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Matérias / Harry Potter

25 anos do primeiro livro de 'Harry Potter': Data é marcada por comentários transfóbicos de J.K Rowling

No aniversário de 20 anos do primeiro filme da saga, fatos controversos mancham a imagem da autora

Pedro Paulo Furlan, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 11/12/2021, às 08h00 - Atualizado em 25/06/2022, às 07h00

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J.K. Rowling ao lado de um exemplar de 'Harry Potter' - Getty Images
J.K. Rowling ao lado de um exemplar de 'Harry Potter' - Getty Images

1995 foi o ano em que Joanne Rowling, mais conhecida como J.K. Rowling, finalizou o manuscrito para seu romance “Harry Potter e a Pedra Filosofal”, que foi oficialmente publicado dois anos depois, em 1997. O livro tornou-se um grande sucesso comercial e entre os críticos literários, ganhando diversos prêmios.

Até 2007, Rowling continuou publicando a saga do ‘menino bruxo’, que foi finalizada com o sétimo livro “Harry Potter e as Relíquias da Morte”. 2001 viu uma popularidade ainda maior para a saga, com sua primeira adaptação cinematográfica — com todas estas vendas e produtos, J.K. Rowling rapidamente tornou-se uma pessoa muito influente.

No entanto, Rowling tem seu legado agora marcado pela transfobia, tipo de discriminação apontada por internautas, em tweets, artigos e entrevistas de J.K. Rowling

Mas, o que exatamente J.K. Rowling falou?

As ‘acusações’ de J.K. Rowling

Rowling no lançamento do filme "Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald" - Créditos: Getty Images

Para compreender totalmente este caso, todos precisam conhecer um outro nome: Maya Forstater. Pesquisadora e feminista radical, Forstater, que na época trabalhava com a organização Centro para o Desenvolvimento Global (CGD), começou a publicar diversos tweets em que expressava suas opiniões.

“Eu acredito que é impossível que mudemos de sexo ou percamos nosso sexo. Garotas crescem e se tornam mulheres. Garotos crescem e se tornam homens. [...] nenhuma declaração pode transformar uma pessoa fêmea em macho, ou uma pessoa macho em fêmea”, escreve em um deles.

Relacionada a diversas causas sociais, inclusive a de pessoas trans, a CGD começou a investigar estas publicações no fim de 2018 e, quando o contrato de Forstater com a organização encerrou-se, decidiram não renová-lo. Porém, alterando o que realmente aconteceu, a pesquisadora processou a CGD, dizendo que havia sido demitida.

Ao observar esta situação e suposta injustiça, J.K. Rowling decidiu defender Maya Forstater em sua conta no Twitter, afirmando que é uma ofensa a mulheres cis terem forçado Forstater a deixar seu emprego, o que, como explicado acima, não foi o que aconteceu.

“Vista-se como quiser. Chame a si mesmo do que quiser. Durma com qualquer adulto que te aceitar. Viva sua melhor vida em paz e segurança. Mas forçar mulheres a deixarem seus empregos por terem afirmado que o sexo [biológico] é real?”, a autora opinou.

Mesmo já tendo curtido Tweets que apresentavam declarações com tons de transfobia, inclusive uma que comparava mulheres trans a homens de vestido, o caso de Maya Forstater foi o que mais trouxe repercussão a J.K. Rowling, inclusive de seus colegas de trabalho, como Daniel Radcliffe, o Harry Potter, no entanto, as críticas acalmaram depois de um tempo.

"Mulheres trans são mulheres. A todos aqueles que agora sentem que sua experiência com os livros foi manchada ou diminuída, sinto profundamente pela dor que esses comentários causaram", escreveu Radcliffe.

Até que, em 2019, a criadora de “Harry Potter” decidiu expressar-se contrária ao termo ‘pessoas que menstruam’, que, por sua vez, é usado no campo médico para se referir também a homens trans e pessoas não-binárias que também sangram.

"'Pessoas que menstruam'? Acho que já temos uma palavra para isto. Alguém me ajude. Wumben? Wimpund? Woomud? [referindo-se ao termo inglês para mulheres, 'women']", tweetou.

Segundo Rowling, ‘mulheres’ já era o nome para este tipo de pessoas e fez piada com o conceito. O efeito de suas declarações começou a tornar-se mais intenso, com mais pessoas percebendo a face de Rowling e iniciando uma discussão sobre desconectar a obra de seu autor.

Em julho de 2020, J.K. Rowling publicou, em seu site oficial, um artigo intitulado “J.K. Rowling escreve sobre suas razões por posicionar-se sobre a questão de Sexo e Gênero”, na qual defendeu suas posições e afirmou que a reação às suas declarações era baseada em abuso a mulheres e uma tentativa do patriarcado de a calar.

A reação à autora

Pensadora e mulher trans Natalie Wynn em seu vídeo "J.K. Rowling" - Créditos: Divulgação / Youtube (Contrapoints)

Após a criadora do ‘menino bruxo’ fazer estas declarações, inúmeras pessoas e ativistas trans tentaram contato com J.K. Rowling, propondo debates e ensinamentos, os quais a autora rejeitou e generalizou toda a reação a isto como ‘cultura do cancelamento’, vontade de silenciá-la e ódio gratuito.

No entanto, muitas conversas sobre suas declarações relacionadas à comunidade trans já estavam acontecendo. Em seu vídeo “J.K. Rowling”, a pensadora e youtuber trans Natalie Wynn, ou Contrapoints, explica o quão errado é a conexão feita por J.K. entre a experiência trans e o conceito de sexo biológico.

“Nenhuma pessoa trans acredita que é possível mudar o sexo cromossômico e argumentar o contrário é um argumento de má-fé. Quando dizemos que alguém é um homem trans ou uma mulher trans, estamos falando de identidade psicológica e social”, aponta. 

No Brasil, mais de 80 pessoas trans foram assassinadas no primeiro semestre de 2021 e declarações mal-informadas, ou somente preconceituosas, como as de Rowling, podem aumentar ainda mais a perseguição a pessoas trans. Especialmente pois, inúmeras vezes, por trás de falas como ‘sexo é real’ existe grande descriminação, como Wynn afirma.

“Quando dizem que ‘sexo é real’, querem dizer que somente sexo cromossômico importa, querem dizer que não acreditam na identidade trans, que chamam de ‘fantasia’. [...] O que Joanne [Rowling] está fazendo é menosprezar o que realmente significa ser trans, reduzindo a experiência a uma mudança de roupa e nome”.

Além de não compreender por completo as falas e a situação de Maya Forstater e espalhar uma narrativa ofensiva, Rowling perpetua afirmações sobre pessoas trans que são, junto a suas falas, somente declarações errôneas que já foram extensamente pesquisadas por cientistas — fora que contradizem a vivência da comunidade trans.