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Matérias / Saúde

"Depois da morte de Cazuza, tinha duas opções: morrer ou fazer alguma coisa de útil", diz Lucinha Araújo

No Dia Mundial de Luta Contra a Aids, o site Aventuras na História conversou com exclusividade com a mãe de Cazuza e fundadora da Sociedade Viva Cazuza, para falar sobre o vírus, seu filho e suas esperanças para o futuro. Confira!

Penélope Coelho Publicado em 01/12/2020, às 10h31 - Atualizado às 11h04

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Fotografia de Cazuza - Divulgação
Fotografia de Cazuza - Divulgação

Nesta terça-feira, 1 de dezembro, é celebrado Dia Mundial da Luta Contra a AIDS, uma data para lembrar sobre a conscientização do vírus HIV, a importância do diagnóstico precoce, da prevenção e do acompanhamento para o tratamento do paciente.

De acordo com o Relatório de Monitoramento Clínico do Ministério da Saúde de 2019, há cerca de 900 mil pessoas vivendo com HIV no Brasil. Sabe-se que apesar da evolução da medicina no tratamento da doença, a AIDS ainda é uma enfermidade envolta em inúmeros tabus. Assim, muitos nomes se destacaram na luta contra o preconceito.

A importância de Cazuza

Na década de 1980, no auge do preconceito e desinformação sobre o HIV, uma das figuras mais emblemáticas do país na luta contra a Aids foi o cantor, poeta e compositor carioca, Agenor de Miranda Araújo Neto, o eterno Cazuza.

Na ocasião, o artista mostrou sua cara e veio a público para afirmar que era soropositivo, um ato de coragem que ajudou a disseminar a conversa sobre a doença. Em 7 de julho de 1990, aos 32 anos, morreu devido a um choque séptico causado pela AIDS. Seu legado permanece até os dias de hoje, tanto em suas belas canções quanto na sua persistência na luta contra a aids.

Pensando nisso, no Dia Mundial da Luta Contra a Aids, o site Aventuras na História conversou com a mãe de Cazuza, Lucinha Araújo, que após perder seu filho decidiu transformar seu luto em algo maior, fundando assim a Sociedade Viva Cazuza: uma organização que auxilia crianças e adolescentes portadoras de HIV.

“Naquela época as pessoas tinham muito medo e todos se escondiam com medo do preconceito. Quando Cazuza publicamente se disse HIV positivo foi para muitas pessoas uma libertação. Depois que Cazuza morreu e comecei a trabalhar com HIV ouvi de diversas pessoas que a declaração de Cazuza foi libertadora e me diziam ‘se Cazuza podia dizer que era HIV positivo eu também posso’”, nos conta Lucinha.

Além das belas canções como Exagerado, Todo o Amor que Houver Nessa Vida, Ideologia e muitas outras músicas que ficaram eternizadas no rock nacional e na música popular brasileira, o artista deixou também seu exemplo de luta.

“Acho que é inegável o legado de coragem que Cazuza deixou, mas com o passar do tempo acredito que seu maior legado tenha sido de ideológico, de liberdade, de acreditar que sua pátria desimportante poderia num futuro ser um país mais decente. Ele não está mais aqui para ver o quanto regredimos em liberdade e respeito, mas sou uma pessoa otimista e acredito que o mundo avança, mesmo que em alguns momentos pareça estar andando para trás”, diz a mãe do cantor.

Cazuza no palco em 1988 / Crédito: Wikimedia Commons

No Brasil

Atualmente sabe-se que, o tratamento da AIDS no Brasil é gratuito e assegurado pelo SUS, sendo um país pioneiro na luta. Hoje em dia, com o acompanhamento adequado é possível que o paciente chegue a uma carga viral indetectável, o que reduz as chances do desenvolvimento de infecções ou transmissão do vírus. Mas, para isso, é preciso que as pessoas testem mais e que mesmo assim, não deixem de se prevenir.

Por estar envolta na luta contra a doença há 30 anos, a mãe de Cazuza acompanha de perto os diversos momentos da AIDS no país. “O Brasil teve um papel muito importante na epidemia de Aids principalmente na década de 1990, mas infelizmente a AIDS saiu de moda e o espaço que ela ocupa nos governos federal, estaduais e municipais vem diminuindo ano a ano. Hoje sabemos com certeza que o paciente que faz tratamento pode ter uma vida praticamente normal e é inadmissível que tenham pessoas contaminadas sem saber”.

Por isso, nessa data tão importante Lucinha deixa seu recado para aqueles que ainda têm receio de procurar ajuda: “Hoje sabemos que a pessoa contaminada pelo HIV, mas que tem seu exame indetectável não é transmissível. Isso faz toda a diferença, por isso faço o apelo para aqueles que se testam que também se tratem; e para aqueles que acham que possam estar contaminados que se testem e se tratem se for o caso”.

Para a carioca de Vassouras ainda há muito a ser feito na luta contra a doença, principalmente quando falamos sobre conscientização e testagem: “Um dos trabalhos que precisam ser feitos é ir atrás das pessoas que fazem o teste e não procuram o tratamento. Apesar de a AIDS ser hoje uma doença com tratamento eficaz ainda tem muito a ser feito [...] Hoje é uma doença que atinge principalmente pessoas de menor poder aquisitivo e baixo índice de escolaridade, o que as torna mais vulneráveis”.

Contudo, apesar do cenário atual, Lucinha se mostra positiva quando questionada se considera possível uma cura total para a AIDS “Acredito, acho que estamos mais próximos da cura e ainda espero ver esse momento”.

Viva Cazuza

Após 30 anos à frente da organização, Lucinha, de 84 anos, anunciou em outubro de 2020 a decisão de que a Sociedade Viva Cazuza fechará as portas ainda em dezembro desse ano.

Lucinha Araújo em entrevista / Crédito: Divulgação/Youtube/Trip Transformadores/ 30 de nov. de 2018

“A quarentena e o isolamento me fizeram refletir. A Viva Cazuza tinha como um dos seus principais projetos a manutenção de uma casa de apoio para crianças HIV positivos. Com o passar do tempo e a qualidade no tratamento das grávidas a transmissão mãe-filho hoje são inexpressivas, o que nos fez abrigar mais crianças negativas do que HIV positivas. Estávamos trabalhando fora da missão e já não tenho mais a mesma energia que tinha”, revela a mãe de Cazuza.

Contudo, para Lucinha, os anos que ela passou trabalhando pela causa que tirou a vida de seu filho foram transformadores e inesquecíveis. “Foi minha tábua de salvação. Depois da morte de Cazuza eu tinha duas opções: morrer ou fazer alguma coisa de útil. Fechei os olhos e mergulhei no trabalho. Foi a melhor coisa que fiz e tenho muito orgulho”, nos conta a filantropa. “Com certeza sou outra pessoa. Meus valores mudaram. Acho que não se passa por uma perda como eu passei sem mudar radicalmente a visão de mundo e de vida”, finaliza Lucinha.


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