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Matérias / Brasil

Doutrinação eurocentrista e quebra de privilégios: Como Carter Woodson influenciou a luta antirracista dos EUA

Thiago Santos, assistente editorial da Edipro, que recentemente trouxe ao Brasil tradução da obra de Woodson, reflete sobre a importância de Carter

Fabio Previdelli Publicado em 16/05/2021, às 05h00

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Retrato de Carter G. Woodson - U.S. National Park Service/Wikimedia Commons
Retrato de Carter G. Woodson - U.S. National Park Service/Wikimedia Commons

Em 1933, Carter G. Woodson — historiador, autor, jornalista e fundador da Associação para o Estudo da Vida e História Afro-americana — publicou o livro ‘The Mis-Education of the Negro’, onde discute sua tese de que os negros de sua época estavam sendo culturalmente doutrinados, em vez de ensinados, nas escolas americanas. 

Educados sob uma perspectiva eurocentrista, eles se tornaram cada vez mais distantes de suas próprias culturas e tradições, o que os tornaram mais dependentes e propícios a se submeterem a papéis inferiores na sociedade da qual faziam parte.  

“Quando se controla o pensamento de um homem, não tem que se preocupar suas ações. Não necessita dizer a ele para não ficar aqui ou se afastar. Ele encontrará seu 'lugar apropriado' e permanecerá nele. Você não precisa mandá-lo para a porta dos fundos. Ele irá sem ser mandado. De fato, se não houver porta dos fundos, ele instalará uma para seu benefício especial. Sua educação faz que isso seja necessário”, diz Carter em um trecho de sua obra. 

Considerado o “pai da história negra” nos Estados Unidos, Woodson foi apenas o segundo negro norte-americano a conquistar um doutorado, em 1912, quase 50 anos após a abolição da escravatura nos Estados Unidos. 

Retrato de Carter G. Woodson/ Crédito: Domínio Público

Posteriormente, seus livros se multiplicaram em salas de aula e se tornaram grandes gatilhos para o despertar da consciência dos negros nas buscas por seus direitos — embora a luta antirracista já fosse muito anterior a isso, vale ressaltar. 

Agora, o livro ganha uma nova edição no Brasil através da Editora Edipro, com o título “A Deseducação do Negro”, que recebe um prefácio escrito pelo rapper Emicida. Em entrevista exclusiva ao site do Aventuras na História, Thiago Santos, assistente editorial da Edipro, discorre sobre a importância da obra na história e para os tempos atuais. 

“Nos protestos ocorridos após a morte de George Floyd nos Estados Unidos, no ano passado, era comum vermos cartazes trazendo frases de Carter Woodson. Lá, o autor é uma parte importante da identidade da comunidade negra”, diz Thiago

Ele explica que Woodson se tornou parte da cultura pop americana no fim da década de 1990, principalmente depois que a cantora Lauryn Hill lançou o álbum ‘The Miseducation of Lauryn Hill’, baseado na obra que foi publicada no último mês de abril por aqui.   

Woodson deixou um legado importante para a discussão do tratamento reservado ao negro na América que, felizmente, parece ainda ser reconhecido nos Estados Unidos”, completa. 

A influência na luta dos negros brasileiros 

Apesar de ter sido um livro escrito por um afro-americano para os negros dos Estados Unidos, Santos acredita que a obra, ainda assim, é de grande valia para a luta antirracista brasileira, embora ressalte que sua influência sobre a comunidade negra dos EUA seria muito mais significante do que em outros países. 

“A obra de Woodson trata, sim, de um ponto nevrálgico da luta antirracista brasileira: a identificação da comunidade negra como um povo diaspórico, que não é uma visão muito comum por aqui. Essa autoimagem como povo distinto é necessária, segundo o autor, para uma reação contra o racismo”, explica. 

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Capa do livro 'A Deseducação do Negro, de Carter G. Woodson/ Crédito: Divulgação/Editora Edipro

Além disso, Thiago diz que a obra propôs uma importante reflexão sobre privilégios e o racismo estrutural de nossa sociedade. “É difícil percebermos que nossas instituições são construídas sobre bases de exclusão quando crescemos imersos nessas mesmas instituições. Obras como a de Woodson nos abrem os olhos para os problemas que sempre estiveram à nossa frente, mas foram naturalizados por nós mesmos”. 

Outro ponto que pode ser consequência dessa perspectiva mais eurocentrista é a maneira como as pessoas enxergam o racismo em nossa sociedade.

Para se ter ideia, segundo levantamento feito pelo Instituto Paraná de Pesquisas, em 2020, pouco mais da metade dos 2.240 entrevistados, de 26 Estados diferentes, acreditam que o racismo exista por aqui cerca de 61%. Já 56,7% creem que brancos e negros não possuem oportunidades iguais.  

Se elevarmos esses números proporcionalmente, seria como se mais de 103 milhões de pessoas acreditassem que vivemos em uma sociedade sem preconceitos raciais ou sem algum tipo de distinção pela cor da nossa pele, algo que é desmantelado por um levantamento do site Vagas.com.

Realizado no mesmo ano da pesquisa acima, aponta que 47,6% dos negros trabalham no nível operacional ou de auxiliar nas empresas; enquanto os diretores são apenas 0,7%, dos mais de 200 mil perfis apurados. 

“Acredito que a negação do racismo no Brasil está muito ligada ao nosso mito de democracia racial por conta da miscigenação. Romantiza-se a formação do povo brasileiro pela mistura de europeus, africanos e indígenas, sem levar em conta que, no processo, foi levado a cabo o extermínio dos povos originários”, explica Thiago.  

“Esquecendo-se que, após libertos, os descendentes dos escravizados africanos não contaram com políticas compensatórias para que fosse garantida a sua subsistência e uma verdadeira liberdade econômica. Há sim um ponto de conjunção com a educação eurocentrada. Essa romantização está ligada à visão europeia de que cumpriam um papel civilizatório nessa colonização”, conclui Thiago Santos


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