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Matérias / Brasil

Em 1941, Monteiro Lobato foi preso por criticar o Estado Novo

Ao escrever uma atrevida carta ao então ditador Getúlio Vargas sobre a questão do petróleo, o autor ficou encarcerado por três meses em São Paulo

Isabela Barreiros Publicado em 07/01/2020, às 16h04

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Monteiro Lobato, escritor brasileiro - Editora Unesp
Monteiro Lobato, escritor brasileiro - Editora Unesp

Muitos brasileiros nacionalistas estavam incomodados com a gerência de Getúlio Vargas e outros políticos anteriores a ele em relação ao petróleo presente em território brasileiro. Monteiro Lobato, famoso escritor paulista, integrava este grupo e, por seu posicionamento e atitude irreverente perante o ditador, acabou sendo preso durante o Estado Novo.

Em maio de 1940, Lobato escreveu duas cartas audaciosas a importantes figuras do governo. No dia 24 daquele mês, elas foram recebidas pelo então presidente Vargas e pelo general Góes Monteiro, chefe do Estado-Maior do Exército. O autor assinalava a “displicência do sr. Presidente da República, em face da questão do petróleo no Brasil, permitindo que o Conselho Nacional do Petróleo retarde a criação da grande indústria petroleira em nosso país, para servir, única e exclusivamente, os interesses do truste Standard-Royal Dutch”.

Esse trecho resume todo o pensamento por trás das cartas: o paulista acreditava que os governantes perseguiam empresas brasileiras em detrimento das internacionais, dificultando o procedimento a elas por meio de “embaraços legais”.

Segundo ele, essas eram restrições à autossuficiência do próprio país como nação soberana. Multinacionais também ganhavam com essa dependência brasileira, que necessitava importar produtos de outros territórios para conseguir se manter.

Crédito: Wikimedia Commons

Depois do recebimento das correspondências, foi aberto um inquérito para analisar as condições de Lobato. Ao final da investigação, o delegado Rui Tavares Monteiro, da Superintendência de Segurança Política e Social de São Paulo, concluiu que “sobre haver injuriado o Sr. Presidente da República, procura com notável persistência desmoralizar o Conselho Nacional de Petróleo, apresentando-o a soldo de companhias estrangeiras, em cujo exclusivo benefício toma todas as suas deliberações, o que, a ser verdade, constituiria, sem dúvida um crime de lesa-pátria, que comprometeria o próprio Governo Federal, de que ele é representante”

Tomando as palavras do escritor como injuriosas, ele foi preso por delito contra a segurança nacional no dia 20 de março de 1941, um ano depois do acontecimento que havia marcado sua vida. Lobato, aos 57 anos, passou três meses encarcerado no presídio Tiradentes, na capital de São Paulo.

“Estou como queria, colhendo o que plantei. A causa do petróleo ganha muito mais com a minha detenção do que com o comodismo palrador aí do escritório”, disse o escritor a respeito de sua prisão.

Ovídio Poli Junior, Doutor em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP), em sua tese de doutorado A pena e o cadafalso: Observações sobre a literatura carcerária relativa ao período do Estado Novo, escreve um pouco mais sobre a relação de Lobato com o mundo exterior durante seu período de cárcere. Segundo Poli, ele passou por essa fase com "altivez e a ironia".

“As cartas redigidas por Monteiro Lobato são escritas num estilo impiedoso, atacando a censura imposta pelo governo e ridicularizando as autoridades responsáveis por sua prisão com extremo sarcasmo. Além do som cáustico e virulento, as cartas têm como marca principal uma profunda ironia”, escreve o autor.

Crédito: Acervo Monteiro Lobato

Além disso, em outras correspondências, chegou a “descrever as condições carcerárias do presídio e denunciar as torturas ali praticadas contra os presos comuns”, recebeu inúmeras visitas em Tiradentes e, ainda de acordo com Poli, “não se abateu, não se deixou tomar por vítima: desafiou seus algozes”.

Por essas e outras coisas, ele permaneceu mais tempo que o previsto em sua condenação — poderia ter saído antes, mas sua petulância não permitiu que isso acontecesse. No dia em que iria ser liberado da prisão, ele escreveu ao presidente do Conselho Nacional do Petróleo, o general Horta Barbosa, que estava "profundamente reconhecido pelos deliciosos e inesquecíveis dias passados na Casa de Detenção" em que pode "meditar sobre o livro de Walter Pitkin, A Short Introduction to the History of teh Human Stupidity".

Ele foi solto algumas semanas depois, em 20 de junho de 1941 após um alvará do Tribunal de Segurança Nacional — o mesmo que o havia prendido — que assinalava o decreto do indulto imposto por Getúlio Vargas três dias antes.


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