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Matérias / Ditadura

Brasil tentou comandar Operação Condor nos Anos de Chumbo, mostram documentos da CIA

Divulgações da Agência Central de Inteligência apontam que Brasil tentou passar por cima de outros países no esquema de repressão internacional a exilados

André Nogueira Publicado em 29/04/2019, às 16h00

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Cartum de Latuff representando a Operação Condor - Reprodução/ Carlos Latuff
Cartum de Latuff representando a Operação Condor - Reprodução/ Carlos Latuff

O Brasil de Médici e Geisel apareceram em fontes da Agência Central de Inteligência Americana (CIA) ao aceitarem a participação como colaborador e observador da famosa Operação Condor. O destaque para o Brasil está na postura agressiva e ofensiva do país em relação aos outros membros, ao tentar assumir a liderança do programa e tomar o poder da cadeia operativa. O plano brasileiro não foi para frente por resistência e pressão dos outros países-membro da Operação, sendo eles: Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai e Bolívia.

A Operação Condor foi uma operação secreta de aliança entre países, empresas e exércitos da América do Sul, com o objetivo de articular a perseguição política aos opositores das ditaduras que tomavam os países-membros durante o período.

O programa foi uma iniciativa do governo chileno de Augusto Pinochet e atuou principalmente durante os anos 1970, a partir da unificação de esforços entre exércitos nacionais e um complexo sistema de comunicações, no qual se permita que os países se articulassem a prisão, deportação e/ou sentenciamento de foragidos políticos entre os Estados.

Pinochet, idealizador da Operação/Crédito: reprodução

Os documentos, revelados agora, apontam que após a falha do plano brasileiro de assumir o comando da Operação, a posição do governo foi de manter os serviços de segurança, atuando de modo periférico à Operação. 

Essa foi a época de articulações particulares do governo do Brasil com outros órgãos internacionais.  Isso teria aparecido no documento de 28 de Dezembro de 1977, sobre uma reunião ocorrida em Santiago, no Chile, ocorrida no ano anterior (1976). Nela, o Brasil teria tomado uma “postura muito agressiva e tentado usurpar a liderança, uma ação que não caiu bem entre os outros membros”, de acordo com o relatório, e como consequência, o país teria decidido deixar a centralidade da operação.

A abrangência e articulações internas da Operação Condor sempre foram assunto de muita polêmica. As principais fontes dessas informações são registros secretos de diferentes agencias de inteligência.

A CIA, por exemplo, possui documentos que comprovam que o governo brasileiro fez acordos com o governo argentino para proporcionar a caça e a eliminação dos “terroristas que tentassem fugir da Argentina para o Brasil”, após a ascensão de Videla na Argentina.

Os relatórios oficiais do Exército Brasileiro apontam uma atuação mínima do Brasil na estrutura da Operação, se limitando à observação, troca de informações e auxílio no treinamento dos militares. Porém, os documentos da inteligência americana demonstram que o Brasil foi, para além de mero observador, membro direto das operações de perseguição aos “grupos subversivos”. 

O Exército, em resposta às novas informações, apontou que não há como averiguar as informações nos arquivos internos, pois muita documentação foi destruída na época. Os arquivos das Forças Armadas nunca foram abertos no Brasil.

João Figueiredo (BRA) em visita a Jorge Videla (ARG) / Crédito: Reprodução

Entre a série de documentos arquivados pela CIA, há também um acordo assinado pelos órgãos de informação dos países membros da Operação para criar uma estrutura para realizar assassinatos de perseguidos, em exílio na Europa. O movimento ficou conhecido na época como Operação Teseo. O centro de operações dessa rede seria localizado em Buenos Aires, na Argentina e se sustentaria por contribuições de todos os países-membros.

Cada país se comprometeu em mandar quatro soldados como agentes para o sistema de segurança, responsáveis pelo levantamento dos alvos e suas localizações. Também se acordou uma contribuição de US$ 10.000 para custearem as operações, incluindo armas, equipamentos e um saldo de 3,5 mil dólares para os agentes.

Montoneiros dinamitam a casa de Guilherme Klein em Operação / Crédito: Reprodução

O Brasil, mesmo após decidir deixar a centralidade da Operação, não deixou de se articular e participar diretamente da perseguição politica. Segundo releva os textos da CIA, o país manteve a cooperação com o governo argentino nas Operações Gringo e Caco, chefiadas pelo major Ênio Pimentel da Silveira, do Centro de informações do Exército Brasileiro (CEI), no qual se espionaram grupos de esquerda argentinos em território brasileiro. As informações dessa operação foram confirmadas por depoimento pessoal do “tenente Chico”, membro do DOI do 2º Exército durante a ditadura.

Outros nomes do Exército Brasileiro estão diretamente associados à Operação Condor, como Paulo Malhães, Octávio Medeiros, João Augusto Rosa, Orandir Portassi Lucas, João Batista Figueiredo, etc.