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Matérias / Personagem

A emocionante história da primeira travesti a adotar crianças no Brasil

Reverenda em uma igreja de São Paulo, Alexya Salvador é mãe de três jovens, sendo que duas delas são meninas transexuais

Pamela Malva Publicado em 17/04/2021, às 10h00

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Fotografia de Alexya Salvador - Divulgação/Youtube/Renata Matarazzo
Fotografia de Alexya Salvador - Divulgação/Youtube/Renata Matarazzo

Em maio de 2020, o Brasil contava com mais de 34 mil crianças e adolescentes abrigados em instituições de acolhimento por todo o país, segundo dados do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento. Destas, apenas 5 mil estão prontas para a adoção.

Por outro lado, existem pouco mais de 36 mil adultos interessados em acolher uma criança na própria casa. Primeira reverenda transexual da América Latina, Alexya Salvador era uma dessas muitas pessoas na fila da adoção, em meados de 2015.

Naquele mesmo ano, trabalhando como coordenadora pedagógica, ela conseguiu a guarda de seu primeiro filho, tornando-se a primeira travesti a adotar uma criança legalmente no Brasil. Anos depois, ela ainda adotou outras duas crianças, ambas trans.

Fotografia de Alexya Salvador / Crédito: Divulgação/ABRAFH

Um sonho de infância

Filha de Dona Ana e do Seu Amadeu, Alexya nasceu em Mairiporã, região metropolitana de São Paulo, em novembro de 1980. Quando criança, sentia-se deslocada por não se encaixar nos padrões impostos para seu gênero biológico.

Além do típico bullying, ela ainda sofria com uma violência física muito mais agressiva. Em documentário produzido por Renata Matarazzo, a reverenda revelou que, quando estava no ensino fundamental, vivia com medo de ser espancada por outros alunos.

Em silêncio, no entanto, ela tinha o sonho de formar a própria família, ter seus próprios filhos. “Vim de uma família muito grande e, desde muito jovem, dizia que queria ter pelo menos três”, narrou Alexya, em reportagem publicada por ela mesma no UOL.

Alexya com seus dois primeiros filhos / Crédito: Divulgação/Youtube/Renata Matarazzo

Pioneirismo

Apesar das confusões e das dúvidas, Alexya cresceu e conquistou seu espaço. Aos 28 anos, a reverenda realizou a sua transição de gênero. No ano seguinte, casou-se com Roberto, o homem com quem dividia o desejo de formar uma família transafetiva.

“Em 2014, comecei a pesquisar histórias de mulheres trans ou travestis que tinham passado por um processo de adoção, e não encontrei nada”, lembrou. Curiosa, Alexya procurou a advogada Cecília Coimbra, especialista em adoção, que confirmou os dados: caso a reverenda adotasse uma criança, ela seria a primeira trans a fazê-lo no Brasil.

Pouco depois, decididos que entrariam na fila para acolher uma criança, Alexya e Roberto conheceram o pequeno Gabriel. Foi amor à primeira vista. O processo foi rapidamente aberto no Cadastro Nacional de Adoção, em 2015.

Dias de espera

Durante todo o processo, Alexya sentiu medo de sofrer algum tipo de preconceito. “Se eu falar que em algum momento eu fui tratada com preconceito ou violência de forma direta, estarei mentindo, mas sofri com o preconceito velado: olhares, desconfortos.”

Em outubro de 2015, o sonho finalmente virou realidade, quando Alexya e seu esposo colocaram as mãos nos papéis da adoção de Gabriel. Eles eram responsáveis legais pelo menino e, aos poucos, sua família estava tomando forma.

“Aquela foi a primeira vez que uma travesti saiu do fórum com seu marido e uma criança adotada por meios legais. Ali, eu me tornei mãe”, lembrou a reverenda, que ainda é vice-presidente da Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas (ABRAFH). “E detalhe: a juíza teve a sensibilidade de usar meu nome social nos documentos.”

Família transafetiva

Depois do primeiro filho, Alexya recebeu um dos telefonemas mais memoráveis da sua vida em agosto de 2016. Do outro lado da linha, Christiana Caribé, a juíza da Vara da Infância e Juventude de Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco, “ligou porque tinha uma criança com características de ser uma menina trans na comarca dela”.

Em duas semanas, a reverenda e seu marido viajaram para o estado e conheceram a garota através de chamadas de vídeo. Com o tempo, a criança começou a chamar Alexya de mãe e, em setembro, Ana Maria começou a fazer parte da família.

Outra surpresa veio em 2019, quando o telefone tocou mais uma vez. “Outra menina trans, de 7 anos, estava à espera de adoção em Santos, no litoral de São Paulo”, contou a reverenda. Em questão de uma semana, Alexya e Roberto foram presenteados com a guarda de Dayse, sua terceira filha.

Um amor sem fim

“Eu fui uma criança trans sem saber, sem ser identificada dessa forma”, pontuou Alexya, ainda na matéria publicada pelo UOL. “Por isso, meu trabalho é garantir que as minhas filhas não passem pelo que eu passei.”

Hoje aos 41 anos, a reverenda lamenta que seus três filhos tenham passado por abandono e violência, mas faz questão de lhes garantir uma “vida plena, sem medo”, principalmente frente ao latente preconceito contra pessoas trans no Brasil.

“A gente sabe que a maioria das meninas trans de 15 anos, como a Ana, não têm apoio da família e nem do estado, estão por aí, sozinhas, numa sociedade que quer nos ver mortas”, pontuou a reverenda. “Então eu digo às minhas filhas: ‘Vocês podem ser o que quiserem, mamãe e papai vão apoiar em tudo’.”


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