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Matérias / Desastre Aéreo de Munique

Desastre Aéreo de Munique: Há 65 anos, acidente marcava geração do Manchester United

Em 6 de fevereiro de 1958, 8 jogadores do busby babes perderam a vida após acidente aéreo. Ao todo, a tragédia deixou 23 mortos

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 04/02/2021, às 18h10 - Atualizado em 06/02/2023, às 09h49

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Jogadores que faziam parte dos busby babes - Divulgação/ Manchester United
Jogadores que faziam parte dos busby babes - Divulgação/ Manchester United

O Manchester United é considerado um dos maiores times da Inglaterra — e do mundo —, devido sua história rica em títulos e ídolos. Por lá, desfilaram grandes craques da história, como Cristiano Ronaldo, George Best, Bobby Charlton, Wayne Rooney, Eric Cantona, entre outros...

Entretanto, ao longo de seus 144 anos, uma das datas que mais marcam o clube não remete a uma conquista, mas sim a uma perda que jamais será reparada: o episódio conhecido como 'O Desastre Aéreo de Munique'.  

Na ocasião, em 6 de fevereiro de 1958, há exatos 65 anos, a delegação dos Diabos Vermelhos voltava de Belgrado, na Sérvia, onde o time conquistou a classificação para as semifinais da Copa dos Campeões após bater o Estrela Vermelha. 

Memorial, no Old Trafford, em homenagem às vítimas do acidente áereo / Crédito: Cantthinkofagoodname via Wikimedia Commons

Entretanto, a aeronave que levava jogadores, membros da comissão técnica e jornalistas, teve que fazer uma escala em Munique para reabastecer. Saindo da Alemanha, o pior aconteceu.

Os busby babes 

A década de 1930 parece ter sido o fundo do poço para a equipe vermelha de Manchester. Rebaixada duas vezes para a segunda divisão, o clube estava à beira da falência.

As coisas pioraram quando, em 1941, com a Segunda Guerra Mundial, a Luftwaffe bombardeou o Old Trafford, obrigando o United a jogar em Maine Road, estádio do rival Manchester City.  

Foi sob esse pano de fundo que o treinador Matt Busby assinou com os Reds em 19 de fevereiro de 1945. Com uma visão otimista e brilhante, Matt viu nas cinzas do Teatro dos Sonhos, apelido do estádio do United, a chance de reviver, como uma fênix.  

O último jogo dos Busby Babes antes do desastre. Da esquerda para a direita, estão Edwards, Colman, Jones, Morgans, Charlton, Viollet, Taylor, Foulkes, Gregg, Scanlon e Byrne / Crédito: Manchester United

Apostando em uma geração de jovens, em apenas dois anos, a gestão pioneira de Busby conquistou o primeiro título da equipe em quase 40 anos: a FA Cup de 1948.

Logo, o time foi ganhando casca e passou a disputar troféus. Em 1952, outra conquista, desta vez o título da liga. O Manchester voltava a ser campeão inglês após 51 anos

Com o passar do tempo, a equipe foi se rejuvenescendo cada vez mais. Para se ter uma ideia, na temporada 1955/1956, a média de idade dos jogadores do United era de apenas 22 anos.

Mesmo assim, os Busby Babes, como ficaram conhecidos, foram campeões nacionais, o que levou a equipe inglesa a competir na recém-criada Copa dos Campeões da UEFA, que seria disputada em 1956/1957. Porém, os vermelhos acabaram eliminados para o poderosíssimo Real Madrid, de Alfredo di Stéfano.  

A tragédia

Apesar do insucesso, na temporada seguinte, os Busby Babes voltariam a disputar o torneio continental após conquistarem outro título da liga inglês. Entretanto, desta vez, o destino dos meninos de Manchester seria bem mais cruel.  

No jogo de ida das seminais da Copa dos Campeões, o United venceu por 2x1 o time sérvio do Estrela Vermelha. No duríssimo jogo de volta, eles conseguiram a classificação ao empatarem por 3x3.  

Na volta para a Inglaterra, o avião da equipe fez uma parada em Munique, na Alemanha Ocidental, onde reabasteceria. Enfrentando um mau tempo, a aeronave realizou duas tentativas de decolagem que falharam e, na terceira, a neve impediu que o veículo ganhasse velocidade, gerando sua queda momentos depois.

Restos do avião após o acidente/ Divulgação/ Manchester United

No avião, estava a jovem equipe de campeões do time, assim como os dirigentes e alguns membros da equipe técnica, jornalistas e alguns colaboradores. A tragédia deixou 23 mortos, entre eles oito jogadores do Manchester: Roger Byrne (28 anos), Eddie Colman (21), Mark Jones (24), David Pegg (22), Tommy Taylor (26), Geoff Bent (25), Liam Whelan (22) e Duncan Edwards (21) — este último considerado um dos jogadores mais promissores de sua geração e que, para muitos, seria um dos maiores da história.  

Duncan tinha tudo. Tinha força e espírito que simplesmente se esparramavam pelo campo. Tenho certeza absoluta que, se sua carreira tivesse um período maior, ele provaria ser o maior jogador que já vimos. Sim, conheço os grandes jogadores — Pelé, Maradona, Best, Law, Graves e meu preferido, Alfredo di Stefano —, mas a questão é que ele era melhor em todos os aspectos do jogo”, disse o ídolo inglês Bobby Charlton sobre Edwards.  

O jogador Duncan Edwards / Crédito: Manchester United

Bobby foi um dos sobreviventes da tragédia, ele tinha apenas 20 anos quando o avião caiu. "Alguns se perguntavam se o United ainda existiria após a tragédia de Munique. Eu não tenho nenhuma maneira de pensar sobre as coisas em perspectiva. Eu só sei que me causou a morte de meus colegas, agora eu entendo que eles eram crianças. Isso me marcou para sempre". 

Após a tragédia, a cidade de Munique jamais admitiu sua parcela de culpa pelo acidente aéreo, que foi causado, principalmente, pelas condições do aeroporto. Durante as investigações, o governo alemão chegou a omitir depoimentos, com o objetivo de colocar o comandante Tain — que pilotava o veículo — como único responsável pela queda. Somente onze anos depois, Tain conseguiu provar a falha na pista, com apoio do governo britânico. 

Fumaça saindo do avião que acabara de cair / Crédito: Mrs Ruby Thain via Wikimedia Commons

O clube 

Após a tragédia, outros dois jogadores tiveram que encerrar suas carreiras diante dos ferimentos do acidente: são eles Johnny Berry, que também atuava pela seleção inglesa; e Jackie Blanchflower, que jogava pelos selecionados da Irlanda do Norte.  

Matt Busby também ficou gravemente ferido, chegando a receber a extrema unção por duas vezes. Porém, acabou sobrevivendo ao evento. Com Busby hospitalizado, o time de Manchester passou a ser comandado por Jimmy Murphy, fiel assistente de Matt. Ele não viajou para Munique pois perdeu sua viagem por causa de suas obrigações como técnico do País de Gales.  

Matt Busby quando estava hospitalizado / Crédito: Divulgação/ Manchester United

Apenas 13 dias após a tragédia, os Reds já jogariam a quinta rodada da FA Cup contra o Sheffield Wednesday. Com o mantra de “O United continuará”, a equipe foi recebida por mais de 59 mil pessoas.  

Embora lamentemos nossos mortos e soframos por nossos feridos, acreditamos que os grandes dias não acabaram para nós... O Manchester United se levantará novamente”, declarou o presidente do clube à época, Harold Hardman

Naquela temporada, o time ainda chegaria à final da Copa da Inglaterra, título que perdeu para o Bolton Wanderes; e na semifinal da Copa dos Campeões, sendo eliminado pelos italianos do Milan. Na temporada seguinte, com a volta de Busby, o time conseguiu o vice-campeonato inglês.  

Já na temporada de 1964/1965, os vermelhos de Manchester voltaram a ser campeões ingleses após uma disputa acirradíssima com o Leeds United. Após empatarem em números de pontos, vitórias, empates e derrotas, o troféu foi decidido no saldo de gols. 

Mesmo após as mais de seis décadas da tragédia, o Manchester United continua relembrando a memória das vítimas a cada 6 de fevereiro, seja nas redes sociais ou minutos antes de uma partida oficial. 

Oficialmente, o acidente ocorreu às 15h04 do horário local. Assim, em Old Trafford, estádio do United, há um memorial com um relógio no qual os ponteiros marcam o horário da tragédia.