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Matérias / Arqueologia

A curiosa descoberta da criança mumificada que mostrou como eram os curativos egípcios

Surpreendente múmia de 2 mil anos surpreendeu os cientistas devido ao curioso artefato enrolado em sua perna

Ingredi Brunato, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 08/05/2022, às 08h00 - Atualizado em 15/05/2022, às 06h00

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Fotografia da múmia (à esq) e imagem computadorizada de seu pé (à dir) - Divulgação/ International Journal of Paleopathology
Fotografia da múmia (à esq) e imagem computadorizada de seu pé (à dir) - Divulgação/ International Journal of Paleopathology

Um estudo publicado na revista International Journal of Paleopathology em 30 de dezembro de 2021 reportou um achado inédito para o campo de arqueologia: a identificação de um curativo egípcio antigo em uma múmia de 2 mil anos. 

"Foi realmente emocionante porque não esperávamos. Nunca foi descrito antes", relatou Albert Zink, um especialista em múmias envolvido na pesquisa, em entrevista ao site Business Insider na época. 

O indivíduo embalsamado era uma criança do sexo feminino de não mais que quatro anos de idade, e trazia as bandagens em sua perna direita.

Através de um exame de tomografia computadorizada, a equipe internacional de pesquisadores concluiu que a menina possuía uma ferida infeccionada e purulenta no momento de sua morte. Era essa a lesão coberta pelo artefato. 

Esse também foi o primeiro artigo científico a ser capaz de constatar a presença de pus seco através deste método, conforme repercutido pelo portal Só Científica. 

Cadáveres jovens

Vale mencionar que a garotinha embalsamada não foi o único objeto de análise dos especialistas: eles estudavam então um total de 21 múmias egípcias relativamente bem preservadas.

Elas eram datadas da Dinastia Ptolomaica (que iniciou-se após a morte de Alexandre, o Grande) e do período em que o Egito estava sob domínio do Império Romano. 

Todos os restos mortais pertenciam a indivíduos jovens, que eram ou crianças, ou pré-adolescentes. Suas idades variavam entre 4 e 14 anos no momento de seu falecimento, de acordo com as conclusões dos arqueólogos. 

A múmia analisada ao lado de outra, também contendo uma criança / Crédito: Divulgação/ Osama Shukir Muhammed Amin

A menina com a perna enfaixada não foi a única a apresentar sinais de infecção. Outras duas crianças possuíam evidências de terem sofrido da enfermidade, apresentando, por exemplo, lesões na pele. A estimativa apresentada pelo artigo é de que a causa de morte deste trio foi o quadro infeccioso. 

Tratamento milenar

A medicina egípcia era primitiva, porém alguns papiros da civilização antiga descrevem técnicas que tinham alguma efetividade. Possivelmente, foram descobertas através de tentativa e erro, ainda de acordo com as informações do Só Científica. 

A descoberta surpreendente de um exemplo original de curativo egípcio antigo, neste contexto, é extremamente valiosa para que possamos entender melhor as práticas usadas por aquela população para combater infecções. 

“É muito provável que tenham aplicado algumas ervas ou pomadas específicas para tratar a inflamação dessa área. Se o curativo tivesse sido colocado em sua perna antes de ela morrer, teria sido feito em conjunto com esse tipo de tratamento, que teria sido projetado para combater a infecção", explicou ainda Albert Zink.

O pesquisador, que também é o diretor do Institute for Mummy Studies, uma entidade italiana dedicada à análise de restos mortais embalsamados, revelou sua surpresa em relação ao fato que cada cadáver mumificado traz seus próprios segredos. "Já estudei, não sei quantas múmias na minha carreira científica, mas sempre tem algo novo", contou. 

A múmia da menina egípcia com um curativo / Crédito: Divulgação/ International Journal of Paleopathology

Neste caso, uma questão que permanece sem respostas é se os responsáveis por embalsamar a menina com a ferida na perna apenas esqueceram de retirar suas bandagens, ou se eles "tenham tentado de alguma forma continuar o processo de cura para a vida após a morte", segundo especulado por Zink e repercutido pelo site Business Insider.

A civilização egípcia é conhecida, afinal, por sua forte crença na continuidade da existência após a morte, o que é inclusive tido como o motivo por trás da prática da mumificação. 

O próximo passo da pesquisa será ou o "desembrulho" da múmia infantil, ou algum método menos invasivo de investigação para conseguir mais informações a respeito de seu ferimento. 

+ Para conferir o estudo na íntegra, clique aqui