Morto pelo próprio líder, o combatente comunista foi acusado por traição pelo regime no Camboja
Em abril de 1975, Son Sen, político responsável pela polícia secreta e encarregado de gerenciar os diversos centros de interrogatórios do regime comunista do Khmer Vermelho, iria destruir para sempre a vida de milhares de famílias cambojanas.
Ele foi o oficial que provocou o esvaziamento de Phnom Penh, capital do Camboja, logo após a vitória militar do Khmer Vermelho naquele ano. O homem torturou e matou mais de 10 mil pessoas que entraram nas estatísticas do genocídio. Mas a sua trajetória ao lado de Pol Pot, começou bem antes do regime.
Anos antes, em 1950, quando estudava em Paris, Son iria conhecer alguns dos mais importantes membros do que viria a ser o regime, como Pol Pot, Ieng Sary e Khieu Thirith, a partir dali, ideais sanguinários de revolução viriam à tona. O homem cresceu em uma família de pequenos proprietários de terra, e sempre manteve seus ideais sobre a superioridade da sociedade agrária.
Crânio das vítimas do Khmer Vermelho / Crédito: Wikimedia Commons
Anos de guerra
Em 1960, ele ingressou no Partido Comunista Cambojano clandestino, então conhecido como Partido Revolucionário do Povo Khmer, na época liderado por Tou Samouth. Em 1968, demonstrou experiência em campos de guerra e construiu uma reputação como comandante de campo, subindo para uma posição de maior destaque dentro do partido, considerado chefe do comitê público.
Em 1972, Son Sen havia se tornado chefe de gabinete das forças do Khmer Vermelho. Apesar de receber algumas críticas de seus colegas de trabalho, que achavam que o homem tinha um ponto de vista burguês demais.
Quando Sen comandou o ataque a Phnom Penh em abril de 1975, a vida urbana local foi abolida, a educação foi reduzida e o comércio foi banido. As execuções em massa visavam intelectuais, professores, funcionários públicos, monges budistas e todos aqueles que fossem considerados inimigos da revolução. Son Sen ficou marcado por sua crueldade nos ataques. Ele participa ativamente dos métodos de interrogatório e de tortura do sistema que ficou conhecido como Código S-21.
Em 1978, devido a vários anos de conflito com o Vietnã e refugiados fugindo do Camboja, as relações do partido entraram em colapso, o que fez com que o regime acabasse. A queda aconteceu em 7 de janeiro de 1979, também na cidade de Phnom Penh.
Pol Pot, ditador comunista / Crédito: Wikimedia Commons
O fim brutal
Temendo pela sua vida, Son Sen, permaneceu recluso na selva a partir de 1979. Anos depois, em maio de 1992, ele foi destituído de seu cargo após uma disputa interna com outros membros do partido Khmer Vermelho. Sob suspeita de estar em negociações com o novo governo em busca de uma possível rendição por seus crimes, o homem foi perseguido sob ordens do antigo líder do Khmer Vermelho, Pol Pot.
Ele foi assassinado em 15 de junho de 1997, por apoiadores do partido comunista, ao lado de 13 membros de sua família, incluindo crianças - por aquele que um dia já foi seu próprio amigo. Pol Pot, ordenou que seus seguidores metralhassem Son Sen e sua família e que após isso, passassem por cima dos corpos com grandes caminhões.
Até hoje o governo instituído pelo Khmer Vermelho no Camboja é considerado um dos mais sanguinários da história. A morte brutal de Son Sen e seus familiares ilustra o que o partido fazia com a população do próprio país.
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