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Matérias / Personagem

Depressão, camisa de força e medo do inferno: os trágicos dias finais de Maria I, rainha de Portugal

Como uma das monarcas lusitanas mais importantes, Maria foi submetida a tratamentos de choque, morrendo em profunda tristeza

André Nogueira Publicado em 13/04/2020, às 11h48

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Dona Maria em retrato de 1808 - Wikimedia Commons
Dona Maria em retrato de 1808 - Wikimedia Commons

Maria I, monarca de Portugal, liderou um estrondoso império em decadência, em pleno surgimento dos ideais contrários aos absolutismos na Europa. Entrando para a história com o injusto título de louca, ela sofreu as mais infelizes conspirações que mancharam sua imagem e a retiraram do trono por preconceitos e esforços para a mudança do governo.

A aristocracia absolutista de Maria I entrou em conflito com o despotismo esclarecido de Pombal, de matriz mais burguesa, o que levou a uma tentativa forçada de renovação política reprovada pela monarca. Os esforços de Pombal, aliado à Família Real, fez com que Maria fosse derrubada em 1792, sendo afastada de assuntos políticos com desculpas ligadas à sua sanidade. Porém, hoje se defende que a hipótese da esquizofrenia de Maria seja falsa.

Maria passava por dificuldades psicológicas. Segundo Mary del Priori autora da obra D. Maria I: as perdas e as glórias da rainha que entrou para a história como “a louca", a política passava por um complexo quadro de depressão na época. Isso porque ela teve que enfrentar, em pouco tempo, a morte do marido, do tio, da filha D. Mariana, do genro, do filho mais velho José e do amigo Frei Inácio — a quem ela confessava. Como consequência, perdeu a sanidade.

Maria I de Portugal / Crédito: Wikimedia Commons

"Dona Maria I tinha todos os sintomas da depressão: tristeza constante, profunda e incapacitante, perda de autoconfiança, sentimento de vazio, irritabilidade, distúrbios do sono, fadiga, isolamento, e, o mais importante, sentimento de culpa e de inutilidade”, afirmou Mary del Priori em entrevista ao portal UAI. "Dona Maria ficou muito desesperada quando perdeu o companheiro”. É importante ressaltar que o casamento de Maria e Pedro III, ao contrário do padrão da época, foi realizado por amor entre as partes.

O fim da vida de Maria I foi caracterizado pela dor e abuso. Ela foi submetida a diversos tratamentos violentos, isolada da família em diversos momentos e deixada às traças. Enquanto sua depressão era agravada, ela se perdia em devaneios desesperados pela salvação da alma. Até seu sustento religioso foi tirado dela, pois se acreditava que os ícones que usava para a reza agravavam sua loucura.

Diante do quadro, diversos eventos da corte de Lisboa foram cancelados em favor da paz solitária de Maria, e preces públicas foram realizadas pela sua recuperação. Eram constantes das reclamações da rainha em relação ao seu mal-estar, e a depressão a levou a uma série de variações de humor.

Seus médicos começaram a indicar remédios que não faziam efeitos, por conta do mal diagnóstico gerado pelo preconceito, e cujo consumo era negado pela monarca.

Maria, que então se recusava a tomar os medicamentos, passou a se preocupar com a salvação espiritual. Porém, seu medo do inferno passaria a compor sua vida depois que, em 1792, o médico e padre Francis Willis foi convocado a Portugal para, sendo muito bem pago, cuidar da senhora.

Willis a submeteu a diversos tratamentos pelos quais era conhecido: camisa de força, banhos de água gelada e a terapia por choques elétricos. As violências levara Maria a ter acessos de instabilidade emocional.  

Dr. Francis Willis, que também foi o médico responsável pelo tratamento de George III do Reino Unido / Crédito: Wikimedia Commons

Diante da ineficácia de seus tratamentos, Willis se demitiu. Inquieta e infeliz, o legado de seu governo, popular e desenvolvimentista, se perdeu na fama de louca, fato que a fez ignorar até a realização de seu sonho: tornou-se vó em 1798, quando Carlota engravidou de Dom Pedro.

Pouco tempo depois, no fim do ano de 1807, Maria passaria por mais um estresse: a insana fuga da Família Real para o Brasil. Mesmo com suas dificuldades, Maria era a pessoa mais calma da situação: “não conduzam tão depressa, ou as pessoas vão entender que estamos a fugir”, dizia ao filho João.

Por oito anos, Dona Maria viveu no Brasil, em constante infelicidade. Passando a viver no Convento do Carmo, Rio de Janeiro, passou os últimos dias em isolamento, rezando e chorando. Morreu em 20 de março de 1816, quando tinha 81 anos.

Sua morte foi fortemente sentida por uma população que a admirava, e seu corpo passou por grandes cortejos fúnebres até ser sepultada na cidade. Em 1821, seus restos foram levados a Lisboa, onde estão até hoje, imortalizados no mausoléu da Basílica da Estrela.


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