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Matérias / Bizarro

De Isaac Newton a Charles Bukowski: os epitáfios mais incomuns — e engraçados

Difícil imaginar que algo tão sério possa ser engraçado ou curioso, mas algumas pessoas mantêm o bom humor até depois da morte. Fica a pergunta que faço a você, leitor: como irão se lembrar de ti?

M. R. Terci Publicado em 21/06/2020, às 12h00

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Imagem meramente ilustrativa de um túmulo - Divulgação/Pixabay
Imagem meramente ilustrativa de um túmulo - Divulgação/Pixabay

O que escreverão na sua lápide?

Já tirou um tempinho para pensar em suas realizações e como elas irão definir seu nome em um futuro, talvez, não tão distante? Não me entenda mal, sem agouro.

Venham comigo, pelos caminhos mais escuros da história, semear as solas de nossos sapatos nas ruas inférteis do ossuário, à caça de conhecer algumas dessas curiosas frases póstumas e as pessoas a quem foram atribuídas.

Artistas famosos, celebridades ou autoridades de Estado, costumam comentar em vida aquilo que gostariam que fosse escrito sobre suas sepulturas. O problema é que nem sempre a família cumpre o desejo do falecido. 

Nelson Rodrigues, controverso escritor e jornalista, por exemplo, deixou frases que ficaram marcadas na memória.  Conhecido pelo humor ácido e politicamente incorreto, escolheu, em tempo, o próprio epitáfio: “Aqui jaz Nelson Rodrigues, assassinado pelos imbecis de ambos os sexos.”

Túmulo desconhecido / Crédito: Divulgação

Contudo, não respeitaram o desejo do Escritor Maldito. Sobre a lápide de mármore marrom rajado, lhe gravaram dois epitáfios; um de autoria do polímata Gilberto Freire: "Nelson Rodrigues avulta na literatura atual do Brasil como o nosso maior teatrólogo, o maior de hoje e o maior de todos os tempos”; outro do poeta Manuel Bandeira: "Nelson Rodrigues é de longe, o maior poeta romântico que já apareceu na nossa literatura."

Conhecendo a obra do Nelson, com certeza, ele odiou.

Então, se você é desses que deixam tudo para a última hora, apresse-se! Melhor se garantir em vida, do que amargar algo equivocado pelo resto da eternidade.

Doridos ou tristes, curiosos ou engraçados, o epitáfio é uma espécie de chassi póstumo, simples e direto, gravado na lápide de um túmulo, no mármore da cripta ou nas placas de bronze de um majestoso mausoléu.

Quando se perde alguém, ficam as memórias, a vontade de homenagear, de dirigir as últimas palavras cordiais. O costume de escrever e descrever sentimentos, pensamentos ou ações para lembrar quem morreu faz parte da sociedade há milênios. 

Durante a Idade Média, os epitáfios eram um privilégio e costumavam narrar atos heroicos do nobre, rei ou algum outro membro proeminente da corte. Na Inglaterra, por exemplo, as últimas palavras eram epitáfio apropriado para o mais nobre dos reis. 

Túmulo de Lilly Gray / Crédito: Wikimedia Commons

Contudo, com o passar dos séculos, começou a ser utilizado por toda a população. Assim, o tempo transformou os epitáfios em uma tradição social, com o objetivo de fixar na memória dos que permanecem, e mesmo de quem ainda está por vir, uma representação póstuma positiva da imagem ou do seu ideal em vida.

Simples ou poéticas, sóbrias ou descontraídas, as inscrições nas lápides são o último recado, a quem interessar possa.

O nome deriva do grego Epi – prefixo que designa posição superior – e Tafos – radical que significa túmulo ou tumba. Nele registram-se as qualidades deste que partiu e deixou saudade ou, em muitos casos, os defeitos daquele que já foi tarde.

O escritor mineiro Fernando Sabino, faleceu em outubro de 2004, vítima de câncer. Ele escreveu o próprio epitáfio: “Aqui jaz Fernando Sabino. Nasceu homem, morreu menino.” Poeta na mais aflita e negra das horas.

"Que os mortais se regozijem por ter existido tamanho ornamento da raça humana." Este epitáfio, escrito em latim sobre o túmulo de Isaac Newton, na Abadia de Westminster, em Londres, dá uma ideia de sua importância para a ciência e a humanidade em geral.

Frank Sinatra cantor, ator e produtor norte-americano, escolheu o nome de sua famosa canção: “O melhor ainda está por vir”.

Na lápide de Tancredo Neves, presidente da república eleito conquanto não empossado, consta a frase sugerida pela família: “Terra minha amada, tu terás os meus ossos, o que será a última identificação do meu ser com este rincão abençoado.” Conta-se, no entanto, que o político brasileiro tinha outra ideia, totalmente ignorada. “Aqui jaz, muito a contragosto.”

Assim, meus bons, quem abre mão de providenciar em vida o próprio epitáfio fica à mercê da iniciativa, nem sempre criativa, de terceiros.

É difícil imaginar que algo tão sério pode ser engraçado ou curioso, mas algumas pessoas mantêm seu humor até após a morte.

A morte do jovem George Spencer Millet foi tão hilária quanto trágica. Mas de tão incomum, ficou gravada em sua lápide: “Perdeu a vida por facada ao cair sobre um removedor de tinta, fugindo de seis jovens que tentavam lhe dar beijos de aniversário no escritório do Edifício Metropolitan Life”. Conta-se que em 15 de fevereiro de 1909, no 15º aniversário de George, suas colegas de trabalho saíram correndo atrás do jovem, para lhe darem beijos em comemoração pela data. Assustado, ele saiu correndo e acabou caindo sobre um removedor de tinta – um pequeno instrumento de metal, semelhante a uma faca –, vindo a óbito.

O desenhista e humorista Millôr Fernandes, é também um dos grandes talentos nacionais, e, quando o assunto foi o próprio epitáfio, Millôr foi definitivo: “A gente só morre uma vez. Mas é para sempre.”

Mel Blanc foi um grande ator norte-americano. Você pode não conhecer o seu rosto, mas sem dúvidas conhece a sua voz: ele era o responsável por dublar personagens como Pernalonga, Patolino, Gaguinho, Frangolino, entre outros. Por isso, a frase escolhida para a sua lápide foi “Isso é tudo, pessoal”. 

Algumas frases curiosas dão de autoria de ilustres desconhecidos como Willian H. Hahn Jr., sepultado em Quebec, e que se tornou conhecido por seu epitáfio engraçado. Dizem que uma semana antes de falecer, muito doente, Willian teria ordenado que fosse gravada na lápide: “Eu disse que estava doente!”

Não tenho a menor ideia de quem foi Kay, mas uma coisa eu sei: deve ter sido uma maravilhosa cozinheira, porque fizeram questão de deixar sua receita de sobremesa gravada na lápide.

Billy Wilder, famoso cineasta, roteirista, produtor e jornalista, escolheu uma famosa frase de seu filme Quanto Mais Quente Melhor, de 1959: “Eu sou um escritor, mas ninguém é perfeito”.

A atriz Joan Hackett foi enterrada no Hollywood Forever Cemetery, em Los Angeles. Em seu túmulo está escrito “Vá embora, estou dormindo”.

Túmulo de Joan Hackett / Crédito: Wikimedia Commons

Sempre e eternamente hilário, Leslie Nielsen quis manter o clima de humor até após a sua morte. Ele resolveu fazer um trocadilho com a sigla “RIP” – Rest In Peace, e, em seu epitáfio, pode-se ler “let ‘it rip”, que significaria “soltou um peido”. 

Muitos curiosos já pesquisaram sobre Lilly E. Gray. Eu mesmo só encontrei seu obituário onde consta “morte por motivos naturais”. Mas o epitáfio em sua lápide chama a atenção de todos: “Vítima da Besta 666”. Teria o mal-afamado Aleister Crowley algo a ver com isso?

Merv Griffin, apresentador de televisão, músico, cantor, ator e magnata da mídia norte-americana, escolheu a seguinte frase: “Eu não vou voltar depois desta mensagem”.

E se você pensa que a polarização política que rege o mundo atual ficou de fora dos epitáfios, reveja seus conceitos com Bill Kugle: “Ele nunca votou em republicanos e pouco tinha a ver com eles”.

Robert Barro Allison, famoso pistoleiro do Velho Oeste, tem uma frase bem curiosa em seu túmulo: “Ele nunca matou um homem que não precisasse ser morto”.

Charles Bukowski, poeta, contista e romancista estadunidense, cuja obra, de caráter inicialmente obsceno e estilo totalmente coloquial com descrições de trabalhos braçais, porres e relacionamentos baratos, até hoje fascina gerações. Deixou uma pequena frase que diz muito sobre a vida: "Não tente".

Túmulo de desconhecido com receita culinária / Crédito: Wikimedia Commons

A frase “E agora, vão rir de quê?” consta como o epitáfio desejado pelo humorista Chico Anysio, falecido em 2012.

“Aqui jazz” é de autoria de Jorge Eduardo Guinle, mais conhecido como Jorginho Guinle, um socialite, playboy e herdeiro milionário brasileiro, notável por suas conquistas amorosas e falência financeira.

Paulo Gracindo, ator e radialista brasileiro, mais conhecido por dar vida ao prefeito Odorico Paraguaçu na novela O Bem-Amado, morreu em 1995, aos 84 anos. Assim como em vida, na morte, desejava fazer o povo rir. A frase “Ingrata, já de branco, não é?” é citada como o pretenso epitáfio do ator.

O cantor e compositor brasileiro Cazuza foi enterrado no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. Consta em sua lápide: “O tempo não para”, um bom lembrete para aqueles que ainda não estão interessados em escolher umas poucas palavras para sua lápide.

Lembra-te, ó homem, de que és pó e ao pó há de voltar. O objetivo de um epitáfio é justamente eternizar ali, em poucas palavras, o que uma pessoa representou para sua família, ou para a sociedade, para a comunidade ou, em casos excepcionais, até para o mundo. Fica a pergunta que faço a você, leitor:

Como irão se lembrar de ti?


M.R. Terci é escritor e roteirista; criador de “Imperiais de Gran Abuelo” (2018), romance finalista no Prêmio Cubo de Ouro, que tem como cenário a Guerra Paraguai, e “Bairro da Cripta” (2019), ambientado na Belle Époque brasileira, ambos publicados pela Editora Pandorga.