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Matérias / Brasil Colônia

Da captura de índios a falsa imagem: 5 fatos controversos sobre a atuação dos bandeirantes

As famosas figuras de homens como Raposo Tavares ou Borba Gato estão imersas em uma série de mitos

André Nogueira Publicado em 30/05/2020, às 08h00

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Bandeirantes - Wikimedia Commons
Bandeirantes - Wikimedia Commons

As bandeiras representaram um fenômeno histórico de suma importância no entendimento da dinâmica da sociedade colonial brasileira

Ao fundarem uma série de cidades, produzirem mapas e participarem dos empreendimentos da Coroa Portuguesa na produção da colônia brasileira, os bandeirantes fincaram sua marca na memória nacional, e principalmente paulista.

Nomes como Raposo Tavares, Domingos Jorge Velho, Anhanguera, Borba Gato, Jaguaretê e João de Faria Fialho são de grande peso na literatura nacional.

Descubra 5 fatos sobre o fenômeno das bandeiras e sua atuação no Brasil Colônia.

1. Escravidão

Domingos Jorge Velho / Crédito: Wikimedia Commons

Além da busca por pedras preciosas, que eram uma fonte em si de riquezas, os bandeirantes tiveram papel na captura de indígenas livres para a escravização. Proprietários relevantes de mão de obra cativa em suas viagens, a caça aos índios era uma de suas principais funções.

Além disso, depois que a mão de obra indígena deixou de ser incentivada na colônia, muitos bandeirantes continuaram atuando em nome da escravidão, perseguindo fugitivos negros ou atuando em frentes militares contra quilombos, como é famoso o caso de Domingos Jorge Velho, contra Palmares.

2. Falsa imagem

Raposo Tavares / Crédito: Divulgação

Muitos bandeirantes vieram para o Brasil — ou já nasceram aqui — provenientes de família pobres em busca de oportunidades. A imagem famosa do bandeirante com roupas elegantes, chapéu de penas e botinas são mirabolantes: muitos deles sequer tinham calçados. Como provou a historiadora Anita Novinsky em diversos trabalhos, muitos exploradores eram de origem judaica e foram perseguidos entre os europeus, como Raposo Tavares.

Como resume Sergio Buarque de Holanda em sua obra O extremo oeste, “eles foram constantemente impelidos, mesmo nas grandes entradas, por exigências de um triste viver cotidiano e caseiro: teimosamente pelejaram contra a pobreza, e para repará-la não hesitaram em deslocar-se sobre espaços cada vez maiores, desafiando as insídias de um mundo ignorado e talvez inimigo”.

3. Integração nacional?

Monumento às bandeiras / Crédito: Wikimedia Commons

É afirmado que os bandeirantes foram os grandes responsáveis pela integração do Brasil, único país latino-americano que se manteve único com as independências, citando principalmente as expedições dos sertanistas Bartolomeu Bueno e Raposo Tavares.

Porém, o esforço das bandeiras não representou uma verdadeira integração. A colonização portuguesa se resumiu, em boa parte, à conquista do litoral. Porém, as rotas bandeirantes foram úteis na delimitação da América Portuguesa no Tratado de Madri em 1750.

A realidade das bandeiras está constantemente imersa em uma série de mitos, em que sua figura é “como o lídimo representante das mais puras raízes sociais brasileiras, conquistador de todo o vasto sertão interior do país, pai fundador da raça e da civilização brasileira”, afirma Nicolau Sevcenko, em Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20.

Na realidade, a integração nacional é fruto, incialmente, das guerras empreendidas por Dom Pedro I e os esforços do Império, mas principalmente dos movimentos pela união nos anos 1930 e 1940.

Porém, como afirma Sevcenko, os paulistas criaram essa memória que favorece os bandeirantes, como forma de autoafirmação. Se “denunciava as qualidades de arrojo, progresso e riqueza que São Paulo possuía, representava o novo processo de integração territorial que dera sentido à vida nacional”.

4. Sucesso por conta dos indígenas

Peabiru / Crédito: Divulgação

Muitos atribuem o sucesso das bandeiras ao pioneirismo europeu ou ao pragmatismo lusitano. Porém, as entradas vitoriosas e as conexões das viagens que chegaram até a Amazônia têm como principal fonte de mérito o conhecimento dos indígenas que vivem no continente a milhares de anos e possuem contatos com os mais diversos pontos da América do Sul.

Da alimentação aos caminhos, formas de tráfego em rios e cuidado com os perigos, o conhecimento dos índios que acompanhavam as bandeiras (muitas vezes coercitivamente) foi essencial para a sobrevivência dos bandeirantes.

Um dos pontos mais relevantes dessa influência, que inclui as malhas de escoamento de São Paulo até os dias de hoje, era o Caminho de Peabiru, uma rota pré-cabraliana usada pelos indígenas em viagens que conectavam a atual Baixada Santista até os Andes, com diversas ramificações. Os bandeirantes usaram muito os trajetos possibilitados pelo conhecimento anterior das comunidades originárias.

5. Brigas com Jesuítas

José de Anchieta / Crédito: Wikimedia Commons

Os bandeirantes possuíam fortes rixas com a Companhia de Jesus, mais forte braço da Igreja Católica na América Portuguesa. Inicialmente conhecida por suas origens econômicas, essa briga é mais profunda do que se expõe usualmente.

Além da questão da escravidão indígena, há motivações ideológicas para os conflitos, que incluíam o fato de os jesuítas enxergarem nos sertanistas um péssimo comportamento ou mesmo uma sujeira e uma inferioridade.

“Os jesuítas enviavam anualmente cartas para a Espanha, sobre os crimes dos bandeirantes, queixando-se que os matavam impiedosamente”, muitas vezes com provas forjadas, afirma Anita Novinsky (no artigo A “Conspiração do silêncio”).

Os bandeirantes também buscavam autonomias de ação que confrontavam os poderes dos sacerdotes, que eram os principais braços da Santa Inquisição no Brasil. Existem iconografias da época em que os bandeirantes, que ignoravam parte dos dogmas cristãos, principalmente os sexuais, eram as figuras usadas na representação de Satanás. Com o aumento dos poderes da Companhia de Jesus no Sul e das bandeiras no Sudeste, esse atrito ficou ainda mais intenso.


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