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Matérias / Personagem

Emilie Pelzl: A esposa de Schindler também salvou judeus

Apesar de seu marido ter sido eternizado na obra de Spielberg, Emilie teve um papel tão fundamental quanto Oskar

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 18/12/2021, às 08h00 - Atualizado em 20/12/2021, às 14h00

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Emilie Schindler, esposa de Oskar Schindler - Erika Rosenberg via Wikimedia Commons
Emilie Schindler, esposa de Oskar Schindler - Erika Rosenberg via Wikimedia Commons

Segundo o ditado, por trás de um grande homem sempre existe uma grande mulher. Historicamente, porém, nem sempre é assim. Afinal, por mais que as mulheres possuam um papel importante na vida e feitos de seus maridos — isso sem contar os casos em que elas deveriam receber os principais louros —, o reconhecimento quase nunca paira sobre seus ombros.

Impulsionado por grandes produções, um ‘revisionismo’ cinematográfico da história acaba jogando pra debaixo do tapete a trajetória de inúmeras mulheres inspiradoras que deveriam ser exaltadas pela sociedade. 

Emilie Schindler/ Crédito: Erika Rosenberg

Um desses casos diz respeito à Emilie Schindler, esposa de Oskar Schindler, que foi eternizado pela obra de Steven Spielberg. Entretanto, o alemão que salvou centenas de judeus durante o Holocausto, ao empregá-los em sua fábrica de utensílio de cozinha na Polônia, teve em Emilie um pilar fundamental. 

O amor por Oskar

Nascida na aldeia de Alt Moletein, território autro-húngaro, em 22 de outubro de 1907, Emilie Pelzl teve uma infância muito ligada à natureza e aos animais, além de também ser interessada pelo estilo de vida dos ciganos, desde seus costumes nômades até a sua música e histórias, segundo afirma David M. Crowe em ‘Oskar Schindler: The Untold Account of His Life, Wartime Activities, and the True Story Behind the List’.

Em 1928, Pelzl conheceu Oskar Schindler quando ele visitou sua cidade para vender motores elétricos para seu pai. Após um namoro de seis semanas, os dois se casaram em 6 de março daquele ano. 

Apesar de seus defeitos, Oskar tinha um grande coração e estava sempre pronto para ajudar quem precisava. Ele era afável, gentil, extremamente generoso e caridoso, mas, ao mesmo tempo, nada maduro. Ele constantemente mentia e me enganava, e mais tarde voltava com pena, como um menino pego em uma travessura, pedindo para ser perdoado mais uma vez —  e então começaríamos tudo de novo”, relatou à Louis Bülow no livro ‘Emilie Schindler: An Unsung Heroine’.

Com o início da Guerra, em 1939, Oskar se juntou ao Partido Nazista e, junto de Emilie, se mudou para a Cracóvia. Na Polônia, Schindler ganhou a propriedade de uma fábrica de artigos esmaltados que entrou em falência. A companhia foi batizada de Deutsche Emaillewaren-Fabrik.

Emilie e Oskar na Cracóvia, em 1942/ Crédito: Erika Rosenberg

Segundo o artigo ‘The Real Oskar Schindler’, de Herbert Steinhouse, Oskar passou a empregar judeus em sua fábrica, pois a mão de obra deles era mais barata. No entanto, logo ele e Emilie perceberam as verdadeiras atrocidades que os nazistas preparavam para o povo. 

Em primeiro momento, Schindler passou a ‘salvá-los’ subornando guardas da SS. Posteriormente, ele passou a listar seus funcionários judeus como operários essenciais de sua fábrica — daí o nome do filme. 

Ao todo, mais de 1.200 judeus foram salvos dos campos de extermínio por conta da ‘Lista de Schindler’. Em maio de 1945, quandos os soviéticos ocuparam a região, os Schindler deixaram os judeus na fábrica e se esconderam, com medo de sofrerem alguma represália pelo fato de Oskar ter laços passados com o partido nazista. 

A vida na América do Sul e o reconhecimento de Emilie

Com isso, Emilie e Oskar se mudaram para a América do Sul, mais precisamente para a capital Buenos Aires, em 1949. Neste ponto, o casal já havia gasto todo seu dinheiro ajudando a salvar os judeus, conforme aponta matéria da Folha de S. Paulo. 

Segundo Crowe, eles se estabeleceram na Argentina como agricultores e recebiam o apoio financeiro de uma organização judaica. Em 1957, um falido Oskar Schindler decidiu abandonar sua esposa e voltou para a Alemanha. 

De acordo com Bruce Thompson em ‘Oskar Schindler (People Who Made History)’, embora os dois nunca tenham se divorciado, eles jamais voltaram a se ver novamente, visto que Oskar faleceu na Alemanha, em 1974. Nesses 16 anos, aliás, ele teve dois filhos com outra mulher. 

No clássico de Spielberg, lançado em 1993, o cineasta destacou apenas a figura de Oskar, descartando totalmente a importância de Emilie. Porém, sua história foi resgatada pela jornalista argentina Erika Rosenberg em 2006, quando publicou o livro ‘Ich, Emilie Schindler’  (ou ‘Eu, Emilie Schindler’, em tradução livre). 

Rosenberg manteve uma amizade de mais de uma década com Emilie, e decidiu retratar a vida da esposa de Schindler para cumprir um dos últimos desejos da viúva — que faleceu aos 93 anos, em 2001. 

Ela não estava à sombra de Oskar. Ela trabalhou do lado de Schindler. Esta é a verdade", relatou a jornalista durante uma viagem que fez à Berlim. 

Na obra, Erika não só ressalta a importância de Emilie para salvar centenas de judeus, como também aponta que ela foi uma ‘heroína autônoma’. O que explica-se por um episódio pouco conhecido. 

Emilie Schindler com mulheres que foram salvas por seu marido/ Crédito: Erika Rosenberg

De acordo com relatos da jornalista à equipe do site do Aventuras na História, Emilie salvou 120 judeus em janeiro de 1945, perto do fim do conflito. Segundo Erika, Emilie bateu de frente com um soldado nazista que estava levando os judeus para um campo de extermínio. 

"Aquela era a última parada deles antes dos campos de extermínio. Os soldados nazistas transportavam 120 pessoas. Era por volta de janeiro de 1945. O grupo já estava três semanas sem comer ou beber", expllica.

12 deles já haviam morrido congelados. Os restantes estavam irreconhecíveis, não se conseguia distinguir se eram homens ou mulheres. Eles estavam com as cabeças raspadas e extramemente magros. Pesavam cerca de 30 quilos cada e estavam mortos de fome", completa. 

"Emilie passou a alimentá-los. Ela salvou a vida de todos", completa Rosenberg. Na ocasião, recorda a jornalista, Oskar não estava em sua fábrica e a decisão coube inteiramente à Emilie

A importância de Emilie também é ressaltada por Bülow, que colheu os relatos do sobrevivente Maurice Markheim

“Ela comprou um caminhão inteiro de pão de algum lugar do mercado negro. Eles me chamaram para descarregar. Ela estava conversando com a SS e, pelo jeito como ela se virou e falou, eu poderia enfiar um pão debaixo da minha camisa. Eu vi que ela fez isso de propósito. Um pão naquele ponto era ouro ... Existe uma expressão antiga: ‘Atrás do homem, está a mulher’, e creio que ela foi um grande ser humano”.

Emilie morou na Argentina até pouco antes de morrer. Em julho de 2001, a viúva de Schindler visitou Berlim e declarou que seu “maior e último desejo” era passar o resto de sua vida no seu país. 

Na noite de 5 de outubro, semanas antes de completar 94 anos, ela faleceu no Hospital Märkisch-Oderland, em Strausberg, vítima de um derrame. Em sua lápide, no cemitério de Waldkraiburg , a cerca de uma hora de distância de Munique, foi eternizada a frase “Wer einen Menschen rettet, rettet die Ganze Welt” ("Quem salva uma vida, salva o mundo inteiro.").


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