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Matérias / Eben Byers

Eben Byers tomou tanto rádio que seu maxilar se desintegrou

Após uma lesão no braço, em 1927, Eben Byers foi tratado com medicamento à base de rádio; ele se tornou tão radioativo que seu caixão foi forrado com chumbo

Fabio Previdelli | @fabioprevidelli_ Publicado em 16/07/2022, às 00h00

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Retrato de Eban Byers - Domínio Público via Wikimedia Commons
Retrato de Eban Byers - Domínio Público via Wikimedia Commons

Eben Byers foi um daqueles casos de quem teve uma vida que poderia causar inveja em qualquer um. Filho de um rico industrial, ele frequentou as melhores escolas dos Estados Unidos e tinha tudo de bom e do melhor que o dinheiro poderia proporcionar. 

Seu futuro lhe foi dado de bandeja e as coisas pareciam dar mais do que certo. Campeão de golfe amador, Byers viu sua vida mudar quando sofreu uma lesão. Apesar de todo o luxo que gozava, o que aconteceu em seguida o deixou de queixo caído — e não foi no sentido figurado da frase. 

A infância privilegiada de Eben Byers

Ebenezer McBurney Byers nasceu em Pittsburgh, na Pensilvânia, em 12 de abril de 1880. Filho de Alexander McBurney Byers — um colecionador de arte, financista, presidente de sua própria siderúrgica e do National Iron Bank of Pittsburgh —, Eben já nasceu com a vida feita. 

Ser criado com tal riqueza significava que ele tinha acesso a tudo que o dinheiro poderia comprar, o que se aplicava também a sua educação, afinal, estudou nas melhores escolas do país, como na prestigiada St. Paul's em Concord, New Hampshire, e também na Yale College. 

Mas Byers era muito mais que o filho de um ricaço, ele também se destacou como esportista. Em 1906, venceu o Campeonato Amador de Golfe dos Estados Unidos, segundo registros da Golf Compendium.

Eban Byers jogando golfe na década de 1920/ Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Mas, com a boa e velha meritocracia familiar, seu pai lhe fez presidente de sua própria empresa, a AM Byers Company, uma das maiores produtoras de ferro forjado dos Estados Unidos.

Infelizmente, um trágico acidente mudou o destino de Eben Byers. Sua morte prematura, além de horripilante, também serviu para causar uma verdadeira revolução na medicina do país. 

Radithor, o remédio que desintegrava mandíbulas

Era meados de novembro de 1927. Eben voltava para casa para assistir ao tradicional jogo anual de futebol Yale-Harvard quando o trem em que estava parou repentinamente. Segundo o Allegheny Cemetery Heritage, Byers caiu de sua beliche e acabou ferindo o braço. À época, seu médico, CC Moyer, lhe receitou Radithor, um medicamento feito da dissolução de rádio em água. 

Até a década de 1920, ninguém tinha noção de que o material radioativo poderia causar mutações genéticas e até mesmo câncer em altos níveis de exposição. Dessa forma, houve poucas contestações quando o desistente de Harvard, William J. Bailey, apresentou o Radithor. O ‘remédio’ logo se popularizou. 

Conforme aponta matéria do All That Interesting, Bailey mentia descaradamente alegando ser um médico. Na verdade, tudo era balela para ele vender o Radithor mais facilmente, chegando a oferecer 17% de desconto para quem comprasse um frasco do medicamento. 

Sabe-se que Byers tomou cerca de 1.400 doses de água com rádio ao longo de três anos. Em um dia acima da média, ele chegou a ingerir três frascos do ‘medicamento’. Entre 1927 e 1930, ele chegou a afirmar que o Radithor lhe dava uma sensação de “tonificação”. 

Frasco de Radithor / Crédito: Museu Nacional de Ciência e História Nuclear no Novo México via Wikimedia Commons

Apesar de, em um primeiro momento, o Radithor ter sido usado para tratar sua lesão no braço, um artigo publicado pelo Museum of Radiation and Radioactivity aponta que Eben era conhecido como “Vovô Foxy” por seu colegas de classe em Yale, devido a sua falta de “apetite” com as mulheres. Assim, o ‘medicamento’ parece ter trazido de volta sua líbido.

Seja quaisquer que fossem os motivos para ele usar a droga, a única certeza que se tem é que Eben Byers se arrependeu até o fim por conta dos efeitos colaterais que o Radithor lhe causou. 

De queixo caído

Em 1931, Eben passou a apresentar os primeiros sinais de que algo não estava bem: ele sofreu uma extrema perda de peso e suas dores de cabeça se tornaram cada vez mais excessivas. No entanto, tudo piorou quando sua mandíbula começou a se desintegrar. 

Em dado momento, seus ossos e tecidos da boca começaram a cair aos pedaços, de dentro pra fora. Sua figura se tornou monstruosa. O único lado positivo, se é que se pode chamar assim, é que o envenenamento por rádio foi tão grande que ele sequer foi capaz de sentir dor. 

Com o cenário catastrófico, a Federal Trade Commission (FTC) começou a investir o Radithor como uma droga perigosa. Byers até foi chamado para testemunhar, mas ele estava tão doente que um advogado teve que ser enviado para sua mansão em Long Island para entrevistá-lo. 

Uma experiência mais horrível em um cenário mais lindo seria difícil de imaginar... [Byers teve sua] mandíbula superior inteira, exceto dois dentes da frente e a maior parte de sua mandíbula inferior,  removida. Todo o tecido restante de seu corpo estava se desintegrando e buracos estavam se formando em seu crânio”, apontou Robert Winn.

Em 31 de março de 1932, Eban Byers veio a falecer. Ele tinha 51 anos. Apesar da causa de sua morte ter sido registrada como “envenenamento por rádio”, o verdadeiro motivo foi devido ao câncer que ele desenvolveu por conta do Radithor. 

Para se ter ideia, aponta o All That Interesting, havia tanto rádio em seu corpo que até mesmo sua respiração era radioativa, o que fez com que seu caixão tivesse que ser forrado com chumbo, para evitar que seu cadáver contaminasse o solo ao seu redor. 

Segundo o The New York Times, pouco depois, a FTC fechou a empresa de Bailey, que jurou até o fim que o Radithor não fazia mal e que ele só parou de vender o produto por conta da Grande Depressão. 

William J. Bailey foi além, declarando: “Eu bebi mais água de rádio do que qualquer homem vivo e nunca sofri nenhum efeito negativo”. Mais tarde, porém, ele morreu de câncer de bexiga.

Além da intervenção da FTC, a expansão da Food and Drug Administration (FDA) fez com que a venda de medicamentos nos Estados Unidos fosse mais regulamentada. Hoje, cada nova droga aprovada precisa ter um selo de aprovação do órgão, muito por conta da morte de Eben Byers.