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Matérias / Ciência

Como uma pesquisa identificou traços de DNA aborígenes australianos em indígenas brasileiros

O estudo foi publicado em março na revista americana Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS)

Giovanna Gomes, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 27/04/2021, às 16h21

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Os povos indígenas Mundurucus - Getty Images
Os povos indígenas Mundurucus - Getty Images

Um recente estudo realizado por pesquisadores brasileiros aponta que indígenas de diferentes tribos distribuídas ao longo do continente americano, incluindo brasileiros, possuem uma pequena parte de seu DNA semelhante ao dos aborígenes australianos. 

Conforme divulgou a Revista Pesquisa, da FAPESP, o trabalho foi coordenado pela geneticista Tábita Hünemeier, da Universidade de São Paulo (USP), e publicado em 29 de março na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). Também participaram da pesquisa cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Pompeu Fabra, da Espanha.

Analisando amostras

O estudo foi realizado a partir de amostras de genoma de 383 indivíduos que faziam parte de 58 grupos nativos, englobando 49 da América do Sul e 9 da América do Norte. Em seguida, os geneticistas compararam esse material com o de 67 povos espalhados ao redor do mundo, utilizando bancos de dados internacionais.

Homens aborígenes durante festival tradicional - Crédito: Getty Images

Assim, os pesquisadores perceberam que variadas etnias americanas, de diferentes idiomas, apresentam uma pequena parte de seu material genético semelhante ao dos povos da Oceania.

Na região próxima ao litoral do Peru, encontra-se o grupo com maior parentesco com os aborígenes australianos, os chamados Chotuna, que possuem 3% do genoma semelhante ao dos povos do Pacífico Sul).

Grupos étnicos americanos e os aborígenes

Segundo apontou a pesquisa, as amostras analisadas revelaram que integrantes de grupos brasileiros como os Suruí, os Karitiana, os Xavante e os Guarani-Kaiowá, também possuem entre 1% e 3% de seu DNA semelhante ao dos aborígenes da Austrália e da Papua-Nova Guiné e também dos Onge, da Ilha de Andamão, na Índia.

Isso significa que, muito provavelmente, esses povos americanos seriam todos descendentes de um grupo que teria chegado ao continente há mais de 10 mil anos.

Essa população ancestral conhecida como Y, do tupi ypikuéra (ancestral), se misturou com outros povos, que seriam as populações do Sudeste Asiático e alguns grupos que viviam na Beríngia, território que ligava a Sibéria ao Alasca durante as glaciações.

Rota da costa do Pacífico

Segundo os cientistas, é muito provável que alguns grupos tenham chegado à América do Sul a partir do litoral do Peru e, posteriormente, tenham se espalhado pelo território da Amazônia.

“A hipótese da rota da costa do Pacífico faz todo sentido”, defende o antropólogo físico Rolando Gonzáles-José, do Centro Nacional Patagônico (Cenpat), da Argentina. “Os beringianos deviam estar habituados a explorar os recursos da fauna costeira, como focas e aves marinhas, para alimentação,” finalizou.

O estudo ainda afirma que a rota de dispersão pela costa do Pacífico também pode explicar por que esses traços de DNA ainda não foram localizados em populações nativas do litoral e do interior das Américas Central e do Norte.

Criança aborígene durante festival - Crédito: Getty Images

“Eles podem ter feito paradas pontuais na América do Norte, sem se estabelecer por causa do frio intenso do final da última glaciação, descendo até os trópicos, onde o clima era mais ameno”, disse Tábita Hünemeier.

Um grande mistério

Apesar das novas evidências, o estudo considera que há muitas dúvidas que ainda precisam ser esclarecidas.

“Falta ainda preencher muitas lacunas sobre a história da ocupação da América”, afirma Hünemeier. “Ainda não sabemos, por exemplo, quando e com quem os antecessores dos beringianos interagiram, uma vez estavam relativamente isolados das demais populações da Ásia.”

No entanto, com a realização de estudos, em breve novas evidências deverão auxiliar os pesquisadores no entendimento da história da ocupação do continente americano.