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Matérias / Arqueologia

Chan Hol 3: A curiosa saga do esqueleto de 9.900 anos encontrado desfigurado

Restos mortais achados por acidente tornaram-se extremamente importantes por pertencerem a uma das primeiras habitantes da história do que hoje é conhecido como México

Fabio Previdelli Publicado em 19/11/2020, às 06h00

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O crânio encontrado submerso - Divulgação/ Eugenio Acevez
O crânio encontrado submerso - Divulgação/ Eugenio Acevez

Em setembro de 2016, os exploradores Vicente Fito e Ivan Hernandez encontraram os restos mortais de uma mulher enquanto mergulhavam na caverna Chan Hol, que fica perto de Tulum, uma cidade no México.  

Na época, eles estavam procurando por um antigo esqueleto conhecido como Chan Hol 2, cujo alguns ossos haviam sido roubados por ladrões. Inicialmente, eles pensaram que a ossada realmente pertencesse a Chan Hol 2, afinal, ela foi localizada apenas 140 metros de distância uma da outra.  

Porém, uma análise minuciosa logo provou que os restos mortais pertenciam a outra pessoa. Uma comparação dos novos ossos com fotos antigas de Chan Hol 2 mostrou “que os dois devem representar indivíduos diferentes”, afirmou Wolfgang Stinnesbeck, professor de bioestratigrafia e paleoecologia do Instituto de Ciências da Terra da Universidade de Heidelberg, na Alemanha. 

A ossada encontrada / Crédito: Divulgação

Apesar da frustração, em um primeiro momento, eles descobriram que o esqueleto, que estava cerca de 30% completo, pertencia a uma mulher que tinha por volta de 1,64 metros de altura e morreu na casa dos 30 anos.  

Mas o que mais impressionou é que testes revelaram que ela havia vivido há pelo menos 9.900 anos, tornando-se uma das primeiras habitantes conhecidas no que hoje é o México. Como se isso não fosse o suficiente, foram encontradas diversas deformações em seu crânio, o que gerou ainda mais interesse na descoberta.  

O crânio desfigurado 

Em sua cabeça, a mulher tinha três lesões de diferentes naturezas, o que indica que algo a atingiu com brutalidade, quebrando os ossos de seu crânio. Além do mais, sua caixa óssea que protege o cérebro tinha deformações semelhantes a crateras, lesões que, segundo um estudo posterior, pareciam ser causadas por um parente bacteriano da sífilis.  

"Parece realmente que esta mulher passou por momentos muito difíceis e um final extremamente infeliz de vida", disse Stinnesbeck em entrevista ao Live Science. "Obviamente, isso é especulativo, mas dados os traumas e as deformações patológicas em seu crânio, parece um cenário provável que ela pode ter sido expulsa de seu grupo e foi morta na caverna, ou foi deixada na caverna para morrer lá”, explica. 

As explicações para as deformidades 

O professor Wolfgang também explica que os três ferimentos sugerem que ela teve um fim violento. "Não há sinais de cicatrização dessas feridas, mas ainda é difícil dizer se ela morreu por causa dessas feridas ou sobreviveu aos golpes [por] algum tempo". 

Local onde os restos de Chan Hol 3 foram encontrados / Crédito: Divulgação

Outro ponto que não está muito claro é como a caixa craniana desenvolveu tais amassados e deformidades semelhantes a crateras. Uma das possibilidades é que a mulher tinha peritonite por Treponema que, como já dito, é uma doença bacteriana relacionada à sífilis. Caso isso se confirme, ela se tornaria a pessoa mais antiga que se tem conhecimento a ser portadora da doença nas Américas.  

“Ela teria uma área inflamada onde estava a infecção que seria muito dolorida ao toque, com possíveis rupturas na pele", explica Samuel Rennie, co-pesquisador que atua como antropólogo bioológico e forense. 

Outra alternativa é que ela tivesse uma inflamação óssea grave, conhecida como periostite, um periósteo inflamado, ou seja, o tecido conjuntivo que envolve o osso. “[É possível que] essas deformações do crânio tenham sido causadas pela erosão do crânio na caverna”, diz Wolfgang

Essa dúvida só será sanada quando, no futuro, o crânio da mulher for levado para uma tomografia computadorizada, que ajudará a diagnosticar com exatidão as lesões e os traumas encontrado na cabeça dela. 

Cáries e distinção de grupos 

Assim como os outros esqueletos encontrados em Tulum, Chan Hol 3 também possui um crânio distinto. Uma pesquisa que analisou 452 caixas ósseas que protegem o cérebro, retirados de 10 diferentes populações primitivas americanas, mostrou que os encontrados em Yucatán “tinham crânios que eram diferentes de qualquer um dos outros lugares” que foram comparados. 

A mulher com o crânio deformado tinha uma caixa cerebral mais longa e estreita, por exemplo, do que outros povos antigos do México. Havia diferença também em seu rosto, que era um pouco mais estreito. A constatação revela que havia ao menos dois grupos distintos vivendo na região no final da última era glacial.  

Pesquisadores analisando os restos de Chan Hol 3 / Crédito: Divulgação

Além disso, os crânios da caverna de Tulun, incluindo a de Chan Hol 3, possuíam cáries nos dentes, o que sugerem que os antigos seguiam uma dieta rica em açúcar que, provavelmente, eram provenientes de tubérculos, frutas, cactos, doces e até mesmo o mel de abelhas nativas sem ferrão. O que contrasta com a dentição das primeiras populações americanas, que tinham os dentes desgastados, mas sem cáries, por se alimentarem com comidas duras e com baixo teor de açúcar.


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