Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Matérias / Gal Costa

Em 2019, Gal Costa comparou álbum censurado pela ditadura com a repressão no Brasil atual

Falecida aos 77 anos nesta quarta-feira, 9, Gal Costa foi um dos mais importantes nomes da música brasileira

Redação Publicado em 09/11/2022, às 12h08

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Gal Costa durante apresentação - Teca Lamboglia
Gal Costa durante apresentação - Teca Lamboglia

Uma das mais importantes cantoras do Brasil faleceu aos 77 anos nesta quarta-feira, 9. Gal Costa teve seu óbito confirmado pela equipe para a Folha de S.P. Até o fechamento da matéria, a causa da morte não foi informada. 

Gal, que participaria do festival Primavera Sound no último final de semana, teve sua participação cancelada de última hora. Foi informado pela equipe que a artista se afastaria dos palcos até novembro para se recuperar da retirada de um nódulo.

Dona de um talento único e voz marcante, Gal se tornou um dos mais ilustres nomes da música popular brasileira e chegou a presenciar a censura durante a ditadura militar brasileira. Nos anos 1970, a capa do álbum 'Índia' não foi aprovada pelos 'censores' e teve de ser vendida num invólucro preto. 

A imagem que promovia o conteúdo do álbum na capa mostrava a artista trajando uma tanga vermelha, colares de contas através de um registro de Gal retirando sua saia indígena. Já a parte de trás do disco mostrava Gal com os seios expostos numa roupa indígena. Foi suficiente para irritar a ditadura, que promovia a censura ao redor do país.

Gal se pronuncia 

Em uma entrevista de 2019 ao Estadão, a cantora relembrou a censura a sua obra quando questionada sobre um episódio que chocou o país na época: a censura de uma HQ que trazia a imagem do beijo de dois homens na Bienal do Livro no Rio de Janeiro.

"Quando eu assisti pela televisão que o (prefeito Marcelo) Crivella tinha censurado o beijo de dois homens (no livro) na Bienal do Rio, que eu vi as pessoas falando que ele tinha permitido vender os livros num invólucro preto, me lembrei do (disco) Índia, porque com o 'Índia', que saiu nos anos 1970, foi assim. Meu disco tinha de ser vendido num invólucro preto, não tinha nada de mais", disse a artista. 

Gal disse que se assustou quando soube do episódio, assim fazendo um comparativo com o Brasil atual. 

"Tomei um susto, porque me veio essa lembrança, e aí achei uma coisa horrorosa, porque, com o governo federal que a gente tem hoje, a gente fica assustada com as declarações, com a maneira como as coisas são tratadas. A gente que viveu na época da ditadura tem medo que isso volte, está aí na atmosfera. Mas o povo brasileiro hoje está mais atento, tem mídias digitais, a gente sabe tudo o que está acontecendo na hora, e portanto a gente sabe que as pessoas se mobilizam em outros Estados. As instituições democráticas são mais consolidadas, fortes, a ditadura não vai se implantar", continou Gal. 

A artista também aproveitou para destacar que o governo deveria 'cuidar das pessoas pobres' e que um dia 'a gente vai chegar lá'. 

"A gente tem que ficar atento, não pode deixar isso acontecer, e o papel dos artistas neste momento é fundamental. O Brasil, a duras custas, conseguiu implantar uma democracia, que é a maneira mais correta de se viver, é onde há o respeito pelo outro, o respeito às diferenças. Você tem que respeitar o outro do jeito que ele é, então o mundo tem que ser assim, a vida tem que ser assim. Você não tem que ser igual ao outro, o outro não é igual a você. Você tem que saber conviver com isso. Se você não se identifica, é uma coisa, mas respeitar é outra. Defendo os direitos humanos, acho que o governo tem que cuidar das pessoas pobres, tanta gente miserável neste país. Acho que é complicado o Brasil, mas a gente vai chegar lá um dia."