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Matérias / Estados Unidos

Há 189 anos, Nat Turner era enforcado por incitar um levante de escravizados

Como já dizia a mãe de Nat, ele tinha "um grande propósito" em sua vida, ele sabia que estava na hora de organizar uma revolta contra o domínio branco

Ingredi Brunato Publicado em 11/11/2020, às 00h00

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Ator Nate Parker como Nat Turner no filme O Nascimento de uma Nação, de 2016 - Divulgação/Fox
Ator Nate Parker como Nat Turner no filme O Nascimento de uma Nação, de 2016 - Divulgação/Fox

Nat pensava que havia sido enviado pelos céus para libertar seu povo, e foi com essa crença que liderou 50 escravizados e homens negros livres em uma das mais sangrentas rebeliões escravistas da história dos Estados Unidos

Até hoje, ele é lembrado pela comunidade afro-americana que vive no país como um importante líder dentro do movimento anti-escravagista. Ainda que tenha sido enforcado pela revolta, sua corajosa iniciativa certamente serviu de inspiração para outros que enxergavam que o absurdo tratamento dado a pessoas negras não era justo ou ético. 

O nascimento de um líder 

Nat nasceu no estado de Virgínia, nos Estados Unidos, e foi registrado com esse pequeno nome de três letras. Seu sequestrador, todavia, se chamava Samuel Turner, e foi assim que surgiu o nome pelo qual o homem ficou conhecido: Nat Turner

Uma grande característica da vida do escravizado foi sua paixão pela religião católica. Aprendendo a ler e escrever ainda quando era criança, o que era extremamente incomum em sua época, o afro-americano era muito dedicado aos estudos da Bíblia.  

Ainda pequeno, Nat ficou conhecido pelo apelido de “Profeta”. Sua mãe e avó lhe disseram que tinha 'um grande propósito'. E estavam certas. 

Com o passar do tempo, o homem se tornou condutor de diversas seções religiosas, em que explicava os contos e princípios bíblicos a outros escravizados de sua comunidade. Foi assim que Turner acabou ganhando o respeito dos outros, e assumindo um papel de relevância entre seus companheiros. Era o nascimento de um líder, que não se calou diante tanto sofrimento. 

Ator Nate Parker como Nat Turner no filme O Nascimento de uma Nação, de 2016 - Crédito: Divulgação/Fox

A fé e Nat

O pregador dos escravizados era particularmente cativante por não ser movido por um desejo de liderar outros, e sim por uma crença profunda nos princípios que seguia. 

Um momento em que isso aconteceu foi quando uma visão mandou Turner fugir de seu proprietário aos 21 anos de idade, porém apenas um mês depois, outra mensagem dos céus o fez voltar. Seriam testes de sua fé? Caso fossem, o escravizado se provou digno, porque não muito tempo depois, uma visão o fez acreditar que ele era ‘o escolhido’ para libertar seu povo do domínio branco. 

Apesar de saber se o incumbido para a tarefa, todavia, ainda era preciso esperar pelo momento certo. Nat aguardava um sinal de que era hora de arquitetar uma insurreição. Foi então que, uma noite, o escravizado presenciou um eclipse lunar, e soube o que precisava fazer: assim como a Lua branca havia sido tomada pela sombra, era o momento dos negros que viviam naquele condado de Virgínia pegar de volta o que era deles por direito. 

Uma curiosidade é que, para espalhar a notícia da revolta sem levantar as suspeitas da minoria branca privilegiada que vivia ali, os escravizados teriam se utilizado de canções. Também secretamente, os afro-americanos da comunidade foram capazes de reunir facas, machados e outras armas que embora simples, eram suficientemente eficientes. 

A revolta 

Entre 55 e 65 brancos, dentre os quais estavam homens, mulheres e crianças, foram mortos no sangrento levante. A certa altura dele, todavia, os escravizados perderam o controle da situação, devido a ação de um grupo de homens enviados pelo Estado, e contando com uma artilharia muito mais tecnológica. 

Cerca de duzentas vidas negras foram então perdidas, tanto no processo de repressão da revolução quanto após ela estar terminada. Evidentemente, a maioria dos que morreram sequer haviam participado da insurreição, porém isso não importou para os brancos. Nat Turner acabou fugindo para a floresta, contudo, não demorou muito para que um fazendeiro descobrisse sua localização, e o líder da revolta fosse capturado. 

Ilustração representando o momento da captura de Nat Turner - Crédito: Wikimedia Commons

No dia 10 de novembro de 1831, Nat foi então enforcado pelos seus atos. Segundo o próprio, todavia, a revolução teria sido obra de Deus, com ele sendo meramente seu condutor. 

Depois do episódio, as leis da região foram tornadas ainda mais repressoras. Entre essas, estava a proibição de educação para afro-americanos, o impedimento de voto ou possuíssem armas, e ainda a determinação da presença obrigatória de um branco durante suas reuniões religiosas. 

Era o aumento da tempestade logo antes do céu afinal clarear para os povos sequestrados da África. Três décadas mais tarde, a escravidão nos EUA seria abolida, passo importante para a conquista de um tratamento digno para afro-americanos no país, contudo, definitivamente não a última etapa antes que seus diretos passassem a ser de fato respeitados, que é uma luta que persiste até os dias atuais no mundo inteiro.