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Matérias / Brasil

Em 2010, general que censurou jornalista ao vivo disse que o ato não seria possível atualmente

Em dezembro de 1983, o então militar Newton Cruz exigiu que um jornalista 'calasse a boca' após uma pergunta sobre democracia

Redação Publicado em 22/06/2021, às 20h00 - Atualizado em 16/04/2022, às 20h39

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Newton Cruz durante entrevista com o jornalista Geneton Moraes - Divulgaçã/ Vídeo/ Hélder Leão/ TV Globo
Newton Cruz durante entrevista com o jornalista Geneton Moraes - Divulgaçã/ Vídeo/ Hélder Leão/ TV Globo

Newton Cruz faleceu na manhã deste sábado, 16, aos 97 anos de idade. A informação foi passada por parentes em entrevista ao portal de notícias G1.

Durante a Ditadura Militar, o general Newton Cruz censurou o jornalista Honório Dantas, da rádio Planalto. Na ocasião, Cruz era chefe da Agência Central do Serviço Nacional de Informações (SNI). 

Em 2010, contudo, o ex-militar afirmou que atitudes como a que ele teve não aconteceriam mais no futuro, referindo-se ao momento em que vivemos hoje.

O general durante entrevista com o jornalista Geneton Moraes / Crédito: Divulgaçã/ Vídeo/ Hélder Leão/ TV Globo

Uma conversa

No último dia 14 de junho, em homenagem aos 25 anos de GloboNews, o G1 lembrou da entrevista entre o jornalista Geneton Moraes Neto e o general Newton Cruz. Realizada em 2010, a conversa aconteceu, segundo o próprio veículo, “sem grandes rodeios”.

Isso porque, além de falar sobre acontecimentos que realmente marcaram o período do regime militar no Brasil, o jornalista não poupou palavras para questionar o general, que é um ex-integrante de alto posto da Ditadura Militar.

Logo no começo da entrevista, inclusive, Geneton perguntou se Cruz poderia ter feito alguma coisa para evitar um polêmico episódio ocorrido em 1981.

Trata-se do dia em que, insatisfeitos com a redemocratização do país, militares tentaram bombardear um encontro organizado por civis em homenagem ao Dia do Trabalhador, no Riocentro.

Fotografia do general Newton Cruz / Crédito: Coxinha Man/ Creative Commons/ Wikimedia Commons

O fatídico dia

Essa foi apenas uma das muitas perguntas feitas em uma hora de conversa. Mas foi apenas no final da entrevista que Geneton questionou Newton Cruz sobre o episódio em que o general exigiu que um jornalista calasse a boca, em dezembro de 1983.

Naquele dia, a PEC Dante de Oliveira acabara de ser reprovada — a proposta visava restabelecer as eleições diretas para a presidência. Em resposta ao acontecimento, o general convocou uma entrevista de imprensa para “prestar contas à nação”.

Eventualmente, após diversas críticas à imprensa, o jornalista Honório Dantas questionou Newton Cruz sobre a falta de democracia no país. Irritado, o general exigiu que o comunicador calasse a boca. Dantas, por sua vez, desligou seu gravador.

“Da minha parte, depois de ser empurrado pelo general Newton Cruz, me sinto muito honrado”, disse o jornalista em seguida. A frase serviu como um gatilho para o militar, que foi atrás de Dantas, o agrediu e fez com que ele pedisse desculpas em público.

Imagem do general falando com o jornalista / Crédito: Divulgação/ Youtube/ Poder360/ 2019

Paralelos

Não demorou muito até que o episódio se tornasse uma representação da repressão à imprensa e da censura durante o regime militar. Décadas mais tarde, o acontecimento ainda é lembrado por seus intensos significados.

Acontece que, durante sua entrevista com o general em 2010, Geneton Moraes  perguntou para Cruz qual seria a possibilidade de o Brasil passar por uma situação parecida com aquela — uma cena que voltou a ser amplamente repercutida nas redes sociais, depois da entrevista dada por Jair Bolsonaro.

Durante a conversa, Geneton ainda quis saber se o país poderia passar por episódios semelhantes à Ditadura, período em que jornalistas não podiam fazer perguntas como a que Honório fez. Em resposta, de acordo com o G1, “Cruz foi enfático”.

“Pensar hoje em dia em golpe é estupidez”, explicou o ex-militar, um dos mais temidos durante o regime militar. “Naquela época [em 1964] também era, mas não foi reconhecido como estupidez porque podia acontecer.”

“Agora é uma estupidez que não pode acontecer”, finalizou Newton Cruz. “O Brasil hoje vive uma democracia. Com os jornalistas que temos hoje, querer colocar mordaça nesses profissionais, não consegue nem com um pitbull na frente. Não põe, não adianta."