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Matérias / Racismo

Olimpíadas do Racismo: o episódio que reflete o colonialismo do século 20

Em um evento paralelo aos jogos de 1904, diversos povos foram tratados como atrações taxativas e preconceituosas durante os chamados Dias Antropológicos

Willy Delvalle e Joseane Pereira/Atualizado por Pamela Malva Publicado em 07/04/2021, às 17h05

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Fotografia de dois jovens competindo nos Dias Antropológicos - Wikimedia Commons
Fotografia de dois jovens competindo nos Dias Antropológicos - Wikimedia Commons

Nos últimos dias, uma discussão entre participantes do Big Brother Brasil tomou conta das redes sociais. Tudo começou no sábado, 3, quando o cantor sertanejo Rodolffo comparou uma peruca de homem das cavernas com o cabelo do professor João Luiz.

O comentário foi considerado, tanto pelo educador, quanto pela influenciadora Camilla de Lucas como preconceituoso. Para os dois participantes, que se ofenderam com a suposta brincadeira, a ideia de comparar o penteado de João, um black power, com a peruca caricata é bastante dolorosa.

“Isso pra mim [a comparação feita por Rodolffo] tocou em um ponto muito específico. Porque o jogo, ele pode ser sim, de coisas que a gente vive aqui dentro, mas ele também tem que ser um jogo de respeito”, comentou João, no chamado 'Jogo da Discórdia', que reacendeu a discussão ao vivo, na segunda-feira, 05.

Participante João (esq.) e Rodolffo usando peruca de fantasia (dir.) / Crédito: Divulgação / TV Globo

Repercussões

Mais tarde, a discussão migrou para as redes sociais e, após tomar grandes proporções, tornou-se pauta de um discurso feito por Tiago Leifert, o apresentador do programa, na terça-feira, 06. Ao vivo, o jornalista afirmou que o black power de João não é apenas um penteado, mas também um símbolo de resistência.

Durante o recado, Leifert ainda lembrou que pessoas negras, como João e Camilla, eram obrigadas a se levantar em ônibus para dar lugar aos brancos entre os anos 1950 e 1960. Dessa forma, ele pontuou, símbolos como o black power tornaram-se imagens da luta antirracista, principalmente nos Estados Unidos.

O episódio pontuado pelo apresentador, contudo, não é o único que ilustra a forma como a comunidade negra se vê obrigada a lutar por igualdade há anos. Muito antes da segregação, por exemplo, uma espécie de olimpíada taxativa teve o objetivo de diminuir afro-descendentes, indígenas e nativos norte-americanos.

Especialidades eram consideradas primitivismo / Crédito: Wikimedia Commons

As Olimpíadas Antropológicas

Os chamados 'Dias Antropológicos' foram jogos realizados cerca de duas semanas antes dos Jogos Olímpicos de 1904, em Saint-Louis, nos Estados Unidos. A proposta era que povos considerados primitivos pelo Ocidente, a exemplo de zulus, pigmeus africanos e alguns indígenas, disputassem as competições.

No primeiro dia, eles seguiriam o programa olímpico de esportes. No segundo, deveriam mostrar o que sabiam fazer, como subir rapidamente numa árvore. Logo ficou cláro, contudo, que os "competidores", não tinham experiência nas modalidades olímpicas, tidas como exclusivas para brancos. Então seus desempenhos foram desastrosos.

Segundo Fabrice Delsahut, mestre de conferência em ciências e técnicas de atividades esportivas da Universidade de Sorbonne, as disputas foram preparadas para americanos xenófobos, que, ao assistir às competições, reagiam com gargalhadas.

"As capacidades físicas", como explica Delsahut, "dos povos colonizados eram estudadas por cientistas, que assim mostrariam a presunçosa superioridade dos brancos colonizadores".

Fotografia de uma das provas dos jogos nos Dias Antropológicos / Crédito: Missouri Historical Society

Show de preconceito

O evento fazia parte da 3ª Feira de Exposição Universal de Saint-Louis e celebrava a compra do território francês da Louisiana pelos Estados Unidos, em 1803. Delsahut explica que os organizadores queriam ensinar o que seria o Cidadão Ideal, defendendo a importância da expansão colonial, em marcha nos EUA ao longo do século 19.

Em matéria publicada na Folha, fica claro que a ideia não era diversisficar os jogos, mas sim comparar as origens dos competidores. No caso de dois membros do povo zulu, Lentauw e Yamasani, por exemplo, sua participação serviu apenas para provocar risos na platéia. Descalços e com chapéus de palha, eles tornaram-se uma espécie de atração.

Na época, inclusive, uma edição da Enciclopédia Britânica utilizou os resultados dos Dias Antropológicos para justificar uma suposta inferioridade dos negros no esporte, segundo a Folha. O problema é que tais resultados dependiam de competidores despreparados, que não desempenhavam as mesmas atividades que os brancos sediadores dos jogos.

Os Dias Antropológicos, então, com toda a pompa de um acontecimento mundial, são uma das provas mais recentes da mentalidade branca com relação a outras etnias. Marcada na História, essa celebração da intolerância e brutalidade ocidental mostra que a tentativa de adequar uma cultura aos padrões de outra, feita de maneira forçosa e com objetivos cruéis, nunca funciona e ainda é bastante violenta.


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