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Matérias / Personagem

De estrategista militar a tirano: a queda de Edward, o Príncipe Negro da Inglaterra

Acusado de liderar um massacre, o príncipe manifestou arrependimento até os seus últimos dias de vida, porém, foi julgado por ter feito muito menos

Wallacy Ferrari Publicado em 17/03/2020, às 09h52

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O príncipe batalhou desde cedo pelos galeses, mas foi julgado pelos mesmos - Wikimedia Commons
O príncipe batalhou desde cedo pelos galeses, mas foi julgado pelos mesmos - Wikimedia Commons

Filho mais velho de Eduardo III, Edward de Woodstock era o sucessor direto do pai, mas apesar do trono reservado, não escolheu procrastinar até chegar a hora de assumir; preferiu se especializar a luta armada. Desde cedo, o pequeno Edward já provava ser talentoso, com agilidade e estratégias em suas batalhas.

Sua coragem fez o príncipe ser respeitado na população local, quando, com apenas 16 anos, liderou um dos corpos de infantaria na Batalha de Crécy, o primeiro grande confronto da Guerra dos Cem Anos. Na ocasião, foi estrategista e conseguiu fazer sua equipe resistir aos ataques da cavalaria francesa.

Posteriormente, adaptou-se as armas que as inovações militares disponibilizaram, com um exército composto de excelentes arqueiros, desequilibrando o confronto para o lado britânico. Tal liderança o fez conquistar posições na França, onde pôde controlar, junto de seu pai, as relações de guerra com britânicos, galeses, escoceses e até os fraquejados franceses.

Sobre os tais franceses, inclusive, Edward recebeu seu apelido mais notável: o Príncipe Negro. Tal alcunha relaciona a imagem do jovem, que a essa altura já era Duque da Aquitânia, a um homem cruel e sem compaixão, graças a crença histórica de que, em 1370, o saque a cidade de Limoges, na França, foi capaz de saciar seu amor pela violência.

O motivo do saque se originou em uma briga do príncipe com o bispo da cidade de Limoges, Johan de Cross, que traiu a confiança de Edward após se virar contra os ingleses. O relato era de que o príncipe, furioso, se dirigiu a cidade acompanhado de sua tropa e liderou a rendição de 3 mil homens, mulheres e crianças da cidade, de qualquer classe social ou credo.

As fileiras de pessoas ajoelhadas, conduzidas sobre a supervisão do príncipe, imploravam por misericórdia na ocasião, mas não pôde muito fazer além de serem ordenador e mortos, um a um, sendo inocentes, apenas por vingança ao bispo. De acordo com historiadores, o ataque foi capaz de massacrar a maioria da população da cidade.

Túmulo de Edward, isolado em um lugar conhecido pelo arrependimento / Créditos: Randolph Croft / Flickr

O ataque, apesar de favorecer os galeses, com os saques rendendo maior segurança financeira para as decisões locais, não gostaram da história que chegou; Edward ficou com fama de um ser sem escrúpulos e sem respeito aos inocentes que nada tinham a ver com a briga do bispo.

Com isso, a ideia de que Edward de Woodstock tinha uma alma “negra como o breu total”, fez a ideia de que o príncipe era um cavaleiro justo, humilde e compreensível, caiu por terra. Porém, com atuais registros, a violência atribuída ao príncipe pode ter sido injusta.

Descoberta pelo historiados francês Guilhem Pepin em um arquivo espanhol. Uma carta escrita pelo príncipe Edward ao grande senhor de Gascon, o conde de Foix Gaston Febus. Relatava o que havia acontecido na expedição até a cidade de Limoges, para o acerto de contas com o bispo.

Na carta, o príncipe descreve que realmente conduziu diversos prisioneiros de alto escalão neste ataque, incluindo o próprio bispo e Roger de Beaufort, irmão do papa Gregório XI. Porém, o número de combatentes direcionados ao ataque era de apenas 200 cavaleiros e prisioneiros armados, o que impossibilitaria uma luta contra 3 mil pessoas.

A hipótese levantada na carta leva a crer que havia 300 homens protegendo Limoges, sendo apenas estes os mortos. O dado coincide com o número de mortes contidos em uma escrita na abadia Saint-Martial de Limoges. Com a ligação dos dados, acredita-se que 100 eram soldados e apenas 200 civis, em comparação aos 3 mil declarados, foram mortos no saque.

Com a reputação destruída, Edward preferiu se recolher durante o resto de sua vida, com problemas internos em sua diplomacia, acabou com diversos problemas financeiros e faleceu aos 45 anos, em 1376. Foi enterrado na Catedral de Canterbury, um lugar diferente de onde os membros da família real eram enterrados.

O local escolhido por Edward é diretamente associado à peregrinação e penitência, o que manifesta o incômodo do príncipe pelos julgamentos, o tornando um homem arrependido de seus atos até o seu último dia.


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