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Matérias / Crimes

Caso João Pedro Mattos: o menino negro que foi morto durante uma operação policial

No dia 18 de maio de 2020, a Polícia Civil e a Polícia Federal foram até o Complexo do Salgueiro em busca de líderes criminosos, mas a operação causou a morte de um garoto de 14 anos

Nicoli Raveli Publicado em 01/06/2020, às 20h00

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O jovem João Pedro Mattos - Divulgação
O jovem João Pedro Mattos - Divulgação

O dia 18 de maio de 2020 ficará marcado para a história. O motivo, todavia, é para ser lamentado. Naquela manhã, uma operação da Polícia Civil e da Polícia Federal foi realizada no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, e o ato acabou em tragédia.

Em busca de líderes criminosos, os policiais cercaram a área pelo solo e também pelo ar, com a ajuda de um helicóptero. Naquele momento, João Pedro Mattos, de 14 anos, e outras seis crianças estavam reunidas e jogavam sinuca na casa de um parente.

De acordo com os moradores, os jovens ouviram os tiros e, em seguida, procuraram se refugiar — assim como muitos fazem durante uma operação policial em complexos.

Foi então que os policiais entraram na casa do tio de João e dispararam mais de 70 vezes. "Os policiais saíram atirando", relatou um primo em uma rede social. Ao perceber que uma das crianças havia sido atingida, os homens o levaram até o carro de policiamento.

A morte de João Pedro de Mattos

O garoto era João Pedro, que posteriormente foi transportado por um helicóptero e, supostamente, levado até um hospital. De acordo com os parentes, eles não tiveram o direito de acompanhá-lo na aeronave. Ao procurar pelo menino, porém, a família não encontrou nenhum registro nos hospitais de São Gonçalo.

João Pedro Mattos, morador do Complexo do Salgueiro / Crédito: Divulgação

E realmente não havia registro algum. Ele sequer foi levado para uma unidade hospitalar. No dia posterior, os familiares tiveram a dor de localizá-lo no IML de Tribobó, em São Gonçalo: ele foi fatalmente atingido pelas costas e a bala ficou alojada na altura das costelas.

"A polícia chegou lá de uma maneira cruel, atirando, jogando granada, sem perguntar quem era. Se eles conhecessem a índole do meu filho, quem era meu filho, não faziam isso. Meu filho é um estudante, um servo de Deus. A vida dele era casa, igreja, escola e jogo no celular", disse o pai do jovem.

Devido à brutalidade, os policias foram interrogados e afastados da profissão — e ainda alegaram que apreenderam granadas e uma pistola na residência. Segundo a família, foram apreensões forjadas para incriminar a criança.

Ainda durante o depoimento, um dos agentes alegou que utilizou um fuzil Parafal calibre 762 para disparar, enquanto outros dois — que atiraram na direção do imóvel — disseram que usaram fuzis 556. Todas as armas foram contidas para análise.

O primeiro a depor, porém, omitiu a utilização de outra arma: ele também usou um fuzil calibre 556 ao entrar na casa. Questionado sobre a omissão, afirmou que só se deu conta que utilizou sua arma reserva ao contar os cartuchos.

Agora, a arma que foi entregue posteriormente — no dia 25 de maio — também passará por uma perícia para que possa ser comparado ao projétil que foi retirado de João.

Pais de João Pedro Mattos em entrevista / Crédito: Divulgação/Fantástico

Investigações

Devido à repercussão, a Polícia Civil alegou que a Corregedoria-Geral criou um inquérito para apurar a conduta dos policiais civis que participaram da ação no Complexo do Salgueiro e a morte do garoto.

“Foi realizada perícia no local e testemunhas prestaram depoimento na delegacia. Os policiais já foram ouvidos e as armas apreendidas para confronto balístico. O piloto do helicóptero prestará depoimento e familiares também serão ouvidos. Os laudos periciais estão sendo analisados e outras diligências estão sendo realizadas para esclarecer as circunstâncias do fato”.

A Defensoria Pública do Rio, entretanto, não acredita que as corporações policias serão capazes de investigar um crime e julgar seus próprios integrantes. Por isso, foi aberto um Procedimento Investigatório Criminal para que haja uma investigação independente.

Manifestações

Nenhuma dessas ações, porém, acalmou a população que se sentiu ofendida pela morte do jovem. Por isso, a Anistia Internacional Brasil e Justiça Global e o Coletivo Papo Reto — que tem sede no Complexo do Alemão — afirmaram em nota que repudiam as operações policiais ocorridas no Complexo do Salgueiro.

“Exigimos que as polícias adotem os mesmos parâmetros de atuação em todos os territórios do Estado e das cidades e só realize operações quando tiverem a total garantia de que as vidas de todos e todas os moradores estejam protegidas”.

Protestos em frente a sede do governo do Rio de Janeiro / Crédito: Divulgação/Instituto Marielle Franco

Além disso, a luta da sociedade também não ficou de fora. Dentre diversas manifestações, a do último domingo, 31, chamou a atenção. Moradores das comunidades cariocas foram até a sede do governo do Rio de Janeiro, onde estenderam uma faixa com a frase “Vidas negras e faveladas importam”.

Denúncia

A comoção pela morte do jovem foi além e levou Renata Souza — deputada estadual do PSOL e presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) — e Marcelo Freixo, deputado federal do PSOL, a denunciarem o assassinato de João Pedro à Organização das Nações Unidas e Organização dos Estados Americanos.

Mensagem da agência das Nações Unidas, Unicef / Crédito: Divulgação/Unicef

Ademais, a denúncia também engloba a morte de mais de 10 pessoas que foram mortas durante uma operação no Complexo do Alemão no dia 15 de maio deste ano.


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