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Matérias / Tecnologia

Copa na pracinha: a vida antes dos satélites

Até a revolução das comunicações em 1970, acompanhar a Copa ao vivo exigia imaginação

Letícia Yazbek e Thiago Lincolins Publicado em 30/06/2018, às 07h00 - Atualizado em 19/10/2018, às 11h07

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Só era possível graças as transmissões do rádio - Domínio publico
Só era possível graças as transmissões do rádio - Domínio publico

No dia 5 de junho de 1938, torcedores brasileiros estavam atentos ao rádio. Nas ruas, não era diferente. Pessoas se reuniram em praças, onde foram instalados diversos alto-falantes. Neste dia, seria transmitido pela primeira vez, em todo o território brasileiro, uma Copa do Mundo. Disputada na França, o jogo do dia seria travado entre o Brasil e a Polônia. Com a narração de Leonardo Gagliano Neto, os brasileiros testemunharam a seleção brasileira vencer de 6x5.

"As Copas do Mundo antes de 1970 só eram acompanhadas ao vivo pelo rádio”, relembra Paul Jean Jeszensky, professor do Departamento de Engenharia de Telecomunicações e Controle da USP. No final, a seleção brasileira acabou classificada em 3° lugar.

A seleção do Brasil e da Polônia na copa de 1938 Wikimedia Commons

Todavia, a primeira transmissão de um jogo de futebol, por rádio, no Brasil aconteceu no dia 20 de fevereiro de 1932. Não foi transmitida para o Brasil inteiro. O responsável pela locução foi Nicolau Tuma. O jogo aconteceu em São Paulo e foi disputado entre as seleções de São Paulo e Paraná. Por meio da narração, Tuma situava o torcedor de modo que ele pudesse imaginar o jogo.

Assim, quem o escutava sabia exatamente quem era o jogador que estava com a bola, o posicionamento dos demais jogadores e o momento em que algum dos times fazia gol. O trabalho do locutor deveria ser rápido - um segundo de atraso já atrapalharia o torcedor. O modo de transmissão só mudou devido a eficiência dos satélites.

Em seus primeiros anos, a TV era inferior ao rádio. Foi apenas no nosso tri, em 1970 que o campeonato teve, pela primeira vez e via satélite, uma transmissão ao vivo pela TV.

Revolução 

Assistir ao noticiário transmitido do outro lado do mundo. Chegar a qualquer lugar guiando-se por um aplicativo. Saber detalhes da previsão do tempo. Benesses do mundo moderno que eram pura ficção científica quando o primeiro satélite, Sputnik I, foi lançado em 1957 pela União Soviética.

O Sputnik I Wikimedia Commons

Os satélites foram uma revolução para bem além da comunicação. Mas isso não quer dizer que, antes, o mundo não estivesse conectado. “O primeiro sistema de comunicação moderno a utilizar energia elétrica foi a rede de telégrafos, na primeira metade do século 19. Para isso, foram desenvolvidos longos cabos elétricos”, relembra Ricardo Kehrle Miranda, professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UnB. Em 1866, os cabos foram para baixo do oceano – o primeiro transatlântico para telégrafos conectava a Irlanda à ilha de Terra Nova, no noroeste do Oceano Atlântico, perto do Canadá.

Antes do telégrafo, o remédio eram as cartas, depois os jornais importados por navio. As notícias vinham literalmente à vela ou a vapor e levavam semanas para atingir o outro lado dos oceanos.

O telégrafo foi importante até tempos recentes. O telefone surgiu no fim da década de 1870, mas permaneceu estritamente local por muito tempo. O primeiro serviço intercontinental, por rádio, ligou Inglaterra e EUA em 1927.

Fora comunicações, algo central que os satélites resolveram – e isso bem recentemente – é a localização. O GPS soaria algo quase mágico para os antigos, que tinham de se virar com mapas e astrolábios. Astrolábios dão a latitude (sem a longitude). Mapas, por mais precisos que sejam, não dizem onde você exatamente está, mas indicam pontos de referência. Que não existem em alto-mar. Perder-se era parte da profissão naval. Só na Segunda Guerra surgiram sistemas de radiolocalização, mas esses dependiam da cobertura de estações receptoras em terra.

O GPS foi essencial para o ser humano Shutterstock

Uma vida sem satélites também era sinônimo de previsão do tempo baseada na observação do céu e análise apenas diária de temperatura, umidade e pressão. E de um cotidiano mais imprevisível, sem monitoramento de vulcões, do deslocamento de geleiras e dos males da ação humana sobre o planeta. Havia bem menos dados sobre desmatamento e poluição.

Na área de comunicações, satélites perderam espaço para os velhos cabos submarinos. Funcionando por fibra óptica, eles são a espinha dorsal da internet: resistentes, não estão sujeitos aos fenômenos que afetam o sinal via satélite. Os satélites, porém, atingem lugares onde os cabos nunca chegaram. Transmitem TV, internet e telefone para áreas rurais e isoladas, onde antenas parabólicas são uma visão comum. Um insólito caso em que a tecnologia nova atende à periferia e a tradicional, ao centro.