pouca capacidade de afeto, apresentando postura autocentrada", como apontado pelo g1.

Além disso, também foi ressaltado no laudo que ele apresentava "personalidade agressiva e com alternâncias de comportamento", e "fantasias imaturas, traços egocêntricos e necessidade de controle sobre o ambiente", o que fazia dele um potencial risco à sociedade.

Problematizações

Quando a população soube que Eloá foi morta depois da atitude tomada pelos oficiais, muitas críticas surgiram. A primeira delas foi direcionada à própria polícia: muito se foi falado sobre como os responsáveis levaram o caso, tanto em relação às negociações, quanto em relação ao momento da prisão de Lindemberg.

Cena do documentário 'Quem matou Eloá?' que mostra uma entrevista de Nayara / Crédito: Reprodução/DOCTELA

Em 27 de outubro de 2008, o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa (Condepe) fez uma denúncia na Ouvidoria das Polícias de São Paulo. No documento, o órgão pediu para que fosse investigado se Lindemberg sofreu agressões desnecessárias durante a operação.

Além disso, a mídia foi uma das maiores criticadas durante os meses seguintes ao caso. O documentário 'Quem matou Eloá?', lançado em 2015 e dirigido por Lívia Perez, ergue a discussão sobre a porcentagem de culpa dos jornalistas na morte da jovem de 15 anos. 

A maior crítica em relação aos veículos jornalísticos diz sobre a espetacularização do caso. Segundo especialistas, a mídia brasileira tratou o caso Eloá como um filme, algo parecido com entretenimento, e não como um caso real, de uma menina que foi morta, depois de cinco dias sendo mantida em cárcere privado pelo ex-namorado.