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Matérias / Personagem

Dom Casmurro da vida real: Teste de paternidade desvendou mistério centenário

Durante anos, especulou-se se Xaver era pai ou não de filho de Dina; entenda a história que atravessou Guerras!

Fabio Previdelli Publicado em 09/01/2022, às 08h00

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Cartões postais analisados pela equipe de cientistas - Forensic Science International
Cartões postais analisados pela equipe de cientistas - Forensic Science International

A primeira forma de qualquer tipo de teste parental por meio da tipagem sanguínea, os famosos testes de DNA, começaram na década de 1920. No início de 1900, descobriu-se que os tipos sanguíneos eram herdados geneticamente, desta forma, comparando os tipos das crianças com as dos pais, por exemplo, pode-se determinar se existe alguma possibilidade de vínculo parental.

Conforme explica matéria publicada pelo UOL, entretanto, os testes de paternidade só passaram a ser feitos em grande escala nos anos 1990. Para se ter ideia do quão comum eles se tornaram, dados de 2018 do Instituto de Medicina Social e Criminologia de São Paulo (Imesc) apontam que, só no estado de São Paulo, cerca de 10 mil exames deste tipo são feitos por mês. 

Coleta de sangue/ Crédito: Pixabay

Apesar de já ter se tornado um exame simples atualmente, a eficácia dos testes de DNA chamou a atenção por resolver um dúvida paternal que persistia desde o século 19. Um artigo com mais informações sobre o processo foi publicado na revista científica Forensic Science International no início do mês. Entenda! 

Era o pai ou não?

Em 1885, o jovem ferreiro Xaver — vale ressaltar que os nomes dos personagens desta história foram alterados à pedidos dos familiares —, residente da Alta Áustria, deixou sua cidade natal em busca de melhores condições de trabalho e financeiras. 

Num dos estados ao leste do Império Austríaco, ele conheceu a jovem Dina, de 17 anos. Judia, ela era filha do patrão de Xaver. A relação, entretanto, foi descoberta pelo pai de Dina, que decidiu demitir o sujeito.

O rapaz, então, se viu obrigado a mudar de cidade. Dina, porém, como não conseguia ficar longe do amado, decidiu fugir de casa para encontrá-lo. A missão foi bem-sucedida após a jovem arrumar um emprego e se alojar na casa de Ron — um judeu de 30 anos que era proprietário de uma fábrica. 

A história começou a se complicar em 1886. Em setembro daquele ano, Dina e Ron passam a se aproximar e, nove meses depois, ela deu à luz a Renc. O menino recebeu todos os rituais judaicos quando nasceu. 

Parte de árvore genealógica da família/ Crédito: Forensic Science International

Porém, Xaver não era página virada na vida da mulher, muito pelo contrário, eles não só ainda namoravam como se casaram dois anos depois.

Xaver passou a reconhecer Renc como seu enteado. Posteriormente, o casal teve outros três filhos, sendo que um deles se chamava Arles.

Origens escondidas

Com a perseguição aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial, a família fez de tudo para esconder a ascendência judaica de Renc. O medo de uma deportação a campos de concentração tomou conta da família por anos. 

Passado o conflito, Dina e Xaver continuaram a esconder a verdade sobre a paternidade de Renc, embora todos dentro da família saberem a história verdadeira. 

Judeus do campo de concentração de Auschwitz/ Crédito: Getty Images

As gerações seguintes da família sempre ouviam a história de Dina, Xaver e Renc. E sempre uma pergunta vinha à tona: será mesmo que Renc era filho de Ron? Afinal, como Dina sempre manteve uma relação com Xaver, a possibilidade existia. 

Paternidade contestada

Desta forma, em 2017, descendentes da família buscaram o geneticista Cordula Hass, da Universidade de Zurique, na Suíça, para sanar essa dúvida de uma vez por todas. Além de oferecerem amostras genéticas, os parentes vivos do trio dispunham de cartões postais enviados por Renc e por Ron.

Como, na época, era costume usar saliva para colar selos, existia a possibilidade das missivas guardarem material genético dos mesmos. Durante um ano e meio, Hass e sua equipe tentaram desvendar o mistério, mas não conseguiram chegar a uma conclusão. O caso foi encerrado em outubro de 2018. 

Uma resposta

Apesar do mistério permanecer, a família não se deu por vencida. Em março de 2021, eles voltaram a entrar em contato com o geneticista. Isso porque tinham encontrado cartões postais enviados por Arles em uma viagem de negócios feita em 1922. 

Desta vez, o material genético de Renc — encontrado em cartas enviadas por ele enquanto combatente guerra — conseguiu ser comparado com o de Arles. Constatou-se que os dois possuíam uma linhagem cromossômica Y em comum, ou seja, eles eram irmãos que possuíam o mesmo pai. 

A verdade foi descoberta mais de um século depois: Xaver era pai de Renc, e não Ron. Segundo Cordula Hass, a família se surpreendeu com a descoberta, apesar da desconfiança que tinham, e ficaram felizes em descobrir mais sobre a verdadeira história de seus ancestrais.