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Matérias / Brasil

Construção de navios britânicos: o truque da ditadura militar para abafar a corrupção da época

Na época, os britânicos não entenderam o motivo pelo qual o Brasil dispensou as investigações sobre o superfaturamento nos equipamentos

Gabriel Fagundes Publicado em 25/03/2020, às 10h20 - Atualizado às 10h21

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Tanques em Brasília durante a ditadura militar - Divulgação
Tanques em Brasília durante a ditadura militar - Divulgação

Durante a ditadura militar brasileira, documentos, até então, secretos do governo do Reino Unido revelaram que houve um procedimento das autoridades brasileiras para acobertar a corrupção existente na compra de navios de escolta (fragatas) construídos na década de 70. O episódio, revelado em 2018, ocorreu durante os governos dos generais Emílio Garrastazu Médici (1969-1974) e Ernesto Geisel (1974-1979).

Mediante ao que foi levantado, em 1978 os ingleses até quiseram iniciar uma apuração para entender o motivo do superfaturamento na compra de equipamentos para a construção das fragatas. Chegou a oferecer uma indenização, na época, de 500 mil libras ao Brasil (o equivalente a quase 3 milhões de libras hoje — ou R$ 15 milhões). No entanto, a ajuda não foi bem vista pelo regime militar, que dispensou o valor cedido pelos britânicos. 

Em um dos documentos da época foi escrito: “Os brasileiros claramente desejaram manter o assunto de forma discreta”. Além de: “É evidente que eles não gostariam que mandássemos um time de investigadores e não iriam colaborar com um, se ele fosse. O embaixador concluiu que o risco de sérias dificuldades com as autoridades brasileiras, o que poderia ser levantado por uma investigação, não deve ser assumido”.

Uma fragata em operação / Crédito: Wikimedia Commons

Para João Roberto Martins Filho, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e responsável pela descoberta dos documentos quando esteve pesquisando na King’s College de Londres, “há um mistério até hoje não resolvido, e só agora revelado. Por que, diante de uma investigação detalhada ao Brasil, o governo brasileiro resolveu não apenas impedir a vinda de autoridades britânicas, como não quis o dinheiro que tinha líquido e certo para receber?”, pergunta o pesquisador.

Martins coloca que esse inquérito dos navios foi registrado em uma pasta de documentos diplomáticos intitulada “Alleged fraud and corruption by Vosper Thornycroft (UK) with government of Brazil” (Alegada fraude e corrupção por Vosper Thornycroft (Reino Unido) com o governo do Brasil, na tradução), onde foram escritas 139 páginas denunciando a aquisição de seis navios, dos quais quatro seriam construídos pela empresa Vosper, no Sul da Inglaterra, e dois no Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ).

O governo inglês

Conforme foi descoberto na apuração de 1970, o estaleiro britânico que foi acordado para efetuar a construção dos navios pedia descontos aos fornecedores, porém as notas fiscais emitidas dos equipamentos necessários não saíam com o valor abatido . “O equipamento era fornecido, mas não por aquele preço”, diz o professor.

Desta forma, os britânicos ficaram temerários já que no contrato constava que eles eram os donos do estaleiro, sendo esse o motivo para uma denuncia por fraude. Martins Filho discorre que por isso o governo quis evitar ser acusado de ter responsabilidade. “A coisa foi tão séria que chegou ao Ministro de Relações Exteriores e até mesmo ao primeiro-ministro James Callaghan”.

A partir disso, foi feita uma reunião com os representantes de ambos os governos, nela os ingleses ficaram surpresos com a atitude dos brasileiros, que não mencionaram nenhuma cobrança de reparação pelos valores desviados. Ao contrário, em certo parágrafo do texto redigido, descrevia que os brasileiros optaram para que esse problema fosse “deixado de lado” o mais rapidamente possível. Ou seja, o tal “jeitinho” colocado em ação.


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