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Matérias / Segunda Guerra Mundial

A cruel saga dos judeus forçados a trabalhar nos Campos de Concentração

Em Auschwitz, os Sonderkommandos, como o grupo era chamado, eram obrigados a realizar os trabalhos mais cruéis

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 29/01/2022, às 00h00 - Atualizado em 26/01/2023, às 17h59

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"SS Sonderkommando", portal para unidades especiais no campos de extermínio de Sobibor (na Polônia ocupada pelos nazistas) - Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos
"SS Sonderkommando", portal para unidades especiais no campos de extermínio de Sobibor (na Polônia ocupada pelos nazistas) - Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos

Na Segunda Guerra Mundial, os Sonderkommandos, judeus que ‘trabalhavam’ nos Campos de Concentração, recebiam mais comida e também tinham o ‘direito’ de usar as roupas daqueles que se foram. 

Os alojamentos também ficavam em um local separado, que era monitorado constantemente. Apesar desses aparentes prestígios, Gideon Greif, um historiador especialista sobre os acontecimentos do Holocausto, ressaltou à BBC que os Sonderkommandos “eram vítimas, não algozes”. 

Pode-se dizer que o grupo estava empregado em todos os processos que os judeus sofriam ao chegar nos Campos de Concentração, desde a análise pela triagem dos novos prisioneiros até os procedimentos pós-câmara de gás, como a queimas dos corpos e retirada de objetos de valor das vítimas — dentes de ouro, entre outras coisas. 

Judeus na rampa de seleção em Auschwitz, maio de 1944 / Crédito: Ernst Hofmann or Bernhard Walte via Wikimedia Commons

Além da ajuda diária, os Sonderkommandos também tinham uma função importante na rotina dos agentes da SS: eles não só aliviavam o trabalho dos paramilitares nazistas, como os ‘poupavam’ de enfrentar as perturbadoras tarefas relacionadas à Solução Final. O que mantinha o grupo alemão resguardado tanto da exaustão física como da mental. 

Foi uma decisão deliberada dos alemães de empregá-los. Eles também queriam que os judeus compartilhassem a culpa. Essa é uma ideia muito cruel. Eles tentaram embaçar a linha que separa criminosos e vítimas”, explica Greif

O historiador conta que os Sonderkommandos eram formados, em sua grande maioria, por judeus ortodoxos. O grupo costumava ser ‘reciclado’, ou seja, morto e substituído por novos prisioneiros, a cada seis meses. 

Afinal, como eles sabiam como poucos cada detalhe do funcionamento dos Campos de Concentração, poderiam facilmente testemunhar contra os nazistas. Entretanto, não significa que isso não aconteceu, cerca de 100 Sonderkommandos sobreviveram aos horrores da Segunda Guerra. Um deles foi o grego Dario Gabbai, que morreu em 25 de março de 2020, aos 97 anos.  

"Eu trabalhei no crematório. Levava pessoas (cadáveres) das câmaras de gás para os fornos. É algo que nunca esquecerei. Tive sorte de sobreviver”, disse à BBC no 75º aniversário da Libertação de Auschwitz, em janeiro de 2020, meses antes de falecer. 

Em Auschwitz, Gabbai era responsável por cortar e recolher os cabelos das mulheres que acabavam de ser assassinadas. Décadas depois, o judeu conversou com a USC Shoah Foundation, uma organização norte-americana que se dedica a entrevistar sobreviventes do Holocausto.

Dario Gabbai ao lado da também sobrevivente Renee Firestone/ Crédito: Getty Images

Na conversa, revelou como se sentia durante o trabalho forçado. "Pensei comigo mesmo: como posso sobreviver? Onde está Deus?". Gabbai diz que passou a mudar seu modo de viver depois que um polonês o aconselhou a “ser forte”. 

Eu disse para mim mesmo: sou um robô... feche os olhos e faça o que for necessário sem questionar muito", completa. 

O conselho foi valioso, visto que qualquer Sonderkommando que desobedecesse ordens ou não fosse produtivo o suficiente em seu trabalho poderia ser “brutalmente” punido.

Para se ter ideia, segundo narra a BBC, caso um guarda da SS notasse que um cadáver que acabara de ser inspecionado ainda estivesse com um dente de ouro, por exemplo, o responsável pela inspeção poderia ser jogado vivo em uma cova aberta. 

Torturas, espancamento e até mesmo ficarem nus sobre cascalhos eram outras das punições que membros do grupo poderiam receber. Em casos mais cruéis, eles eram assassinados a sangue frio. Muito dessas represálias, inclusive, eram feitas na frente de outros Sonderkommandos, na tentativa de intimidá-los. 

"Eles estavam em estado de choque constante, pois viam milhares de judeus sendo assassinados todos os dias. Foi um grande desafio permanecer vivo", explica o historiador. 

Greif diz que muitos dos sobreviventes ficaram traumatizados para sempre. "Para servir a uma indústria da morte, eles precisavam abolir a emoção. Isso não significa que eles não eram pessoas boas — ou más. Alguns deles me contaram o que fizeram para ajudar a manter a dignidade das vítimas judaicas".

A revolta dos Sonderkommandos

Engana-se, porém, quem pensa que o grupo não resistiu. Segundo artigo do Museu do Holocausto dos Estados Unidos, o prisioneiro grego Alberto Errara, com a ajuda do grupo, conseguiu guardar quatro fotos de Auschwitz documentando os Sonderkommandos em suas funções. 

As imagens contrabandeadas pela resistência polonesa representam raros registros conhecidos por retratar eventos perto das câmaras de gás de Auschwitz-Birkenau. Além do mais, em outubro de 1944, o grupo participou de uma grande revolta armada. 

Foto clandestina mostra os Sonderkommandos cremando corpos em uma vala aberta/ Crédito: The State Museum Auschwitz-Birkenau

Na ocasião, o crematório IV foi destruído e membros de Sonderkommando do crematório III conseguiram escapar brevemente. Cerca de 250 prisioneiros morreram lutando e outros 200 foram assassinados depois da revolta. Três homens da SS foram mortos, enquanto cerca de dez agentes ficaram feridos.

Os Sonderkommandos pós-Guerra

Depois do fim do conflito, oficializado em setembro de 1945, começaram os julgamentos contra membros da SS. Porém, é importante ressaltar que, segundo uma série de documentários da BBC/PBS, dos cerca de 7 mil funcionários de Auschwitz, aproximadamente 800 enfrentaram a lei. 

Um desses casos foi de Henryk Tauber, que testemunhou contra o comandante da SS Otto Moll. "Em várias ocasiões, Moll jogou pessoas vivas nas covas em chamas", recordou durante o julgamento.

Moll foi condenado e enforcado tempos depois. Ele havia participado da chamada “Marcha da Morte”, quando, já no final da Guerra — em janeiro de 1945 —, cerca de 60 mil presos (famintos e seminus) foram forçados a caminhar por estradas de neve, em uma temperatura que chegava perto dos 20º negativos. 

As anotações de Marcel Nadjari/ Crédito: IFZ-Muenchen

Muitos deles, como o próprio nome da marcha sugere, não conseguiram chegar ao final do trajeto de cerca de 50 quilômetros. Dos que não tiveram a chance de enfrentar seus algozes cara-a-cara, restaram apenas poucos registros, como as 13 páginas de um manuscrito do Sonderkommando grego Marcel Nadjari:

Não estou triste por morrer, mas estou triste por não ser capaz de me vingar como gostaria.”

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