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Matérias / Egito Antigo

A passagem de poder de Akhenaton a Tutancâmon, uma das transições mais agitadas do Egito Antigo

O pai de Tutancâmon iniciou uma revolução religiosa que deu origem ao Período de Amarna, criando o culto a um deus que não agradou muito o povo e a elite

André Nogueira Publicado em 17/07/2020, às 12h00

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Montagem de Akhenaton e Tutancâmon - Wikimedia Commons
Montagem de Akhenaton e Tutancâmon - Wikimedia Commons

A Décima Oitava Dinastia de faraós do Egito marcou um dos momentos de maior crise do Reino Médio envolvendo dois dos mais famosos reis que governaram o Nilo: Akhenaton e Tutancâmon. Membros da mais conhecida família de faraós, seus governos foram absurdamente marcantes e a transição entre os reinados do pai e do filho foi extremamente conturbada.

Akhenaton começou a governar como Amenófis IV, em um regime tradicional sediado em Tebas. Historicamente, seu poder institucionalizado no palácio entrava cada vez mais em conflito com a elite sacerdotal egípcia, principalmente ligada ao culto de Amon, que vinha se tornando cada vez mais poderosa e autônoma. O que criava desafios à soberania do rei.

Então, Amenófis empreendeu uma gigante reforma religiosa que tinha como principal objetivo combater o poder dos sacerdotes e escribas de Amon, criando um novo dogma espiritual e político que centralizava a unidade do divino na figura do Disco-Solar Aton — estrutura de fé que ainda não se enquadrava no monoteísmo, mas criou fundamentos para tal (para entender, clique aqui).

Estátua de Akhenaton / Crédito: Wikimedia Commons

Como a religião era tema central na politica e na sociedade egípcia, uma mudança desse nível no panteão tinha consequências práticas diretas, e a articulação política para essa reforma foi de grande peso no funcionamento das instituições e nos jogos de decisão do reino. O ato realmente enfraqueceu a elite de sacerdotes. Porém, é claro, as atitudes drásticas de Akhenaton geraram reações e uma forte oposição foi criada contra o atonismo.

Amenófis, em sua reforma, mudou seu próprio nome (Akhenaton); construiu uma nova capital (de Tebas para Akhetaton, ou Amarna); e reestruturou templos e edifícios governamentais. Sua nova proposta religiosa foi desenvolvida para a reestruturação do poder uno do faraó, chegando a, no fim de seu governo, acreditar que ele e sua rainha principal, Nefertiti, eram os únicos que podiam entrar nos templos e se comunicar com Aton — uma clara inversão para destituir os papéis sociais dos sacerdotes.

Mas é claro que um governo desses, que gerou tamanha oposição, sofreria para manter-se de pé. O reinado de Akhenaton, conhecido como Período de Amarna, durou 17 anos, mas sofreu grandes represálias. Principalmente, porque, mesmo com as pressões do governo, a população nunca abandonou o politeísmo clássico e se sentiu bastante atacada com as ordens do faraó de destruição de todas as imagens de deuses que não fossem Aton.

Imagem de culto a Aton, o Disco-Solar / Crédito: Wikimedia Commons

Politicamente, Akhenaton também era visto como fraco, pois se recusava a sair de sua nova capital (com medo de ataques de outras elites pelo reino). O império passou a ser mais vulnerável a ataques e, religiosamente, o reino era visto como desprotegido. Os reinos-satélites do Egito, como os hititas, também deixaram de ter a proteção militar que tinham, segundo apontam algumas cartas de Amarna: “Já pedi, mas não fui respondido. Não me enviaram a ajuda de que preciso", se queixou o governante que representava o Egito no exterior, que nunca foi atendido. Assim, o Vale do Nilo perdeu uma importante centralidade nesse período.

Após 17 anos de um desastroso governo, Akhenaton morreu, possivelmente assassinado por um sacerdote. Não se sabe se sua múmia foi encontrada, e muitos pesquisadores acreditam que ela teria sido queimada, assim como diversos outros legados de seu governo. A maneira como muitos objetos do Período de Amarna foram encontrados enterrados denota que as referências a Akhenaton e Aton foram destruídas pelos sucessores do faraó numa tentativa de apagamento daquele momento histórico. O culto a Aton passou a ser perseguido.

Com sua morte, teria assumido em seu lugar um misterioso regente de nome Semencaré. Muito se discute sobre essa figura, sendo que arqueólogos e historiadores acreditam se tratar de sua rainha Nefertiti, que teria adotado traços e figurações masculinas em um breve governo transitório (tal como Hatshepsut, que era daquela mesma dinastia). Porém, o governo desse enigmático personagem foi uma ponte para que fosse entronado o filho de Akhenaton, o jovem Tutancâmon.

Corpo mumificado do faraó / Crédito: Wikimedia Commons 

Uma das principais alegações de que Nefertiti teria transicionado o poder para Tutancâmon foi apontado por Nicholas Reeves, arqueólogo britânico, em um estudo dos bens funerários do Rei Tut. Segundo ele, 80% desses artefatos pertenciam a uma suposta Neferneferuaten, com a inscrição “Ankhkheperure mery-Neferkheperure", que significa Ankhkheperure amante de Akhenaten.

Essa seria uma referância a Nefertiti, cujas referências em documentos inexistem desde muito cedo. Isso poderia ser uma prova de que ela assumiu a imagem de um homem em uma luta pelo poder e teria sido destituída, perdendo a possibilidade de um enterro real (o que levou à transferência de seus bens para o enterro do filho, pouco tempo depois).

O Rei Tut teve uma centralidade importante na restauração da decadente Dinastia XVIII — que acabaria dois reinados mais tarde —, pois, dada a idade do novo faraó, seu governo foi fruto de atitudes de conselheiros e figuras importantes, como o Grão-Vizir Ay, responsável pela restauração da normalidade religiosa do Egito e a reconciliação entre palácio e templo.

General Horemheb, o último faraó da 18ª Dinastia / Crédito: Wikimedia Commons

Não a toa, foi colocado com tanta pressa um adolescente no poder. Nas mãos de Ay, e do general Horemheb, o jovem Tutancâmon foi usado como forma de reestruturação do poder faraônico em harmonia com as elites religiosas de Tebas. A hipótese de que Tutancâmon foi praticamente um fantoche para a reconciliação com o culto a Amon ganhou crédito quando uma radiografia comprovou que o rei sofreu com um golpe no crânio, apontando um possível assassinato para a entrada de Ay no poder.


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